sexta-feira, 21 de junho de 2024



21 DE JUNHO DE 2024
INFORME ESPECIAL

Arte, solidariedade e reflexão

A imagem ao lado, produzida por André Venzon no 4º Distrito de Porto Alegre, durante a cheia de maio, será um dos destaques de um bazar solidário marcado para hoje e sábado, para apoiar artistas que perderam tudo.

Batizada de Narciso, a obra integra a série Cidade Sem Face, criada em 2005.

- Passei a fazer o que defino como "antirretratos" para chamar a atenção das pessoas para a transformação urbana desenfreada e a perda de identidade da cidade, com lugares desaparecendo atrás de tapumes de obras sem maiores discussões - explica Venzon, lembrando que, com a catástrofe climática, o tema da ocupação urbana ganha novos contornos.

O 10º Bazarte Solidário será das 14h às 18h, no ateliê de Venzon (Rua Leopoldo Froes, nº 126), com a participação de 17 artistas gaúchos de destaque - entre eles, Zoravia Bettiol, Celo Pax e Xadalu Tupã Jekupé. O valor das vendas será integralmente revertido para aqueles cujo trabalho foi severamente afetado pela água.

A culpa não é delas

Nenhuma mulher deseja abortar. Ninguém acorda pensando: "Que bom, hoje vou fazer um aborto". A vida é o bem maior, e nós, em especial, sabemos disso, porque somos responsáveis por gerá-la. Interromper uma gravidez não é um passeio no parque nem motivo de alegria e muito menos decisão fácil, mesmo nos casos extremos previstos em lei, ao contrário do que faz parecer o debate político torto que viceja no Brasil.

O que mais incomoda, nessa discussão, é a obsessão por punir e culpabilizar a mulher. Está claro: a culpa não é do homem que a violentou. A culpa por não desejar uma gestação fruto de violência é dela. Da vítima.

Se homens não cometessem atos do tipo, não seria necessário discutir o PL do Estupro, que penaliza a estuprada que aborta, mais do que o estuprador. Também não haveria motivos para o PL em debate na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, que "sugere" que a vítima de violência seja "convidada" a ouvir o coração do feto antes de optar pela interrupção.

As perguntas são: por que não discutir formas de coibir a violência sexual? Por que impor mais sofrimento a quem deveria ser protegida?

A questão, aqui, não é ser contra ou a favor do aborto, que ninguém deseja. Erramos feio, como sociedade, ao permitir que, todos os dias, milhares de mulheres (e meninas!) sejam violentadas no Brasil. Dados oficiais indicam que, a cada minuto, em média, duas de nós são abusadas. E sabe do que mais? A maioria é de crianças menores de 15 anos.

Além de apertar o cerco contra os responsáveis pela atrocidade, deveríamos exigir educação sexual nas escolas, para que as vítimas compreendam que são exatamente isso: vítimas. E para que saibam como agir nesses casos. Mas, não, é mais fácil culpar as mulheres.

JULIANA BUBLITZ

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