segunda-feira, 9 de agosto de 2021



09 DE AGOSTO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

A DECADÊNCIA DOS CORREIOS

Impressiona, mas infelizmente não surpreende, a informação de que os Correios têm quase 10,7 milhões correspondências atrasadas apenas no Rio Grande do Sul. A empresa, que já foi símbolo de eficiência e credibilidade, hoje é motivo de dissabores e queixas recorrentes por parte dos usuários, que reclamam de entregas demoradas ou que nunca chegam. Grande parte do material é de faturas que também podem ser obtidas por meio digital, mas ainda existe um significativo número de pessoas de idade mais avançada, sem afinidades com os serviços virtuais, que enfrentam transtornos quando as contas são recebidas após o vencimento e, ao mesmo tempo, há reclamações semelhantes sobre cartas oficiais, como de órgãos públicos, ou assinaturas de material impresso, como revistas.

Os Correios, agora, estão sendo preparados pelo governo federal para a privatização. Se espera que, mais bem gerida, a companhia volte a ter a confiança conquistada em mais de cinco décadas, com bons préstimos em todos os cantos do país, das grandes metrópoles aos rincões mais remotos. Lamentável apenas que a venda ocorra em um momento de sucateamento, o que tende a desvalorizar o ativo, apesar da reserva de mercado que ainda deve ter, de acordo com o texto do projeto que viabiliza a venda da empresa, aprovado na semana passada pela Câmara e que agora tem de ser analisado pelo Senado.

A decadência dos Correios se deve a sucessivas gestões que descuidaram da administração correta da empresa e, em alguns casos, a usaram ainda para negócios espúrios. A estatal esteve na origem do escândalo do mensalão, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi vítima ainda do grevismo de seus funcionários. Na última década, paralisações foram registradas quase todos os anos, contribuindo para a piora dos serviços e a perda da credibilidade. Lucrativa na maior parte de sua história, amargou prejuízos por quatro exercícios consecutivos até 2016, voltou ao azul no ano seguinte, mas mesmo com os resultados financeiros melhores, a sua administração foi incapaz de restabelecer serviços de qualidade. A explicação de que falta de pessoal não é uma justificativa razoável. Os prometidos mutirões para tentar normalizar as entregas, ao que parece, são quase em vão.

Tamanho declínio levou clientes a buscar serviços privados de entrega. Fatias importantes de mercado foram perdidas. Com o avanço do comércio online, esta é uma demanda que tende a crescer ainda mais nos próximos anos. Ao menos se sustenta que os Correios têm conseguido dar prioridade a este tipo de serviço. A expectativa é a de que, provavelmente a partir de 2022, gerido de maneira profissional, com investimentos necessários para exercer melhor o seu ofício, consiga ganhar eficiência para reconquistar o respeito e a admiração dos brasileiros. Para os usuários, pouco importa se uma empresa é pública ou privada. O essencial é corresponder.

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