segunda-feira, 24 de agosto de 2020



24 DE AGOSTO DE 2020
+ ECONOMIA

Big bang de Guedes não pode criar universo mais desigual

É conhecido o gosto por hipérboles (figuras de retórica marcadas por exageros) do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas desta vez ele se superou. Ao dizer que amanhã será o "big bang day", em referência ao novo pacote econômico e social do governo, elevou em muito as já altas expectativas sobre o substituto do Bolsa Família, o Renda Brasil. Big bang, como se sabe, é a teoria científica dominante sobre a origem do universo. A tradução mais usada para big bang é grande expansão.

O detalhamento do novo formato de assistência social ocorre em meio à intensificação do debate sobre a manutenção do teto de gastos, alimentada pelo próprio Guedes. Calculadoras e planilhas de excel estarão de prontidão na hora do comunicado. Há temor de que a popularidade conquistada pelo presidente Jair Bolsonaro, em plena pandemia, seja mais forte do que o compromisso com a necessária estabilização da dívida pública.

Enquanto o aumento de gastos da União se limitava a 2020, ou ao período necessário para superar o impacto da pandemia na atividade econômica, houve consenso: gaste-se agora, paguemos quando pudermos. Quando as despesas passaram a se multiplicar e a representar intenção semelhante à do governo Dilma, entre 2012 e 2014, tudo mudou.

As apostas indicam possibilidade de aumento do benefício dos R$ 190 do Bolsa Família para algo em torno de R$ 300 - mesmo valor das parcelas finais da anunciada prorrogação do auxílio emergencial. Parte dos recursos para recompor o orçamento social viriam do fim de programas como o seguro-defeso, pago a pescadores e ao abono salarial. Também deve aumentar de 14 milhões para 21 milhões o número de beneficiados.

Já seria um grande aumento de despesas, mas tem mais: será relançada a carteira de trabalho verde e amarela e ressuscitado um mais enxuto Pró-Brasil, programa de obras públicas para reativação do emprego. Para bancar parte das bondades, também deve ser detalhado amanhã o tributo que Guedes diz não ser uma nova CPMF. São muitas ambições para um só dia. Como a sustentação do big bang prevê cortes e cobranças, a recriação do universo de Guedes não pode se permitir ser mais desigual.

Rota de segurança

Empresas seguem buscando soluções para dar segurança aos passageiros. A Turistur, transportadora oficial da CVC em Gramado, Canela e Porto Alegre, adotou o sistema de purificação do ar-condicionado com luz ultravioleta. Desenvolvida pela Marcopolo em parceria com a Valeo Thermal Bus Systems, a solução tem um dispositivo que emite luz ultravioleta (UV-C) integrado ao módulo convencional. Ensaios realizados por laboratórios de universidades avaliaram a eficácia da radiação ultravioleta no ar-condicionado. O resultado foi taxa de eficiência de mais de 99%. O sistema fica enclausurado, evitando que os passageiros tenham contato direto com a radiação.

Onze dos 14 ônibus de turismo da frota da empresa estão recebendo o equipamento, e sete vans terão um módulo semelhante desenvolvido pela Marcopeças, concessionária Marcopolo.

Subiu no telhado

Enquanto foram moções e manifestações de notórios opositores do acordo, sem susto. Mas quando o porta-voz da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que há "sérias dúvidas" de que o acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul "possa ser aplicado conforme planejado", diante da situação na Amazônia, o quadro mudou. Pode ser só um adiamento para a presidência portuguesa da UE, mas desta vez, também pode ter subido no telhado.

53,5%

foi a média da queda no volume de transações nos restaurantes do Estado em julho, em relação ao mesmo mês do ano passado. O dado vem dos Índices de Consumo em Restaurantes (ICR), estudo desenvolvido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

RESPOSTAS CAPITAIS

MAITÊ LOURENÇO CEO do BlackRocks Startups

"A estrutura em que vivemos é muito racista"

Maioria da população brasileira, os negros ainda são pouco visíveis no ecossistema de startups. Psicóloga de formação e empreendedora, Maitê Lourenço é CEO do BlackRocks Startups (no masculino), aceleradora de negócios abertos por pessoas negras. Para a CEO, é necessário identificar o potencial desses profissionais e empreendedores. Na segunda quinzena de junho, a executiva foi a primeira pessoa negra a sair sozinha na capa da revista Exame, focada em negócios.

Você é psicóloga de formação, por que decidiu criar o Black- Rocks Startups?

Entre 2015 e 2016, tinha um site de gestão de carreira, nada muito tecnológico. Quando passei a frequentar eventos do ecossistema de startups, para melhorá-lo, não via pessoas iguais a mim. Não me sentia representada pela forma que as pessoas relatavam como haviam construído os negócios. Eram homens brancos falando sobre o apoio que tinham recebido de outros homens brancos. Por isso, pensei: "se ninguém está olhando para esse público, vou olhar".

Como funciona a aceleração?

Fizemos nossa primeira edição de aceleração com cinco startups em 2018. Estamos prestes a iniciar mais uma seleção das startups, que estão em pré-operação ou operação. Ou seja, são negócios que já existem. Para se candidatar, é essencial o uso de tecnologia como base. O programa online de aceleração dura quatro meses.

Quais os desafios mais usuais dos empreendedores negros?

Vou dar outra perspectiva a essa pergunta: quais as potencialidades perdidas quando o ecossistema deixa de lado empreendedores negros? Me sinto muito mais confortável em falar sobre as potencialidades. A primeira coisa é que, quando temos uma dor, um problema, no sentido de sociedade, precisamos consultar pessoas que vivenciem essa dor. No ecossistema (de inovação), muitos produtos morrem por não entender quem é o cliente. Ao trazer homens e mulheres negras, você entende o que o cliente quer. Como resolver uma dor de mobilidade de transporte sem consultar pessoas que vivenciam a falta do transporte? É preciso entender que pessoas negras são o maior público consumidor.

Qual seu diagnóstico sobre a falta de visibilidade de empreendedores negros?

O racismo estrutural é tamanho que invisibiliza essas pessoas. Assim como os profissionais negros só são convocados para falar sobre os atravessamentos do racismo, os negócios comandados por pessoas negras são questionados sete mil vezes por isso. Se o negócio não tem impacto social, fica perdido no ecossistema. É como se não tivesse outro diferencial. E pessoas negras tem três vezes mais dificuldade de acesso a credito. A estrutura em que vivemos é muito racista.

O que fazer para melhorar o acesso de pessoas com menos oportunidades?

Reconhecer que o racismo existe. Para se aliar, é preciso entender quais privilégios a pessoa possui. Algumas ações são fundamentais, como a indicação de profissionais negros para vagas. Requer muito exercício, já que pessoas brancas não se entendem como racializadas.

MARTA SFREDO

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