15 DE JUNHO DE 2024
CARPINEJAR
O gigante acorda
Não tem como não ficar emocionado com a rapidez das obras de reconstrução do Beira-Rio. O arrepio se espalha, como lufadas do minuano, da grama verde até os braços dos torcedores mais empedernidos.
O prazo era para fim de setembro, depois encurtou para o encerramento de agosto, agora já temos a previsão de retomada em início de julho. Falta apenas uma quinzena pela frente para a torcida colorada reencontrar o seu estádio e matar a saudade das ruas de fogo.
O empenho épico do presidente Alessandro Barcellos para ter a sua casa devolvida deve servir de exemplo para o aeroporto, comandado por concessionária, e para a estatal Trensurb, na recuperação das estações de Canoas ao centro da Capital.
É o impossível realizado sem desculpas, sem compaixão, sem choradeira de recursos. É fazer primeiro, para depois correr atrás da conta.
Cerca de 600 funcionários trabalharam em quatro turnos para replantar o gramado, recuperar instalações de água e luz, reformar vestiários, salas de entrevista, museu e corredores. Foram várias etapas de desinfecção, limpeza, pintura, correção dos sistemas de catracas eletrônicas.
As marcas da calamidade não se apagaram, estão lá para provar que o ressurgimento precoce não é ficção, que a restituição do estádio em tempo tão estreito e recorde, um mês depois da enchente que atingiu 46 bairros de Porto Alegre, não é loucura.
É um título moral, anímico, uma reversão inacreditável de resultado e de placar. Inter vira a partida sobre o maior desastre ambiental da história gaúcha. Outros títulos virão com idêntica garra e tenacidade.
Ninguém esperava. Nunca houve um recomeço de tal magnitude, considerando a gravidade dos estragos. O volume das águas no campo atingiu 80 centímetros. Os bancos e casamatas boiaram. O Guaíba chegou ao segundo degrau das arquibancadas, ameaçando as minhas cadeiras.
Como os vestiários são subterrâneos, terminaram cobertos por 1m40cm da enchente, que levou tudo embora: fardamentos, computadores, bolas. No túnel de acesso, o nível ultrapassou a altura do maestro do meio-campo, Alan Patrick, que tem 1m77cm.
Os prejuízos ainda são incalculáveis, já que o moderno centro de treinamento literalmente desapareceu.
Mas o Gigante desperta, vulcão sempre rugindo, incansável, teimoso, valente, coração ferido e enlutado bombando, coerente com a sua trajetória de grandes voltas por cima, acostumado a não desistir da alegria e da esperança antes do apito final.
A reestreia do Beira-Rio, planejada para 3 de julho, diante do Juventude, pela terceira fase da Copa do Brasil, merece ser tratada com as honrarias de um novo estádio. É tão importante quanto a sua inauguração em 6 de abril de 1969, em partida com o Benfica do lendário Eusébio, ou sua reinauguração em 6 de abril de 2014, em confronto contra o uruguaio Peñarol.
O gol que ali acontecer será tão ovacionado quanto a cabeçada para o chão de Claudiomiro ou a falta no ângulo de D? Alessandro. Não dá para deixar de ir.
Aquele tapete, conhecido como o melhor gramado do país, sem nenhuma roseta, sem nenhum espinho, perfumado de glórias, voltará a ser terra das chuteiras, pátria dos nossos gritos.
Peço licença ao saudoso gremista Leonardo:
"É o meu Rio Grande do Sul
Céu, sol, sul, terra e cor
Onde tudo que se planta cresce
E o que mais floresce é o amor".
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