CÍNTIA MOSCOVICH
Os cachorrinhos judeus
Na quarta-feira passada, 22, na sede da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, foi exibido a um grupo de jornalistas o documentário que compila imagens das atrocidades cometidas pelos terroristas do Hamas durante os ataques do dia 7 de outubro em Israel. Esses vídeos, encontrados nos celulares e câmeras corporais dos ativistas, nos sistemas de segurança de comunidades e nas mídias sociais, resultam num filme de 43 minutos, cujas cenas são os registros mais cruéis, bárbaros e violentos desde aqueles obtidos no Holocausto.
Várias vezes muitos de nós da plateia viramos o rosto à tela, porque o que assistíamos não tem nome e não cabe dentro do mundo. Entre as imagens que nos foram apresentadas - degolas de pessoas, pais mortos diante dos filhos, bebês carbonizados, corpos sem cabeça, violação de cadáveres, membros decepados, mulheres seviciadas, idosos assassinados e rios literais de sangue -, me fizeram nausear (ainda mais) duas cenas em especial.
Uma delas mostra um cachorrinho que, inadvertidamente, tenta fazer festa a um terrorista e, como se fosse uma reação lógica do homem, é baleado uma vez; ganindo de sofrimento e com os olhos de pavor, tenta erguer-se, mas a reação do terrorista é apertar o gatilho mais duas vezes, até que o animalzinho tomba morto. A segunda imagem, desoladora e estática, mostra outro cachorro, deitado de lado, já sobre uma abundante poça de sangue, com o ventre mortalmente ferido.
A pergunta, que se soma à repulsa e ao horror, é: como alguém pode matar uma criatura que guarda, no olhar crédulo e no rabo feliz, a mais solar e encantadora alegria que pode existir? Pior: quem é capaz de chamar esse assassinato de "resistência"?
Matar o direito à existência e à alegria é, afinal, o que pretendem esses agentes do terror, intenção que compartilham com todos aqueles que têm revivido o ódio aos judeus, muitas vezes disfarçando-o das melhores intenções, sem que nunca o ódio deixe de ser ódio e perversão. Por isso, é chocante e mesmo insuportável viver na mesma fatia de tempo e de história em que vivem esses ditos ativistas e seus apoiadores.
O antissemitismo, que compactua com essa abominação e que agora virou valor em moda, se alimenta da mesma fonte de podridão, neutralizando o valor das vidas judias, cercando-as do preconceito mais essencial e rançoso. As vidas judias e israelitas passaram a não importar, e a ideia de compartilhar a terra e viver em paz não agrada aos terroristas. Eles têm que matar. Matam tanto e tudo que matam até os cachorrinhos judeus.
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