terça-feira, 18 de agosto de 2020


18 DE AGOSTO DE 2020
NÍLSON SOUZA

O Brasil que o Brasil queria


Era assim, lembram? Menos corrupção, mais segurança, saúde e educação de qualidade, emprego para todos, cuidados com o meio ambiente, políticos honestos, menos violência, preconceito e intolerância. Em 2018, a Rede Globo ouviu brasileiros de todos os recantos desta pátria amada, que gravaram vídeos com o celular "deitado", como recomendava o Bonner, para dizer alto e bom som que tipo de país queriam. Foram mais de 50 mil mensagens de indignação e esperança, deixadas por homens, mulheres e crianças de praticamente todos os municípios brasileiros.

Dois anos se passaram e o Brasil da realidade está cada vez mais distante do Brasil do desejo. Claro que ninguém poderia imaginar esta pandemia que virou o mundo de cabeça pra baixo, destruiu economias, embretou a ciência e continua abreviando vidas humanas. Mas a doença, por mais terrível que seja, não pode ser usada como justificativa para todas as nossas frustrações.

Pela vontade coletiva deveríamos ser hoje mais tolerantes. Somos? Deveríamos ter avançado na qualificação da educação. Avançamos? Se o pedido de toda aquela gente bem-intencionada tivesse se concretizado, seríamos agora uma sociedade menos preconceituosa e mais pacífica. Sinceramente, não dá para perceber essa evolução. Preservaríamos mais a natureza. Estamos fazendo isso?

Como vivemos num eterno Gre-Nal ideológico, sempre haverá quem diga que melhorou e quem diga que piorou, independentemente de argumentos e comprovações. O que parece consensual é que nossas prioridades mudaram de ordem. Agora, a saúde passa à frente da segurança, da educação e, pelo que se observa, até mesmo do combate à corrupção, uma vez que os heróis do lava-jatismo - na definição do seu próprio chefe - perderam prestígio e já são vistos como suspeitos por muita gente que os aplaudia na rua.

É desconcertante. Ainda assim, precisamos acreditar que o Brasil dos nossos desejos e sonhos continua sendo possível. Todas aquelas manifestações espontâneas por honestidade, trabalho e educação não podem ter sido em vão. Claro que neste momento dramático o mais importante é cuidar da saúde, para que possamos sair logo deste pesadelo e trabalhar coletivamente por um futuro melhor.

Porém, acredito que o Brasil que os brasileiros queriam há dois anos ainda é o mesmo. Falta trocar o querer por fazer.

NÍLSON SOUZA

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