sexta-feira, 4 de agosto de 2017



04 DE AGOSTO DE 2017
COMPORTAMENTO

UMA BRIGA DE TIRAR O SONO


Diz o ditado popular que o direito de um termina no exato ponto onde começa o do outro. A frase parece sob medida para resumir a contenda entre moradores e frequentadores da Cidade Baixa. Seguidamente, enquanto centenas de notívagos divertem-se nos bares e nas ruas do bairro mais boêmio da Capital, vizinhos das áreas mais movimentadas reviram-se na cama, tentando ignorar os ruídos externos e cair no sono para uma merecida noite de descanso.

Aqui, virou moda fazerem baile funk ? reclama o técnico de enfermagem Adauto*, 46 anos, que se habituou a ligar o ventilador para abafar o barulho vindo das ruas, faça frio ou calor.

Durante duas madrugadas, ZH conversou com moradores, comerciantes e frequentadores. Nem todos estão contentes. Donos dos bares que tornaram a rua uma das referências na noite da Capital se queixam de que o perfil dos notívagos mudou: estariam ficando menos nos estabelecimentos e mais na parte externa. Já os boêmios reclamam da pressão para liberar a via ? na madrugada de 16 de julho, a Brigada Militar usou bombas de gás para retirar as pessoas que ocupavam a rua, depois de policiais terem sido recebidos a garrafadas. Moradores que não aguentam mais o barulho se reú- nem em grupos de WhatsApp e pedem providências ao poder público.

A tensão cresceu nos últimos meses. E o epicentro é a Rua João Alfredo, onde Adauto mora com a mãe, Noê- mia*. De quarta-feira a domingo, ele transfere o colchão para o corredor do apartamento e dorme junto à porta. Tudo para fugir do alvoroço que invade o quarto, de frente para a rua. Aos 85 anos, dona Noêmia conta que frequentemente acorda com gritos ou brigas na via, que concentra cerca de uma dezena de bares:

Uma vez, todos os vidros tremeram. Parecia que iam se quebrar. E dispararam os alarmes dos carros aqui do prédio. Era o som de um carro na rua.

Fã de Pink Floyd (o toque de seu celular é a música Time), Adauto afirma não se opor à vida noturna na região. Diz, inclusive, que também sai para se divertir, mas com o cuidado de não perturbar os demais moradores.

Para ele, a origem do barulho que lhe tira o sono não está na concentração de casas noturnas, mas na reunião de centenas de pessoas no lado de fora de bares e danceterias e nas dezenas de automóveis estacionados ? a maioria, com caixas de isopor abarrotadas de bebidas ? ou transitando pela região com potentes equipamentos de som.

Quando não param o carro, ficam circulando pelo bairro. A maioria não é daqui (de Porto Alegre). Eles ficam disputando para ver quem tem o som mais potente ? conta Adauto.

HOJE É SEXTA-FEIRA. Na Cidade Baixa, outra noite deverá contrapor quem frequenta a Rua João Alfredo para divertir-se ao ar livre, em bares e danceterias e moradores que não conseguem dormir com o barulho

JÉSSICA REBECA WEBER MARCELO MONTEIRO

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