terça-feira, 5 de maio de 2015


05 de maio de 2015 | N° 18153
LUÍS AUGUSTO FISCHER

CERCA E CRIACIONISMO

Por sugestão da Maria da Graça Rodrigues, entro num assunto que me parece uma cortina de fumaça, mais produção de espuma inócua, numa época que exigiria concentração em temas de real importância – o cercamento da Redenção. Ela acha, como eu, um desperdício de dinheiro, mas sugeriu que eu desse alguma notícia do que acontece cá na França.

Bem, é preciso dizer que há parques cercados, sim. O Jardim de Luxemburgo e o Parque Monceau, duas joias parisienses, vivem atrás de grades. Há as pracinhas de bairro, que têm uma cerca de um metro de altura e portão sem tranca, apenas e tão somente para evitar que entrem cachorros. E há grandes espaços verdes totalmente abertos, como o Campo de Marte, diante da famosa torre Eiffel. Assim varia também a coisa em outros países europeus. Qual será o caso da Redenção (que nem em pesadelo eu penso como “Parque Farroupilha”)?

Tenho a impressão de que historicamente ela faz uma síntese entre o que na França é um parque controlado, com jardins, lagos e recantos, e um espaço verde aberto, lugar de passagem e festa pública. O eixo central da Redenção é um espaço aberto, uma esplanada; mas o entorno do lago e os recantos ali da vizinhança do Araújo estão mais para um desses parques gradeados, com entrada e saída em horários fechados.

Dito isso, peço licença para mencionar meu espanto diante do projeto de lei de uma deputada, que ocorre ser do PSB, partido que em outros momentos deu orgulho a gente como eu. Ela se chama Liziane Bayer e apresentou projeto de lei para tornar obrigatório o ensino do chamado Criacionismo nas escolas gaúchas. Nada descreve meu estupor ao saber disso.


Até o papa Francisco, num momento de grande lucidez, já observou em público que Darwin não é incompatível com Deus. Mas esta deputada parece desejar nos arrastar para um poço de irracionalidade, só comparável, no Ocidente, ao de certos grotões caipiras do meio-oeste estadunidense. Não confio muito no nível do debate possível na nossa Assembleia, mas, que fazer, espero muito que não prospere esse projeto regressivo, anticientífico, obscurantista.

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