Não existe tempo de qualidade
Tenho feito eventos para pediatras e eles me contam histórias bonitas e tristes e talvez a mais triste é a quantidade de pais que mandam a babá levar o bebê na consulta - de vez em quando, os pais entram por videochamada. Quase tão triste quanto aquele pai que queria que a creche abrisse no fim de semana porque o bebê chorava demais e ele precisava descansar. Quase tão triste quanto o menino que ia pra escola de Mercedes Benz, e o motorista era o responsável por comparecer às reuniões escolares.
Não são apenas os ricos que terceirizam a criação dos filhos. Todos estamos atolados de trabalho, olhando nossos celulares. Todas as crianças estão sendo criadas por iPads. E o pouco tempo que temos com eles dizemos: “pelo menos é tempo de qualidade”.
Sinceramente, acho que isso não existe. Existe tempo de qualidade se não há tempo de quantidade? Existe tempo de qualidade se não participamos também dos momentos difíceis? Não são os momentos chatos que nos fazem ver os bonitos? Não é a rotina que nos ajuda a conhecer os filhos?
Convido os pais a fazerem uma proposta aos seus chefes: a partir de agora trabalharão pouco, mas o tempo de trabalho será de qualidade. Vamos ver se seus chefes serão tão compreensivos quanto seus filhos. Vamos ver se seus empregos desmoronam como suas famílias.
Este não é um convite para a culpa, é um convite para a calma. Uma vida feliz com filhos é possível, mas ela nos pede tempo. Tempo atento, calmo, bobo. Tempo de conversa fora, de conversa séria e de conversa tola. Nossos filhos não são a interrupção do trabalho importante. Nossos filhos são o trabalho importante.
Marcos Piangers
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