14 DE JUNHO DE 2024
OPINIÃO DA RBS
DIGNIDADE E FUTURO
Costuma ser dito que a escola é uma espécie de segunda casa para crianças e adolescentes. Neste momento, milhares de estudantes no Estado sequer têm o primeiro lar. Nas regiões mais atingidas pela enchente de maio, também milhares de residências foram danificadas ou arrasadas por completo pela força da água. Essas áreas, da mesma forma, concentram grande parte das instituições de ensino alagadas e avariadas. Muitas ainda não voltaram a abrir as portas.
O reerguimento pleno do Rio Grande do Sul passa por soluções efetivas e céleres nas dimensões da habitação e da educação. É preciso devolver dignidade às famílias que perderam suas casas. A promessa dos governos federal e estadual de beneficiar os atingidos com moradias definitivas - em locais seguros - deve ser acompanhada de perto pela sociedade, para que seja cumprida em prazo aceitável. Caso contrário, seria uma negligência capaz de dar origem a uma crise social grave. Da mesma forma, aguarda-se agilidade para reabrir e reequipar essas escolas, local onde crianças e adolescentes têm a chance de sonhar com um futuro melhor por meio da absorção de conhecimento.
Apenas na rede estadual de ensino, o painel do governo gaúcho criado para se acompanhar a situação dos educandários apontava ontem à tarde 62 escolas fechadas, sendo 40 sem qualquer previsão de retorno. Grande parte fica na Região Metropolitana. Dos 2,3 mil colégios administrados pelo Estado, 144 sofreram danos significativos e precisam de reformas ou foram destruídos. Cerca de 55 mil alunos estudam nas instituições mais afetadas. A enchente arrasou 138 bibliotecas.
O mais recente balanço da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, de segunda-feira, indicava a existência de 16 mil pessoas em abrigos e outras 422 mil desalojadas. É natural que a entrega de casas definitivas não consiga ser feita no tempo desejado pelas famílias à espera de um novo teto. Assim, ainda será necessário, por algumas semanas, manter a mobilização para continuar a assegurar condições mínimas às pessoas que estão nestes pontos, montados às pressas logo após o início das cheias.
Em seguida, será importante contar com as residências temporárias, como as prometidas pelo Palácio Piratini, assim como com os cinco Centros Humanitários de Acolhimento (CHAs), previstos para serem erguidos na Região Metropolitana. Com apoio de agências da Organização das Nações Unidas (ONU), receberão até 3,8 mil pessoas.
Não devem ser poupados esforços para que estes locais, de fato, sejam transitórios. O governo federal se comprometeu com 14 mil moradias definitivas, e o Estado, com 5 mil. Construir casas novas não é banal. Passa por processos demorados como encontrar terreno, liberação de licenças necessárias e instalação de infraestrutura mínima, como redes de energia e de saneamento.
O plano federal prevê priorizar imóveis prontos, que seriam adquiridos para dar mais velocidade à entrega das habitações permanentes. Na segunda-feira, o ministro da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do RS, Paulo Pimenta, projetou encerrar a semana com 2 mil unidades adquiridas na Região Metropolitana. Ainda não há confirmação se o objetivo foi atingido.
Na área do ensino, foi deflagrada na segunda-feira ação da Secretaria da Educação do Estado para ajudar alunos de famílias carentes que perderam o material escolar durante as enchentes. A campanha Mochila Cheia pretende contar com a mobilização da sociedade civil para montar até 100 mil kits de itens básicos com cadernos, lápis, canetas, réguas e estojos, entre vários outros. A meta estabelecida dá a dimensão do número de alunos necessitados. A escola não é apenas o local de aprendizagem, mas de acolhimento após um período traumático, que para milhares de famílias inclui o abalo da perda do primeiro lar.
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