28 DE SETEMBRO DE 2022
JEFERSON TENÓRIO
Os livros e a democracia
Os livros sempre estiveram comigo nos momentos difíceis da minha vida adulta. Certa vez, anos atrás, precisei fazer um procedimento médico em que era necessário receber uma anestesia geral. Não gosto de anestesia geral. A ideia de perder a consciência contra a vontade me incomoda. Não sei quanto a vocês, mas para mim soa como uma espécie de morte temporária. Nesta ocasião, levei um livro comigo, pois minutos antes do procedimento, lá estava eu lendo versos de Fernando Pessoa.
O livro também já me salvou de abordagens policiais truculentas. Como sabem, ser negro no Brasil significa que essas abordagens são frequentes. Em algumas, o fato de estar segurando um livro me livrava da revista. Na verdade, mais do que proteção, tinha orgulho de caminhar portando um livro. Para mim, era um elogio ser identificado como alguém que lê.
Eu me apaixonei pelos livros aos 23 anos. Uma paixão tardia. Antes, eles circulavam em minha casa como um objeto qualquer, não havia em mim a vontade de me aproximar deles. Até porque havia outras coisas mais urgentes para resolver. Lembro a primeira vez em que entrei na biblioteca de minha faculdade de Letras. Olhei para todas aquelas estantes e talvez ali tenha feito uma escolha grave e importante: a de que os livros passariam a ser minha companhia por toda a vida. A partir daquele momento, não estava só me tornando um leitor, mas também escolhendo um modo de viver.
Aos poucos, fui comprando livros e criando a minha própria biblioteca. Comprava tantos livros por semana que logo meu salário como estagiário começou a ser muito pouco para tudo que queria ler. Adquiri dívidas, porque deixei de pagar a faculdade em que estudava. Tive de trancar meu curso por não conseguir mais pagá-lo, mas meus livros estavam todos lá, na minha estante, olhando para mim. Um ano depois, prestei vestibular para uma universidade pública e passei. E novamente os livros estavam em minha companhia.
No próximo domingo, nosso país irá exercer a cidadania para escolher os nossos representantes através de um instrumento democrático importante: o voto. Infelizmente não estou no Brasil neste momento tão importante para nossa democracia, mas se estivesse, certamente levaria um livro para me acompanhar. Independentemente do resultado da eleição neste domingo, tenho certeza de que colocaremos a constituição em prática mais uma vez.
O livro, para mim, é muito simbólico, porque ele representa nossa civilidade, nosso compromisso com o conhecimento e respeito à diversidade de ideias. E você? Já escolheu que livro irá levar para votar?
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