23 DE SETEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
PRUDÊNCIA ANTE AS INCERTEZAS
Foi prudente e responsável o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em sua decisão anunciada na quarta-feira. O colegiado interrompeu o longo período de alta do juro, mantido em 13,75% ao ano, mas não fechou a porta para uma nova elevação da Selic, se necessária. Ressaltou que "não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado".
Ocorre que a complexidade do cenário à frente, de fato, dificulta uma leitura segura dos próximos meses. Há inúmeras incertezas internas e externas. No front doméstico, teme-se um rombo orçamentário significativo para 2023 devido a uma série de benesses concedidas nos últimos meses, muitas de cunho eleitoreiro. A edição de agosto do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta a possibilidade de um desajuste fiscal de R$ 430 bilhões. Um dos exemplos é o que envolve o Auxílio Brasil. Os principais candidatos à Presidência da República prometem não apenas manter os R$ 600, como assegurar adicionais para certas condições. Isso sem serem claros sobre qual será a fonte dos recursos.
Outro ponto relevante está nas desonerações que garantiram a queda dos custos de combustíveis e energia. São válidas até o final do ano. Ou seja, devem voltar a pressionar a inflação em 2023. O próprio Copom, em seu comunicado divulgado ontem, mostra que projeções para os preços administrados são de uma deflação de 4% em 2022, mas alta de 9,3% no próximo ano. Por outro lado, a atividade econômica doméstica se mostra resiliente ao aperto monetário até aqui, embora se espere uma acomodação do ritmo de crescimento da atividade econômica do país em 2023.
O panorama externo também é desafiador. Os principais bancos centrais do mundo, tentando conter a inflação global, seguem o ciclo de alta do juro. O andamento da guerra na Ucrânia, sem sinais de um fim do conflito, não permite vislumbrar com segurança a variação dos custos de commodities energéticas, fertilizantes e alimentos. Teme-se recessão nos Estados Unidos e na Europa e desaceleração da economia chinesa.
A dificuldade para fazer projeções com alta probabilidade de confirmação reside na constatação de que existem múltiplos sinais em sentidos divergentes quanto à inflação. Na quarta-feira, pela primeira vez em seis anos, a decisão do Copom não foi unânime. Dois diretores votaram por uma alta residual de 0,25 ponto percentual na Selic. É uma prova do cenário intrincado.
Juro alto é péssimo para a atividade econômica e para o custo do crédito. Mas, no momento, não há nada a sinalizar que será possível, nos próximos meses, dar início a um ciclo de corte. Não ao menos até meados de 2023, pela visão do mercado. A cautela, portanto, é o mais adequado para o momento. Assim, o BC, por ora, espera que o patamar atual seja suficiente para domar a inflação e ancorar as expectativas. Mas ressalta que permanece vigilante. Resta aguardar que o governo que assumir no próximo ano, seja o atual, o reconduzido, ou um novo, consiga conciliar compromissos com responsabilidade fiscal e, no ambiente externo, caminhe-se para a solução de conflitos e a redução de incertezas.
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