segunda-feira, 17 de junho de 2024


17 DE JUNHO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

INSISTÊNCIA NO EQUÍVOCO

Ainda há tempo de o governo federal reanalisar o mercado e, com base nos fatos e dados, abandonar a ideia de importar arroz, com a alegada intenção de evitar a especulação de preços. Mesmo após a sequência de avaliações equivocadas e trapalhadas que levou ao cancelamento do certame realizado no último dia 6, por suspeita de fraude e incapacidade técnica e financeira das empresas vencedoras do leilão público, o Ministério da Agricultura insiste em uma nova operação capitaneada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A própria pasta admite a inexistência de perigo de desabastecimento de um dos alimentos mais tradicionais do prato dos brasileiros, cuja produção é 70% concentrada no Rio Grande do Sul. Mas segue sustentando que a compra teria o objetivo de frear abusos. É verdade que, logo após o início das cheias no Estado, a boataria fez os preços subirem bruscamente por um suposto risco de falta do produto devido a perdas nas lavouras. Levantamentos posteriores de órgãos competentes mostraram que a quebra foi mínima. Assim, a alta de preços, alimentada por uma corrida aos supermercados, começou em seguida a se reverter.

Inflação oficial do país, o IPCA mostrou, em maio, uma elevação de 1,47% dos preços do arroz ao consumidor. É uma variação bem distante de uma disparada. Ademais, em abril houve queda de 1,93% e, em março, de 0,9%. Conclui-se que os brasileiros, no final de maio, na média, não estavam pagando mais pelo cereal do que antes das enchentes.

Também é verdadeiro que, devido à desinformação espalhada por irresponsáveis, os valores pagos aos produtores subiram. Em 2 de maio, a saca de 50 quilos do arroz em casca era comercializada por R$ 106. No dia 22, chegou ao pico de R$ 122. Desde então, só cai. Na última quinta-feira, a cotação era de R$ 112. Os dados são do acompanhamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).

A despeito de o movimento mais recente de preços ser de acomodação, deve-se reconhecer que o arroz não está barato para os brasileiros. Em 12 meses, mostra o IPCA, a alta acumulada é de 26,76%. É o resultado de fatores internacionais, como restrições a exportações em outros países, e da queda da área plantada, em especial no Rio Grande do Sul, ao longo de anos anteriores, devido a sucessivos prejuízos dos produtores com a cultura. 

As cotações mais atrativas a partir do segundo semestre de 2023 fizeram os agricultores gaúchos aumentarem a área na safra 2023/2024. Por problemas climáticos diversos, não apenas a cheia de maio, o volume colhido não foi o esperado. Mesmo assim, conforme a própria Conab, a safra nacional de arroz deve ser de 10,4 milhões de toneladas, 3,6% superior ao ciclo anterior.

O atabalhoamento do governo começou no dia 10 de maio, com a publicação de uma medida provisória para autorizar a importação estatal de até 1 milhão de toneladas. O primeiro lote seria de 300 mil toneladas e o produto seria vendido, no máximo, a R$ 4 o quilo, com embalagens com a logomarca da Conab e o dizer "Arroz adquirido pelo governo federal". Além da propaganda inadequada, o tabelamento seria uma interferência capaz de deprimir o mercado para os produtores, voltando a desestimular o interesse na cultura. 

Assim, a médio prazo, volta o risco de o país ter safras menores, com preços mais altos como consequência. O mais sensato é aguardar o movimento natural das cotações para se ter uma visão mais clara do mercado. Se o Planalto quer assegurar arroz a valores acessíveis, o mais prudente é não desincentivar o plantio.

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