quarta-feira, 1 de março de 2023


"gratidão pelo que o esporte me proporcionou"

MARIA PORTELA Ex-judoca da Sogipa

Uma das principais judocas do país na última década, a gaúcha Maria Portela, 35 anos, decidiu trocar de ares. Não, ela não está deixando a Sogipa, mas sim pendurando o quimono. A partir de agora, a Raçudinha dos Pampas vai encarar novos desafios, sempre com a coragem e a determinação que a levaram a conquistar duas medalhas de bronze nos Jogos Pan-Americanos, dois títulos do Campeonato Pan-Americano, a medalha de ouro no World Masters e mais de uma dezena de pódios em diversas competições internacionais, incluindo o bicampeonato do Campeonato Mundial Militar.

- Eu quero contar que chegou o momento de dizer tchau para as competições internacionais. - disse a judoca nascida em Júlio de Castilhos e que cresceu em Santa Maria, de onde saiu para ganhar o mundo e participar de três edições dos Jogos Olímpicos.

Maria Portela recebeu os veículos do Grupo RBS, na última segunda-feira, na Sogipa, para falar sobre essa decisão e participar do seu último treinamento oficial com a equipe. O técnico Antônio Carlos Pereira e a tricampeã mundial e dona de três bronzes olímpicos, Mayra Aguiar, eram os mais emocionados na despedida.

Como está a sua cabeça hoje, com a decisão pela aposentadoria no judô?

Já esteve pior. Hoje estou mais tranquila, segura dessa decisão, estou muito feliz, de olhar toda minha trajetória e perceber tudo que foi construído, o legado que deixo nessa categoria (até 70 kg) e fico muito tranquila que me doei 100%, tudo que esteve ao meu alcance eu fiz. Isso me traz segurança, tranquilidade de encerrar. Uma gratidão gigante de tudo que o esporte me proporcionou, as pessoas ao meu redor, que estiveram em cima e fora do dojô, aqueles que torceram, me apoiaram, me incentivaram, a Sogipa, a Confederação (Brasileira de Judô), o governo federal através do Bolsa Atleta.

E qual será o caminho profissional agora?

Como eu vou fazer isso ainda não sei, mas vislumbro trabalhar como treinadora. Eu estou trabalhando num projeto, porque a questão mental sempre foi muito importante pra mim e foi algo que quando eu comecei a trabalhar fez uma grande virada nos meus resultados. Eu estou trabalhando numa mentoria, ainda estou montando isso e também estou estudando para fazer processo de coaching. Existe um caminho, agora é estudar bastante. É usar uma faixa branca novamente, são muitos anos usando uma faixa preta, mas é botar a faixa branca e aprender, e estou aberta para isso.

Vai seguir em Porto Alegre, na Sogipa?

A princípio, sim, sou gaúcha. Eu não quero me afastar da minha família nesse momento, apesar de eles morarem em Santa Maria. Eu pretendo continuar aqui. Ainda não tenho nada certo, mas estou estudando. Mas se me perguntar se eu gostaria de trabalhar aqui na Sogipa, com certeza, mas não tenho essa proposta ainda. Eu tenho que agradecer demais esse clube que me abraçou, quando ninguém acreditava em mim. São 12 anos de Sogipa. Minhas três Olimpíadas foram aqui e seria o ideal continuar.

Um ex-jogador de futebol argentino, Alfredo Di Stéfano, que faleceu em 2014, quando se aposentou, disse "Gracias, vieja" (obrigado, velha), em português, referindo-se à bola. O que você diria para o Dojô?

Eu poderia dizer que aprendi muito aqui, com as pessoas que passaram por aqui. Eu vivi alguns ciclos aqui e foi renovando os atletas e eu continuava aqui. Eu aprendi muito com os treinadores, a parceria de todos, o trabalho em equipe. E se eu pudesse escrever uma frase aqui seria: "verás que um filho teu não foge à luta", assim como tenho tatuado, porque é o que eu acredito.

Qual o principal momento da sua carreira?

É muita coisa para escolher um. Vou escolher uma Olimpíada, a mais marcante foi a última mesmo (Tóquio 2021). O que vivi lá foi surreal. Em Londres, eu tive grande aprendizado, mas era pesado. Em Tóquio foi diferente. E um momento muito marcante foi uma medalha em Tóquio 2015, meu bronze no Grand Slam, uma competição muito tradicional, e foi ali que conquistei minha classificação para o Rio 2016 e eu me lembro que estávamos eu mais três japonesas (no pódio), isso foi muito especial, porque o Japão é o berço do nosso esporte e eu estar com as japonesas foi muito marcante para mim.

E o mais difícil?

Eu acredito que foi Londres. Porque eu quase desisti de tudo lá. Porque deu um branco, foi uma questão que eu não trabalhei o psicológico e foi a mais doída.

 ANDRÉ SILVA CAMILA BARBIERI 

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