segunda-feira, 2 de setembro de 2024


02 de Setembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

GPS DA ECONOMIA

Presidente da Termolar, formada em Administração pela ESPM, fez Gestão Financeira na FGV e MBA em Administração na Estação Business School

"Depois de forte queda, tivemos recorde, o melhor resultado da história"

Natalie Ardrizzo assumiu a presidência da Termolar no início de 2021, aos 32 anos. No mês passado, deixou sua marca na história da empresa de 66 anos, uma rara indústria no coração de Porto Alegre: o recorde máximo de volume de produção.

Qual foi o impacto da cheia?

Não paramos a produção, mas estava tudo pronto para isso se houvesse necessidade, porque houve projeção de que a inundação chegaria. Vi barcos passando na esquina. No dia 3 de maio, não esqueço, íamos desligar máquinas, porque não tinha como içar. Olhávamos hora a hora, para não colocar nem pessoas nem o equipamento em risco. Como a área é mais elevada, a água não chegou. Mas a produção caiu para pouco mais de dois terços, tivemos problemas de estoque, de falta de matéria-prima, muitos percalços.

Qual foi a reação?

Cuidamos dos funcionários, antecipamos benefícios, distribuição de lucros, compramos cesta básica, água potável, abonamos o ponto para quem não conseguiu vir trabalhar. Para a cidade, emprestamos empilhadeiras, apoiamos abrigos.

O que veio depois?

Depois de forte queda, tivemos recorde, o melhor resultado da história. Produzimos 1.104.122 unidades em julho, ou 92 mil dúzias de garrafas e outros utensílios.

Como foi possível?

Investimos no parque fabril, em máquinas novas, em produtividade. O friozinho desse inverno ajuda na venda de garrafas térmicas. Mas também temos um trabalho forte de liderança interna para melhorar processos e indicadores. Temos um gerente industrial com larga experiência, que veio da Gerdau. Temos um mix de pessoas muito experientes, com 20 ou 30 anos de empresa, com desenvolvimento de novos líderes.

Como é possível manter a produção em Porto Alegre?

Tivemos centros de distribuição fora, fechamos, reabrimos, para aproveitar questões tributárias e logísticas. Mas não recebemos proposta com supervantagem para ir para outro lugar. Estudamos diversos movimentos. O terreno é próprio, então teria de fazer uma jogada que valesse muito a pena. Até hoje, não sentimos que era momento de mudar, seja para as cercanias ou para abrir fábrica em outra localidade.

Há mais vantagens ou mais problemas?

Do ponto de vista interno, estar em uma ponta da cidade é ruim. Mas estar em Porto Alegre, no sul do Brasil, é bom porque nosso mercado, apesar de nacional, é concentrado aqui.

? Existe espaço para ampliação, se for necessária?

São seis hectares, é uma área substancial. Mas não temos só produção, precisamos de área de estocagem e expedição. Então, já está começando a ficar apertado. Estamos estudando CDs para tirar pressão.

Como encaram a concorrência dos produtos Stanley?

Como sempre encaramos a concorrência. Sempre há novos entrantes. Todo mundo quer uma garrafa térmica para água, chimarrão, chá, café. O que a gente faz é olhar para dentro, fortalecer nossa marca e tentar criar a melhor experiência possível para o consumidor, seja o final, que vai usar, seja o intermediário, que vai revender.

Mulher no comando parece normalizado, mas ainda há desafios. Como tem sido a experiência?

Tenho muito orgulho de ser mulher e fazer tudo que faço, porque consigo fazer um trabalho incrível independente de questão de gênero. Recebo feedbacks de que já dei outra cara para a empresa, mas isso foi feito em equipe.

Já sentiu preconceito?

Estou na Termolar há nove anos e, no início, houve momentos mais tumultuados. Nos últimos anos, o resultado fala mais alto. Não sofri preconceito, mas visitei países asiáticos e me sentei para jantar enquanto mulheres cozinhavam, filhos serviam e eu estava à mesa com seis homens, bem mais velhos. Foi estranho estar em um lugar em que essa questão é ainda mais complicada do que aqui. Li há pouco o livro sobre a Casa Gucci, a filha não ter herdado um centavo por ser mulher. Meu pai sempre dizia que eu tinha de ser o que quisesse, fazer o que quisesse, que não tinha de depender de ninguém, nem de homem nenhum. Cresci nesse ambiente, sempre fui muito aventureira. 

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