22 DE AGOSTO DE 2020
TELEVISÃO - Marisa Orth atriz
"A Magda é um patrimônio meu, não tem como lutar contra isso"
Eternizada na memória de milhões de brasileiros como a Magda do Sai de Baixo, Marisa Orth segue se reinventando na TV. Depois de atuar na série Toma Lá Dá Cá e em novelas como Haja Coração e Tempo de Amar, a atriz de 56 anos entra em uma nova fase integrando a trupe de humoristas do Zorra, que exibe episódio inédito neste sábado, às 22h45min, na RBS TV.
Além dos novos colegas Diogo Vilella, Robson Nunes, Victor Lamoglia e Karina Ramil, Marisa contou com uma ajuda extra nas gravações remotas: a de seu filho João Antônio, 21 anos. Estudante de Cinema, ele opinou, ajudou a carregar luz e tantas outras funções em um set. Em entrevista a ZH, por telefone, Marisa fala sobre essa nova fase da carreira.
Como você vê a renovação do Zorra nos últimos anos?
Desde que deixou de ser "Total", ele teve uma guinada interessante. O próprio humor mudou, com a força do stand-up, por exemplo, que deixou menos ensaiado e mais direto. O Zorra obedeceu a isso e, mesmo vindo de um formato consolidado, precisava dessa virada. Eu sempre era a fim de fazer e tinha um pouco desse espírito de esquetes lá quando eu fiz TV Pirata (1992). É diferente, é claro, a gente tem um compromisso com a piada.
Como é sua relação com os outros novatos no programa?
É um sorteio no roteiro, cada dia é uma aventura. O George Sauma já foi meu filho em série, com o Diogo (Vilella) fui casada em Toma Lá Dá Cá e a Karina (Ramil)? É uma princesa! Meu filho adora ela, estava mais ansioso do que eu!
Como foi esse processo de gravar em casa?
A gente deu conta, mesmo com aquilo de estar em casa e cuidando de todo o resto, sabe? O plano era seguido à risca, equipe junta no computador, pausa para almoço, e tudo deu certo. E o João é muito talentoso, toca, escreve bem, gosta de cinema? Ficou opinando em tudo. A direção do Zorra já ama ele e já fez até pontas de ator (risos).
Como o João te ajudou?
É difícil de fazer em casa, mas consigo perceber como é legal ver outros formatos nascendo. Eu sinto falta do teatro e fico decepcionada com a falta daquelas palmas do câmera depois da cena. Santo de casa não faz milagre (risos). E o João é um déspota. Eu sou tipo aquela mãe italiana que grita, mas o João adora dirigir e opinar. A gente se deu melhor trabalhando do que na vida de mãe e filho, no fim das contas (risos).
Existe a possibilidade de fazerem outros projetos juntos?
Não pensamos nada ainda. Não temos nenhuma websérie com 200 capítulos na mão ainda (risos). Conheço o João: estou certa de que está fazendo algo só pra ele, para os amigos dele, aposto!
Você gosta de ter ficado marcada como a Magda do Sai de Baixo?
Não tem como lutar contra isso, a Magda é um sucesso enorme. É um patrimônio gigante meu. Minha vida mudou, há o antes e o depois dela. E o melhor: nunca me falta serviço (risos). No fim das contas, a Magda é um instrumento de reflexão, tipo um espelho bem grande. Ela é muito amorosa, por mais que apareça muito a burrice, a alienação e a sexualidade aumentada. Amo a doçura da Magda, ela é uma criança, acaba sendo muito inteligente emocionalmente.
Você mantém contato com o Miguel Falabella? Pensa em fazer uma nova comédia com ele?
É maravilhoso, porque muita gente acha que nós somos casados na vida real. Até hoje, tem vezes que chego em um hotel e falam: "O seu Miguel não veio" (risos). Nós somos grandes amigos, falamos sempre e, sim, megatoparia fazer um projeto novo (com ele)! Tenho uns 150 projetos, mas ele tem uns 9 mil, somos os dois 220 volts (risos). Não sei se faria um novo sitcom, os (serviços de) streaming nos perguntam isso, o quanto o formato ainda tem espaço, então realmente não sei.
O que você diria para a Marisa de 10 anos atrás? E algum recado para ela daqui 10 anos?
A de antes, eu só pediria para ter mais calma, sou muito nervosa, quero tudo pra ontem. É saber respirar mais. Acho a coisa mais bonita mulher calma, é raro (risos). A do futuro? Espero que seja muito acelerada, não penso muito em idade, porque não tenho culpa do dia em que nasci (risos).
Qual é sua opinião sobre a área cultural neste momento?
Uma tristeza enorme. Esse ataque que a educação e a cultura vêm recebendo é uma enorme surpresa, porque é multiplicado por um grupo de pessoas que nunca imaginei que existisse. E ver um político atacando pessoas com 50 anos de trabalho e apoiado por gente que acha que ele está com razão... Já vínhamos com uma moral baixa, cortes de verba, e aí veio a pandemia. Artista gosta de aglomerar, o que não pode agora, não está fácil. Mas o bom é que somos a classe mais elástica e criativa, então a gente vai dar um jeito, vamos dar a volta por cima. Vamos lá então.
JÚLIO BOLL
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