11 DE AGOSTO DE 2020
DAVID COIMBRA
A lição que o centroavante pode nos ensinar
Diego Souza, quando chegou ao Grêmio pela primeira vez, em 2007, chegou como volante. Naquela época, a torcida do Grêmio estava acostumada à seriedade eficiente de um Dinho, de um Luiz Carlos Goiano, de um Sandro Goiano. Ao ver Diego Souza praticando malabarismos na frente da área, os torcedores ficaram desconfiados. Aquilo era estranho, parecia haver alguma coisa errada. Afinal, eles sempre preferiram o carrinho ao toque de letra, a dividida ao passe de trivela.
Esse sentimento fazia parte de uma espécie de código genético do clube. Não por acaso, um dos gremistas mais notórios, Eduardo Bueno, o "Peninha", escreveu um livro sobre a história do Grêmio e o dedicou "ao volante de contenção", explicando: "O nosso 10 é o 5".
Assim, Diego Souza foi cautelosamente deslocado da meia-lua para a intermediária. Tornou-se segundo volante, fazendo companhia ao armador, Tcheco. O segundo volante tem de ser homem de responsabilidade, mas não precisa dispor de toda a gravidade do primeiro. O primeiro, que antigamente (e mais apropriadamente) era chamado de centromédio, é o protetor da zaga. Ele está sempre atento. Ele tem de ser meio mau. Ele não ri.
Diego Souza ri e, por isso, virou segundo volante. Mas, como mostrava afeição às jogadas de ataque, logo o promoveram a meia. Foi nessa condição que ele saiu do Grêmio, no fim da primeira década do século.
E foi-se, Diego Souza, ser gauche na vida, percorrer o vasto mundo. Jogou nas franjas cálidas do mar do Rio e do Recife, em meio à fumaça dos carros de São Paulo e sob as serras que cercam Belo Horizonte, aventurou-se na Ucrânia e até na areia das Arábias. E voltou. Só que, agora, era outro. Era centroavante. Mais: centroavante de posicionamento, que joga entre os zagueiros, que faz parede, que dá ombraço na marca do pênalti.
Como é que pode? Ser centroavante, todo mundo sabe, é para os vocacionados. É uma função específica e especializada, não é nem para jogador de futebol, é para marcador de gol. Então, em tese, um centroavante não se criaria. Centroavante nasceria feito.
Só que Diego Souza quebrou essa tese. Diego Souza era jogador de bola e se transformou em centroavante. Olhando-o em campo, é como se ele sempre tivesse feito daquele jeito, como se ele sempre tivesse sido 9, ganhado dos zagueiros pelo alto, dando testaço na bola, metendo-a para o gol com um toquinho ou deitado no chão, sempre alerta dentro da pequena área, como um Romário, um Dario, um Jardel, um Alcindo, ou até como o melhor de todos: Laerte, o Urso.
A essa altura da vida, quem diria? Diego Souza se achou. Ele é centroavante. E, sendo centroavante, Diego Souza é especial. É algo que devemos aprender: nunca é tarde para se tornar especial.
DAVID COIMBRA
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