quinta-feira, 15 de setembro de 2022


15 DE SETEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A DURA REALIDADE DA INSEGURANÇA ALIMENTAR

São alarmantes os resultados do estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan) divulgado ontem sobre o quadro da fome no país. O levantamento constatou a existência de cerca de 125 milhões de pessoas com algum nível de incerteza quanto ao que terão para comer. Desde dúvidas quanto ao acesso à comida em algum momento à frente até a privação severa, caso de cidadãos que relataram passar um dia inteiro sem nada para ingerir.

De cada 10 famílias brasileiras, três sofrem com alguma das três variantes de insegurança alimentar: leve, moderada ou grave. Refletindo as desigualdades regionais do país, o trabalho mostra um panorama mais preocupante no Nordeste e no Norte. O Rio Grande do Sul, porém, apresenta números que requerem atenção, especialmente em relação a pessoas submetidas ao mais alto grau de falta de comida.

Conforme o estudo, 14,1% dos gaúchos passam por insegurança alimentar grave. É um percentual inferior à média nacional (15,5%), mas há 10 unidades da federação com taxa inferior. Isso significa que existe um substantivo número de rio-grandenses que, sem renda suficiente, passam fome.

Incluindo-se os três níveis, 47% dos habitantes do Estado padecem com algum risco em relação à nutrição. É a terceira menor porcentagem do país, o que não deixa de ser alentador diante da situação nacional, mas mesmo assim é uma realidade inaceitável, que requer ações para atacar o problema.

O estudo da Penssan detectou ainda que a perspectiva é ainda mais amarga nos domicílios brasileiros com crianças de até 10 anos de idade. Trata-se de um agravante, porque meninos e meninas com fome, comprovadamente, aprendem menos mesmo que frequentem a escola. Passou da hora de a sociedade não apenas se revoltar com os números, mas se engajar para cobrar soluções.

É inegável que o país, com crescimento médio do PIB pífio nos últimos anos, retrocedeu na inclusão social. A pandemia ainda afetou o emprego, a renda e elevou o custo de vida. O endividamento das famílias aumentou, o que também ampliou o número de famintos. O Brasil, que desde meados da década passada não figurava no Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), voltou a integrar a lista neste ano. Em junho, em fase anterior do mesmo estudo, a Penssan divulgou que 33 milhões de brasileiros sofriam com algum grau de insegurança alimentar. Cerca de três décadas atrás, quando a população nacional era 27% menor, a quantidade era de 32 milhões, conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Programas como o Auxílio Brasil e campanhas de arrecadação de mantimentos - como a que nasceu pelas mãos da Assembleia gaúcha - são meritórios e ajudam, mas não são o suficiente. Junto a iniciativas de transferência de renda mais bem calibradas, é preciso reestruturar redes de proteção, como as relacionadas à merenda escolar. É indispensável ainda que o país reencontre a estabilidade para assegurar um crescimento mais duradouro da economia, que possa ser apropriado também pelas camadas sociais baixas. Assim, mais pessoas, no Estado e no país, terão acesso à alimentação de qualidade na frequência necessária para uma vida digna. Não é crível que uma das maiores potências agrícolas do mundo tenha dezenas de milhões de habitantes nesta situação. 

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