Voto unânime atiça apostas sobre nova presidência do BC
O que seria uma reunião tranquila do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), dado o consenso de que o juro seria mantido, virou alvo de especulações. O motivo foi a dura crítica feita na véspera pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Roberto Campos Neto, presidente do BC.
A maior curiosidade, enquanto se esperava o comunicado, era se haveria unanimidade e, acima de tudo, qual seria o voto de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária e virtual substituto de Campos Neto.
E houve unanimidade, o que significa que Galípolo votou a favor da manutenção, assim como os outros três diretores do BC já indicados por Lula. A expectativa de que o comunicado trouxesse sinal à frente foi frustrada.
"O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela."
Nenhuma pista sobre os próximos movimentos, que terão de ser perseguidas na ata da reunião, que será publicada na próxima terça-feira.
No mercado, a especulação era se Galípolo teria conforto em se alinhar a Campos Neto depois que Lula havia afirmado que o BC é "a única coisa desajustada" na economia. Como o presidente afirmou que escolheria, para a presidência do BC, um profissional "maduro" e "calejado", havia a questão de idade - Galipolo tem 42 anos. Agora, ainda pode haver o obstáculo da falta de alinhamento.
O voto unânime vai acentuar as especulações sobre concorrentes ao cargo, como André Lara Resende, um dos "pais" do Plano Real, e Luiz Awazu, ex-diretor do BC que também foi vice-gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), "o BC dos BCs". No mercado, também foi citado o atual diretor de Assuntos Internacionais, Paulo Picchetti, mas quem o conhece avalia que ele não assumiria o cargo se a condição for baixar juro sem condição real.
Gaúcho de Erechim, Celso Pansera preside a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), mais conhecida pela sigla do que pelo nome completo, por seu papel de apoiar o desenvolvimento da inovação. Amanhã, Pansera virá ao Estado com a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciar apoio ao segmento. À coluna, antecipou alguns pontos. Pansera também é presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).
Como a Finep pode ajudar?
Na semana seguinte ao desastre, a Finep já adotou a primeira medida. Adiamos em 12 meses o prazo de vencimento das parcelas de cerca de 400 empresas gaúchas que têm financiamento com nossos fundos. É para todas as impactadas pela enchente. Cerca de R$ 465 milhões que venceriam nos próximos 12 meses ficarão nas empresas. Os vencimentos de maio foram todos cancelados, mesmo sem a empresa pedir.
Há novas linhas?
Aprovamos há poucas semanas R$ 1,6 bilhão para recuperação da infraestrutura de empresas inovadoras. É destinada a empresas incubadas em universidades ou parques tecnológicos, com patentes depositadas, que acessam a Lei de Informática ou já tomaram recursos com a Finep nos últimos 10 anos. Enfim, para as que têm histórico de inovação.
Qual é o custo?
Juro de 1,7% ao ano, com remuneração ao banco (spread) de 5% ao ano. É ainda muito barato.
Como será o acesso?
Por BRDE, Badesul, Banrisul e bancos cooperativos no Estado. As empresas devem procurá-los, apresentar a demanda, o banco aprova, e a gente libera o recurso.
Já está em operação?
Sim, devemos assinar os primeiros contratos na sexta-feira. Há ao menos três prontos, outros podem ser concluídos até lá. A Finep investiu cerca de R$ 3 bilhões nos últimos anos no Estado.
Pode haver outro apoio?
Se houver demanda maior do que os recursos disponíveis, vamos buscar mais. O Estado avançou muito nos últimos anos. A infraestrutura científica do RS é uma das melhores do Brasil. Os parques tecnológicos acessam nossos recursos. Fizemos desembolsos de cerca de R$ 60 milhões para Furg, federais de Pelotas e de Passo Fundo e Tecnopuc. Esse fluxo vai continuar. A ministra vai fazer anúncios de infraestrutura científica, que não posso antecipar. Vamos ajudar a recuperar a capacidade de inovação do RS.
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