03 DE AGOSTO DE 2021
NÍLSON SOUZA
Pequenas alegrias
A humanidade precisava dessas pequenas alegrias que os Jogos Olímpicos do Japão vêm distribuindo pela geografia do planeta nos últimos dias. Sabemos todos que as conquistas dos atletas, mesmo as mais heroicas e improváveis, não atenuarão as dores da pandemia nem resolverão os grandes problemas de cada país representado no quadro de medalhas ou fora dele. Mas um pouco de emoção positiva sempre ajuda, até mesmo para que possamos acreditar mais em nós mesmos no inadiável confronto com a realidade.
Nem todos são vencedores. Se observarmos com atenção os competidores, veremos que a maioria fica fora do pódio, muitos saem extremamente frustrados e alguns até demonstram publicamente suas fragilidades físicas e emocionais. Porém, quando a adrenalina baixar, eles entenderão que tiveram o privilégio de participar como protagonistas de um memorável encontro da família humana, reunida para celebrar a vida, a saúde e a paz.
Fraternidade pode parecer uma palavra inadequada para uma competição em que atletas, equipes e bandeiras disputam a primazia de chegar primeiro, de saltar mais alto, de superar rivais. Mas a verdade é que o espírito olímpico tem prevalecido até mesmo nos embates físicos, com a lealdade e a aceitação superando eventuais inconformismos.
Outro dia até me deu vontade de atirar o chinelo na televisão quando o árbitro do judô penalizou pela terceira vez a nossa conterrânea Maria Portela, mas a própria judoca, depois das lágrimas mais do que justificadas, cumprimentou a vencedora e cumpriu civilizadamente os rituais da arte marcial transformada em esporte de combate. O ideal olímpico se sobrepôs à aparente injustiça. Além disso, a brava lutadora logo superou a frustração e ganhou a sua luta no confronto de equipes contra Israel, comprovando que os atletas que voltam sem medalhas de Tóquio também merecem o nosso reconhecimento e o nosso aplauso.
Sem ser uma potência olímpica, o Brasil está tendo a sua parcela de pequenas alegrias nesta competição que ficará na história da humanidade como a Olimpíada da resistência e da coragem.
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