segunda-feira, 12 de setembro de 2022



10 DE SETEMBRO DE 2022
CAPA

Manifesto de amor

Especialista explica como as diferentes formas de expressar os sentimentos impactam as relações e casais contam como traduzem suas linguagens

Eles demonstram que se amam de maneiras bem diferentes e isso, às vezes, vem à tona quando o casal discute: Como tu não entendes que eu te amo, se estou há cinco horas abraçado em ti?, exemplifica Gabriel Severo Curuja, 31 anos. Para ele, o natural é demonstrar com abraços, beijos, ficando perto ou colocando a mão na perna da namorada quando sentam lado a lado. A resposta, segundo a parceira, Laura Schneider Longhi, 27, é que ela precisa que o afeto seja verbalizado para sentir-se amada e confortável na relação.

- Não sou muito do toque físico. Sou mais de palavras - explica ela.

Assim como outros casais, os dois já entenderam que suas linguagens do amor não são a mesma. Também pudera: cada pessoa desenvolve a sua maneira de amar e de compreender que é correspondida. Conforme a psicóloga Maria Eduarda de Alencastro, essa construção está relacionada à personalidade e à bagagem emocional.

- Ao longo da vida, vamos aprendendo modelos de como demonstrar o amor e como recebê-lo. Tem a ver com nossa sociedade, geração, traumas pessoais e com como isso é transmitido na nossa família. A relação entre as pessoas que estão ao meu redor enquanto cresço, pai, mãe, avós, tios, tem grande impacto sobre essa construção. Há também fatores genéticos, características de personalidade, de ser mais aberto ou fechado - explica a terapeuta.

O tema volta à moda de tempos em tempos (especialmente nas redes sociais). Além de ser um assunto com o qual é fácil de se identificar - já que trata de sensações comuns nos relacionamentos - o ressurgimento do debate também está relacionado ao best-seller As Cinco Linguagens do Amor, escrito nos anos 1990 pelo antropólogo americano Gary Chapman. O escritor lista cinco formas através das quais as pessoas enxergam as demonstrações do sentimento: palavras de afirmação, tempo de qualidade, presentes, atos de serviço e toque físico.

Segundo a lógica do escritor, se o estilo da pessoa é dar presentes, possivelmente, haverá um problema se ela só receber do companheiro palavras de afirmação (como dizer "eu te amo"). Para ele, é preciso que um entenda a linguagem do outro e se esforce para corresponder a ela.

A psicóloga vê este movimento com bons olhos, já que ele motiva as pessoas a refletirem acerca de seu comportamento. No entanto, faz as ressalvas de que o livro de Chapman não tem embasamento científico e de que este tema é complexo. Existem muitas linguagens e um casal que expressa seu carinho de formas diferentes não terá, necessariamente, uma relação ruim.

- Os pacientes trazem esse tema, geralmente, como fator limitante, uma quebra de expectativa, ao perceber que o parceiro não consegue expressar amor da forma que a pessoa gostaria de receber, o que gera um conflito. Já ouvi coisas como "estava começando a sair com um cara, mas vi que a linguagem dele é ?tal? e essa não me satisfaz, então, não quis levar adiante". É preciso tomar cuidado para não assumir isso como grande verdade, porque podemos mudar e aprender coisas novas - afirma a psicóloga.

O pulo do gato, segundo ela, é desenvolver a flexibilidade no relacionamento e se abrir ao aprendizado. Este é um caminho tanto para fornecer um pouco do que o companheiro precisa (respeitando limites pessoais) quanto para conseguir receber e apreciar uma manifestação de amor diferente de suas expectativas.

- Quando o parceiro não demonstra da forma que eu gostaria, é preciso avaliar o quanto aquilo é intolerável para mim e se o outro é capaz de flexibilizar. Ou então pensar se posso tolerar e se consigo aprender a apreciar outras formas. A gente não está fadado a entender uma só linguagem, como se só ela fosse nos satisfazer. À medida em que crescemos, nos satisfazemos de outras formas. É preciso se abrir e reconhecer o amor que vem em gestos diferentes dos que estávamos acostumados - defende a terapeuta.

LETÍCIA PALUDO

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