terça-feira, 18 de junho de 2024


18 DE JUNHO DE 2024
+ ECONOMIA

Demora do Salgado Filho cria disputa por alternativa

ABNER DE FREITAS Líder da startup Hopeful

A demora na volta das operações no Salgado Filho acabou criando uma disputa por um aeroporto alternativo. Os candidatos com maior visibilidade são o Vila Oliva reforçado e outro antigo projeto, conhecido pelo nome de 20 de Setembro. Ambos têm ajustes em relação ao esboço original. O 20 de Setembro, que seria entre Nova Santa Rita e Portão, ficou só no segundo município para não ter conflito de espaço aéreo com a Base Aérea de Canoas e fugir de inundações.

- Sobrevoamos agora na enchente e estava bem seca. Não sabemos o que vai acontecer em 50 anos, mas já reservamos espaço para esse período. A Fraport tem contrato com o Salgado Filho por 20 anos, depois não se sabe o que vai acontecer - comenta Nelson Riet, que coordena o comitê em defesa do 20 de Setembro.

Riet diz que não há investidor à vista para tocar o projeto, que seria 100% privado. Lembra que o plano começou a ser esboçado há cerca de 15 anos, quando o empresário que criou a Azul, o americano David Niemann, sugeriu um aeroporto regional no Vale do Sinos.

A ambição internacional surgiu por provocação do ex-comandante do V Comar Nivaldo Rossato, quando ainda estava no cargo. A área é de 22 km2, o que originaria o segundo maior por esse critério no Brasil. O Salgado Filho, lembra, é o menor das capitais em área.

- Gostaríamos muito que a Fraport fizesse o projeto. Eles têm feito um excelente trabalho - diz Riet, que não descarta a hipótese de interesse de "algum chinês".

Sobre o Vila Oliva estar mais adiantado em licenças e autorizações, Riet afirma que o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) permite que "qualquer cidadão" construa aeroporto, desde que se enquadre às regras de segurança. Cita como exemplo o Aeroporto Catarina, em São Paulo, construído pela JHSF, grupo imobiliário focado em projetos de luxo.

Ainda falta estudo de viabilidade econômico-financeira. A coluna perguntou a Riet a respeito de especulações sobre interesses políticos e econômicos. Conforme o coordenador do comitê, existe um documento em que todos os envolvidos se comprometem em não ter qualquer participação, como sociedade na implantação ou propriedade de terrenos que foram objeto de decreto de utilidade pública da prefeitura de Portão. E detalhou:

- São áreas de pequenos agricultores, e o documento assinado por todos prevê que ninguém compre terra.

Apesar da disputa, há um consenso entre os candidatos a ser alternativa:

- Precisamos, no mínimo, de outro aeroporto - diz Riet.

Participante da 8ª edição do Fórum Europeu de Defesa Civil, Abner de Freitas, líder da startup gaúcha Hopeful, de prevenção em desastres, relata episódios em países e regiões que servem de exemplo ao Estado no enfrentamento de novas inundações. Da Itália a Santa Catarina, afirma que a melhor resposta à próxima catástrofe é investir em Defesa Civil.

O que outros países ensinam em prevenção de desastres?

A Defesa Civil da Itália faz gestão de voluntariado. Roma trabalha com 84 grupos treinados. A Albânia tem na Constituição que 4% do PIB deve ser destinado à Defesa Civil. Há exemplos negativos, como em L?Aquila, na Itália, onde um esquema de corrupção retardou a reconstrução.

Quais as ações discutidas no fórum?

Uma das lições é a caracterização dos desastres no contexto da mudança climática. O fórum diz que envolvem multirriscos, transfronteiriços e intersetoriais. É o que vivemos no RS. Outro tema é o gerenciamento de voluntariado. Às vezes, caímos no lugar comum de dizer que a falta de organização dos voluntários é um problema brasileiro, mas outros países lidam com isso, como Alemanha.

O que foi discutido, mas ainda não aplicamos no Estado?

Não há discussão sobre reformas na Defesa Civil para prevenir outros desastres. Existe uma distopia econômica em que a sociedade remunera a reparação dos danos, mas não a prevenção.

O que serve de inspiração?

Em Santa Catarina, quando houve um desastre, houve reforma da Defesa Civil. Agora tem um departamento para cada categoria de desastre. Só vi isso na Itália. Se não mudarmos, teremos resposta igual na próxima catástrofe.

Quais ações são necessárias?

Nos municipais, a área de Defesa Civil tem de subir para o gabinete do prefeito. E para coordenar, não pode ser só cargo comissionado, precisa ter profissionais, investir, entender que o papel é de coordenação, não de operação. Em desastres naturais, não se cria plano, se executa. É preciso ter dados de vulnerabilidade, demografia e perfil da população.

MARTA SFREDO

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