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segunda-feira, 20 de novembro de 2023
OS AVISOS DO CLIMA
Os sinais estão por toda parte. Os brasileiros que o digam. No país, foram poucos os pontos que nos últimos dias não experimentaram extremos do clima. Uma seca inclemente atinge a região Norte. Amazônia e Pantanal sofrem com grande número de queimadas, que sufocam cidades com a fumaça. Sudeste e Centro-Oeste ardem em ondas de calor de intensidade rara. No interior de São Paulo, nuvens de poeira assustam populações. No Sul, as chuvaradas e enchentes causam destruição e mortes. Em poucos meses, o Estado passou de mais uma estiagem de grandes proporções para um período de precipitações excessivas e tempestades devastadoras, que deixaram dezenas de vítimas fatais.
Mesmo que o fenômeno El Niño agora fortaleça os eventos climáticos, cientistas vêm advertindo que o aquecimento global, potencializado por ações e omissões do homem, é o pano de fundo das manifestações de fúria da natureza. Vinculada à ONU, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou na última quarta-feira que a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, responsáveis pela aceleração das mudanças climáticas, bateu recorde em 2022. Mais grave ainda: a tendência é de permanecer em alta, sem qualquer indicativo de reversão. Os custos, como os gaúchos bem sabem, não são apenas ambientais, mas sociais, econômicos e contados em vidas.
É aflitivo constatar que, a despeito de décadas de avisos da comunidade científica, a humanidade se mostra incapaz de parar de contribuir para a deterioração das condições de habitar o planeta. Sequer se trata de condenar negacionistas. Mesmo governantes que se apresentam conscientes da gravidade do quadro e dizem estar preocupados mostram-se pouco efetivos. A meta do Acordo de Paris, estabelecida em 2015, seria de limitar o aumento da temperatura da Terra em menos de 2°C ante o período pré-industrial. Idealmente, em até 1,5°C. A OMM, no entanto, deixou claro que, considerando-se as circunstâncias atuais, os termômetros não respeitarão esses limites até o final do século. Cientistas do observatório europeu Copernicus confirmaram no início do mês: 2023 deve ser o mais febril dos últimos 125 mil anos.
É neste contexto de necessidade de ação urgente que líderes mundiais voltam a se reunir na COP28, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O desafio do encontro será ir além dos apelos e discursos para ingressar em uma fase mais concreta de implementação de políticas capazes de acelerar a busca pela mitigação do aquecimento global.
O cenário político, porém, é bem mais complexo. Se em 2015, quando foi firmado o Acordo de Paris, existia ao menos uma predominante boa vontade quanto ao engajamento nas metas, hoje o mundo atravessa período de maior fragmentação, guerras e dificuldade de costurar consensos. O multilateralismo já teve dias melhores.
O fato é que os sinais a demonstrar o agravamento da escalada das temperaturas são cada vez mais gritantes. Escancaram a premência de agir. Mesmo que exista certa desconfiança em relação à capacidade de produzir convergências, será um avanço se os líderes concordarem em dar mais velocidade à transição energética, substituindo combustíveis fósseis por fontes renováveis, e se, em especial, as nações ricas enfim materializem a promessa de auxiliar financeiramente os países pobres nessa transformação e na preservação do ambiente e da biodiversidade.
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