quinta-feira, 5 de setembro de 2024



05 de Setembro de 2024
EDITORIAL

Pela retomada da confiança

Disposição para recomeçar não falta à população do Vale do Taquari, uma das regiões mais importantes economicamente e mais prósperas do Rio Grande do Sul, com um setor primário altamente produtivo e indústrias e cooperativas tradicionais ligadas ao agronegócio. Mas tamanha destruição exige mais do que bravura dos habitantes dos municípios mais afetados e dos empreendedores locais para a reconstrução lograr êxito. O suporte do poder público, do governo federal em primeiro lugar e em seguida do estadual, é basilar. Os compromissos têm de ser honrados.

Essa é uma preocupação bem ilustrada no tema habitacional. Nenhuma moradia definitiva anunciada pelos governos federal e estadual após a enchente de setembro foi entregue até agora. O Estado finalizou apenas 58 casas provisórias. Não é aceitável a existência de flagelados da cheia de um ano atrás ainda vivendo em abrigos. Sabe-se que erguer residências definitivas não é rápido pela necessidade de as prefeituras encontrarem terrenos em áreas seguras, pelos trâmites de desapropriação e licenciamento, pela construção da infraestrutura e dos imóveis. 

Ainda assim, é absurdo não existir prazo firme para a entrega de domicílios definitivos. Os municípios, com equipes técnicas diminutas, deveriam ter o apoio dos demais entes para avançar de forma mais ágil em todas as fases burocráticas e de elaboração de projetos.

Deve-se acompanhar e cobrar o cumprimento das promessas de auxílio ao Vale do Taquari. Não apenas no tema habitacional, mas na recomposição de estradas e pontes e no financiamento adequado para as empresas retomarem operações. Nada pode cair no esquecimento. Por trás dos grandes números da tragédia estão pessoas que, além de perdas materiais, carregam feridas em sua dignidade e a saúde mental abalada, como relata na edição de hoje de Zero Hora o repórter Fábio Schaffner, que foi a Muçum para contar como está a cidade um ano depois do início do ciclo destruidor de enchentes.

Das 54 vítimas fatais da cheia de setembro de 2023, 18 eram de Muçum, onde 80% da área urbana foi varrida pela correnteza. Doze meses depois, 20% das empresas fecharam as portas e 21% dos moradores deixaram a cidade. É preciso estancar o êxodo não apenas em Muçum, mas em outras cidades da região, por meio do apoio à recuperação do tecido econômico e de medidas que preparem os municípios para enfrentar novos eventos climáticos extremos. A população local merece ter devolvidas a esperança e a confiança de viver e trabalhar no Vale do Taquari. 

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