sábado, 1 de julho de 2023


01 DE JULHO DE 2023
+ ECONOMIA

Recicle, reuse, reduza e ainda doe

Na definição, a meta contínua de inflação que será adotada no Brasil a partir de 2025 - decisão tomada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na quinta-feira - significa apenas que o Banco Central (BC) não terá prazo de somente um ano para cumprir esse limite. Mas isso não quer dizer que não será cobrado a perseguir o objetivo, agora praticamente permanente: o centro da meta é 3% em 2024, 2025 e 2026 . Mas então, qual é o sentido de não obrigar o BC a cumprir a meta em 12 meses?

Na prática, a meta contínua dá mais prazo para que o BC a alcance. Isso significa que, caso haja novas pressões inflacionárias, em vez de ter de explodir o balão dos preços altos em duas ou três pancadas - correndo o risco de fazer toda a economia despencar junto -, será possível ir desinflando aos poucos, transformando um choque em pouso suave.

A medida não está sendo tomada quando há choques inflacionários no horizonte, ao contrário. A inflação está desacelerando e os mais recentes indicadores de preços que incluem o atacado, como o IGP-M, da Fundação Getulio Vargas, apontam deflação, ou seja, redução generalizada de preços. O IGP-M de junho apontou queda de 1,93% sobre redução anterior de 1,84% em maio. Portanto, a mudança não pode ser considerada casuística, ou seja, adotada com alguma espécie de artificialismo para que o BC tenha mais conforto em começar o tão esperado - e tão adiado - início dos cortes no juro.

Na semana passada, a coluna acompanhou o nono Seminário Anual de Política Monetária da FGV, com a participação de Affonso Celso Pastore, Eduardo Loyo e José Júlio Senna. Pastore foi presidente do BC e os outros dois economistas, diretores da instituição. Os três são críticos do arcabouço fiscal de Haddad.

- Se a mudança for bem feita, não criar sensação de que é uma meta para alcançar a perder de vista, pode ser um ganho de credibilidade para o regime de metas. Não dá para ficar perseguindo, a ferro e fogo, a inflação do ano, o que não se consegue - afirmou Loyo.

- Espero que esse CMN tenha a decisão racional de manter a meta e o intervalo estreito ainda que seja meta contínua, o que o BC já faz. Se adotarem meta mais alta, não será bom para a economia brasileira - disse Pastore.

Portanto, ao tomar a decisão que converge para um objetivo do governo Lula - algum alívio nas pancadas de juro -, Haddad não agradou apenas ao mercado, mas também a economistas muito ortodoxos.

Tadeu Almeida era sócio de uma agência de publicidade até 2015, mas não estava satisfeito com seu trabalho. Questionava quão bem fazia ao mundo:

- Estimulava compra massiva de produtos que não faziam bem para pessoas ou para o planeta.

Quando se focou em projetos digitais, entrou em contato com startups e recuperou o "brilho no olho" ao projetar um negócio com pegada ambiental e impacto social positivos. Nasceu a Repassa, maior brechó online do país, comprada há dois anos pela Renner.

- A escolha do mercado de usados foi óbvia, porque é o produto mais sustentável que existe. Uma nova vida útil não consome recursos naturais - justifica Tadeu.

Para garantir o propósito social, a solução foi criar a possibilidade de doação de parte dos recursos da venda para entidades que desenvolvem esse tipo de projetos. Em 2021, veio a proposta de compra da Renner, que manteve Tadeu à frente do brechó online.

- Sempre tive como norte que o melhor para o negócio vem em primeiro lugar. Com o negócio, a Repassa iria conseguir acelerar seu crescimento, teria acesso a sinergias e tiraria risco da mesa, porque a Renner é sólida e tem caixa. Foi importante saber que era uma empresa com princípios e valores semelhantes, por ser uma referência em moda sustentável - explica, sobre a decisão de vender.

Agora, o cliente pede uma "sacola do bem", que custa R$ 49,99, e envia as peças à Repassa. Pode fazer isso pelo Correio ou, agora, em 87 lojas da Renner no Brasil. A empresa escolhe as peças, passa, fotografa e exibe no site. Sobre as vendidas, cobra 60% do valor. O cliente decide o que fazer com os 40% restantes: pode destinar tudo a projetos sociais ou, se preferir, pode receber em uma carteira digital e dirigir à sua conta bancária.

Para o futuro, a Repassa quer buscar eficiência operacional, automatizar processos - hoje, já faz preenchimento automático de parâmetros a partir das fotos. Tadeu não descarta, mais adiante, uma espécie de showroom físico - no Exterior, já existem redes de brechós arrumadinhos.

MARTA SFREDO

Nenhum comentário: