sábado, 7 de agosto de 2021

Fé e esperança no futuro

O estrago causado pela escalada nos preços é ainda maior, na prática, porque não vem sozinho. Além de sofrer a pressão inflacionária, muitas famílias curam as feridas deixadas pelo coronavírus - doença que levou à perda de entes queridos, com impactos emocionais e também financeiros.

Tanto a pandemia quanto a volta da inflação viraram do avesso a vida de pessoas como a técnica em saúde bucal Adriana Maranghelli, 47 anos. Concursada do Hospital Conceição, ela trabalha em uma unidade básica de saúde da Capital e enfrenta um dos momentos mais difíceis de sua vida, sem perder a fé em dias melhores.

Em 2020, Adriana realizou um sonho: conseguiu comprar um apartamento a prestação, onde vive com a filha, Luísa, 18 anos, e com o companheiro, Felipe Gonçalves Rodrigues, 30 anos. As coisas iam bem até que as atividades econômicas pararam devido à covid-19, e Rodrigues perdeu o emprego. O trio teve de cortar gastos e alterar hábitos para contornar as dificuldades, que se ampliaram com a morte do pai de Adriana. Fernando Maranghelli morreu aos 69 anos, em abril de 2021, devido ao coronavírus. Foi um baque.

- Todos nós tivemos covid. Meu pai, infelizmente, não resistiu. Perdeu a guerra. Ele era a minha segurança - recorda Adriana.

Superação

Dali em diante, tudo mudou. A partida de Maranghelli foi sentida inclusive financeiramente e, com os aumentos em quase tudo, a família teve de se adequar.

- Passei a procurar promoções, porque o supermercado ficou muito caro. Tenho colegas que moram em Canoas e, quando aparecem boas ofertas por lá, faço um pix e elas me trazem os produtos, mas cortamos muita coisa. Carne, que comíamos bastante, trocamos por frango e salsicha. Frios, como presunto e chedar, substituímos por patê. Reduzimos as despesas ao máximo possível. A conta de luz não dá para atrasar, mas o condomínio, às vezes, a gente negocia. Vamos levando - conta Adriana.

Do conforto do carro, a técnica não abre mão, embora o preço da gasolina venha pesando no orçamento. A educação de Luísa também não foi afetada, porque o pai dela, ex-marido de Adriana, segue pagando o Colégio Bom Conselho, onde a menina estuda. Mas os hábitos de lazer, por exemplo, mudaram: ficaram restritos ao chimarrão com pipoca na orla do Guaíba.

A família tem uma casa em Pinhal, no Litoral Norte, e um sítio na zona sul da Capital, do irmão de Adriana. Apesar disso, as viagens se tornaram raras.

- Temos ido, no máximo, ao Gasômetro e só durante a semana, para evitar aglomerações. Íamos bastante ao sítio, mas, além de gastar com combustível, sempre vem aquela vontade de fazer uma churrascada, o que, por enquanto, ficou no passado - relata.

Nada disso impede a técnica de seguir sonhando. Agora, quer cursar Enfermagem na UFRGS e está estudando para o Enem com Luísa. Outra boa notícia para a família é que Rodrigues conseguiu um novo emprego nesta semana, após meses de procura. Adriana projeta o futuro com otimismo, como seu pai gostaria que fizesse.

- Apesar de ficar mal em alguns momentos, acho que temos de ter fé e esperança. Do contrário, como vamos sair disso? Temos de acordar e agradecer. A gente é brasileiro, não desiste. E é gaúcho, né? Resistimos a tudo - brinca. 

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