EM FOCO
Desempenho brasileiro foi puxado por indústria e serviços. Pela ótica da demanda, destaques foram os consumos das famílias e do governo, além do aumento dos investimentos. A alta abre espaço para que a economia suba até 3% em 2024
PIB do segundo trimestre cresce 1,4%, acima das expectativas
Com desempenho que superou expectativas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024 ante o acumulado dos três meses anteriores. O dado foi divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço foi puxado por altas nos serviços e na indústria. No lado da demanda, os destaques foram os consumos das famílias e do governo, além da reação dos investimentos.
Em valores correntes, o PIB, que representa a soma dos bens e serviços produzidos no país, totalizou R$ 2,9 trilhões no segundo trimestre. O mercado financeiro projetava alta de 0,9% a 1%. O resultado de 1,4% é o maior desde o quarto trimestre de 2020.
A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, afirma que, "com o fim do protagonismo da agropecuária, a indústria se destacou nesse trimestre, em especial na eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e na construção". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o resultado.
Segundo Lula, foi "mais uma notícia boa para a economia". "Crescimento que se soma ao aumento dos empregos, o consumo das famílias e melhor qualidade de vida. Sem bravata e mentiras. É isso que importa", escreveu em rede social.
Fatores
No entendimento do IBGE, condições do mercado de trabalho, juros mais baixos e crédito disponível estão entre os principais fatores que incentivaram a expansão no segundo trimestre.
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Marcelo Portugal avalia que parte da alta acima do esperado pode ser explicada por fatores pontuais, como aumento das transferências do governo e queda do juro. Mas aponta que essa subida não é algo isolado e deve ser analisada de maneira mais alongada. Faz parte de um movimento observado desde meados de 2020 e início de 2021, diz.
Mesmo com variabilidade entre os trimestres, o país apresenta crescimento acelerado desde a saída da pandemia. Esse processo ocorre diante de fatores ligados à oferta, como o aumento de produtividade das empresas após a crise, mas principalmente ligada ao consumo, segundo Portugal:
- Quem puxou o PIB para cima foi o consumo das famílias. E o consumo das famílias foi puxado para cima em parte porque melhorou o mercado de trabalho, em parte porque o governo está se endividando para trazer receita futura para o presente, para gastar mais.
Ele diz que o fato de o avanço da economia estar muito mais ligado ao consumo pode prejudicar um crescimento mais estrutural nos próximos anos. Sobre o efeito da inundação no RS no PIB nacional, o professor avalia que a rápida recuperação em alguns setores e regiões menos afetadas pelo evento climático acaba mitigando esse impacto.
Movimento espalhado
O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, destaca que o resultado positivo foi espraiado, pegando a maior parte dos setores, com exceção da agropecuária, que sofre com entressafra. Agostini afirma que o movimento espalhado é resultado da consolidação da melhora no acesso ao crédito, do juro mais baixo, de programas de renegociação de dívidas e da ampliação de emprego e renda.
Ele faz uma ressalva em relação à parte do aumento do consumo do governo, que acende alerta no ambiente fiscal. _
Nos próximos meses, avanços e desafios
Com o Produto Interno Bruto (PIB) acima do esperado no segundo trimestre, cresce a aposta do mercado em economia fechando 2024 com crescimento próximo dos 3%. Mesmo com desaceleração projetada para os próximos trimestres, economistas ouvidos por Zero Hora afirmam que os resultados registrados até agora abrem espaço para esse cenário.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, afirma que parte do ritmo da atividade atual é transmitido para o próximo período, permitindo estimativas mais otimistas. A agência de classificação de risco ajustou a projeção de PIB de 2024 de 1,9% para 2,8%.
A professora de Economia do Insper Juliana Inhasz também afirma que o desempenho do segundo trimestre coloca as projeções de PIB mais próximas dos 3% ao ano. No entanto, alerta para perigos que seguem no radar, como estiagem e custo da energia elétrica no país. Isso somado à perda de força em ações de transferência de renda cria ambiente para desaceleração da economia no segundo semestre.
Juro básico
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o resultado do segundo trimestre deve fazer com que o governo promova nova estimativa de arrecadação de receitas e projetou PIB acima de 2,8% no ano.
O avanço do PIB acima do esperado também eleva a expectativa de aumento do juro básico, diz Juliana:
- Acho que o mercado já está muito pacificado com duas coisas. A primeira é que o juro não cai mais este ano e a segunda é que ele tem probabilidade muito grande de alta.
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