sexta-feira, 31 de março de 2023


30/03/2023 - 15h12min

Atualizada em 31/03/2023 - 09h00min
Martha Medeiros

As mãos são importantes para tudo. Será?

Bastou tocarmos neste assunto para a conversa apimentar. Sexo é manual. A mão desliza pelo corpo e segura tudo o que pertence à intimidade daquele instante. 

O que mais gosto dela são os seus anéis. Mentira. Tudo nela é fascinante. A voz e o que essa voz diz, a cabeça e o que essa cabeça pensa. Um mulherão, a minha amiga. Dona de anéis enormes: pedras roxas, cristais verdes. Sempre teve a mania de esticar o braço para olhar a própria mão. Linda mão, com dedos compridos, unhas bem aparadas. 

Ela podia estar comentando sobre o discurso de um chanceler ou sobre o enredo de um filme, mas em algum momento dava uma espiadinha para sua mão, a fim de apreciá-la com distanciamento, como se faz quando queremos analisar melhor uma obra de arte.

As mãos, uma vez ela me disse, são importantes para tudo. Será? Começamos a listar, durante um almoço, as duas já meio altas. Para cozinhar. Se maquiar. Segurar um cálice. Tocar piano. Abanar. Entregar um presente. Levantar uma pessoa do chão. Mexer o café. Cafuné. Para bater à porta de alguém. Dirigir. Pedir silêncio. Desembaçar o espelho. Aplaudir. Iniciar um namoro (somos do tempo em que se pegava primeiro a mão antes de avançar).

Bastou tocarmos neste assunto para a conversa apimentar. Sexo é manual. A mão desliza pelo corpo e segura tudo o que pertence à intimidade daquele instante. Arranha, puxa, coloca, tira. Que escândalo, nossas risadas sem controle. Foi com minha mão levantada que atraí a atenção do garçom, enquanto minha amiga fazia a mímica clássica de pedir a conta, assinando uma nota no ar.

Há muitos anos que não nos encontramos, ela mora no Exterior. Outro dia, mandou por WhatsApp uma foto da sua mão, agora com dedos tortos e dramáticos, tomados pela artrose. Sua mão continua anatomicamente bela, preparada para agarrar a vida com fúria, mas os anéis foram recolhidos à gaveta e para minha amiga nada mais é trivial. Já não consegue desenroscar a tampa de uma garrafa plástica, nem segurar uma caneta com firmeza. Em nossas trocas de mensagens, agora ela erra ao digitar o emoji, quer encerrar o papo com um coração e manda um unicórnio.

Minha mão também está com o indicador retesado e o “pai de todos” sem nenhuma autoridade. Quando vai comprar seus remédios, pede para o funcionário da farmácia abrir os frascos ali mesmo no balcão. Faz bem. Até eu, com os dedos ainda em bom funcionamento, tenho me desentendido com alguns lacres.

Enfim, são mesmo importantes para tudo. Para virar a página do livro. Sublinhar um trecho. Sentir a temperatura da testa de um filho. Trançar o cabelo da neta. Esculpir. Apontar uma estrela no céu. Espremer o limão. Puxar a coberta no meio da noite. Abrir a cortina. Tirar o carregador da tomada. Programar o micro-ondas. Passar a manteiga no pão. Catar milho no teclado do computador, e com apenas dois dedos, escrever uma crônica assim, sem propósito, puramente sentimental, como se tivesse sido escrita à mão.

 

As novas tecnologias têm transformado o cotidiano das pessoas, e o setor de seguros não ficou para trás. A inteligência artificial (IA), por exemplo, é uma ferramenta cada vez mais utilizada pelas seguradoras para otimizar processos internos e melhorar a experiência do cliente, especialmente no seguro automóvel. Dentre as ferramentas disponíveis no mercado, destaca-se o ChatGPT, que tem sido muito explorado pelos Corretores de Seguros.

Várias companhias do setor de seguros já adotaram a IA para melhorar seus processos e serviços. A Bradesco Seguros, por exemplo, anunciou recentemente que passou a utilizar IA no atendimento a todo o país, com o suporte de uma base de dados estruturada para auxiliar na detecção de perda total de automóveis. A Icatu criou o Data Lake em 2020, um repositório centralizado utilizado na modernização da arquitetura de dados para a nuvem, e adotou o Microsoft Azure para endereçar seus desafios.

A MAPFRE, em parceria com a Tractable, usa a IA para ajudar os clientes a terem seus carros reparados de forma mais eficiente, reduzindo o tempo total de conclusão de sinistros. Já a Tokio Marine utiliza o modelo de IA na avaliação e orçamentação de sinistros no seguro de automóveis, o que otimiza a análise dos danos no veículo sem necessidade de vistoria presencial, além de reduzir o tempo necessário para a liberação de reparos. Na Zurich, a vistoria digital no seguro automóvel também conta com a IA para agilizar o atendimento ao cliente.

A evolução da tecnologia permite que novas possibilidades surjam para aprimorar ainda mais a eficiência, a jornada dos corretores e a experiência do cliente. A IA é uma ferramenta importante para as seguradoras que buscam se manter competitivas em um mercado cada vez mais exigente e dinâmico.

Os Corretores de Seguros também têm usufruído da IA, mais precisamente do ChatGPT. Em entrevista ao CQCS, alguns profissionais revelaram como o recurso agrega no cotidiano e pode ajudar na prospecção de clientes. Segundo Leonardo Foltran, da Bom Retiro Seguros, a IA tem sido uma grande aliada no gerenciamento de tempo, um dos grandes desafios da profissão.

 “Muitas vezes, é necessário exercer várias funções em um determinado momento e ainda assim atender os clientes da melhor forma possível. A IA tem auxiliado nesse processo”, destacou.

Apesar de ser uma ferramenta em desenvolvimento, o ChatGPT tem muito a entregar para os corretores. “Nós já obtivemos alguns resultados nas campanhas de consórcios, por exemplo. Consegui atrair três negócios. Acredito que toda ferramenta se usada na maneira corretora, chega para agregar”, completou o corretor.

Ithalo Gouvea, da Racsel Corretora, disse que usa a IA para criação de textos que são usados em speechs comerciais, apresentação das propostas de seguros aos clientes, criação de e-mails mais objetivos e na criação de textos e conteúdos que utiliza nas redes sociais.

Desde que começou a utilizar, Ithalo notou que a interação do público nas redes sociais aumentou consideravelmente. “Ainda não tenho precisão quanto aos números, mas ontem fui surpreendido com um elogio de um cliente em relação a minha abordagem e apresentação, na sequência concluímos com o fechamento da proposta”, acrescentou o Corretor, que disse não querer mais trabalhar sem a companhia do ChatGPT.

Assim como Leonardo e Ithalo, Allan Kozuma, da Forthe Corretora de Seguros, sentiu uma mudança positiva e teve seu tempo otimizado com a ferramenta. Ele usa para criação de fichas técnicas, textos e outras rotinas do dia a dia. “Direciona e simplifica diversos processos”, pontuou.

O profissional acredita que vai ser um grande diferencial no mercado, assim como Analice Silveira, da Terra Fértil Corretora de Seguros, que apesar de não ter mensurado nenhum resultado a curto prazo, tem gostado da performance da IA. “Aconselho todos os profissionais a explorarem essa novidade. Cada dia que utilizo descubro mais funcionalidades e vejo que pode sim agregar muito no dia a dia das nossas atividades. É facilidade para nós dar mais ferramentas assertivas para o dia a dia”, aconselhou. 

“É uma ferramenta incrível que chegou para auxiliar no processo de vendas”, revelou Alberto Eduardo, da New Seg Corretora.

De acordo com informações do próprio ChatGPT, a ferramenta pode ajudar o corretor nas vendas de diversas maneiras, permitindo que ele ofereça um atendimento mais ágil, personalizado e eficiente aos seus segurados. Dentre as dicas, estão: oferecer informações sobre os produtos de seguros e responder a perguntas frequentes, identificar as necessidades e personalizar a experiência dos clientes, realizar cotações de seguros e fornecer respostas rápidas, além de fornecer suporte pós-venda.


As recentes crises geopolíticas por Robert D. Kaplan

Especialmente depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), passamos a vivenciar, em nível mundial, grandes crises geopolíticas - e quem pensou que, depois da queda do Muro de Berlim e da queda do império russo, os Estados Unidos reinariam sozinhos e soberanos se enganou e viu a China crescer e tornar-se protagonista mundial.
A Mente Trágica (Avis Rara- Faro, 128 páginas, R$ 39,90, tradução de Fábio Alberti), de Robert D. Kaplan, consagrado jornalista, pensador e escritor best-seller é uma densa, criativa e instigante análise sobre as recentes crises geopolíticas. O grande mérito e diferencial da obra é que ela utiliza as lentes das tragédias literárias antigas e modernas (Shakespeare, filósofos alemães, dramaturgos gregos, clássicos modernos) para explorar os temas centrais da política internacional: ordem, desordem, rebelião, ambição, lealdade à família e ao estado, violência e os erros do poder.
O livro de Kaplan é fruto de uma vida inteira de viagens, reportagens sobre guerras, revoluções e política internacional na Europa, Oriente Médio e Leste Asiático. Kaplan escreveu vinte e um livros, foi repórter do The Atlantic por três décadas. Ele morou dezesseis anos no exterior, serviu por um ano nas Forças de Defesa de Israel e viveu nove anos entre Grécia e Portugal.
Para Kaplan, os grandes problemas da política internacional não são travados pelo bem contra o mal - o que seria uma escolha moral fácil - mas, isso sim, por disputas do bem contra o bem, em que as escolhas são muitas vezes abrasadoras, incompatíveis e repletas de consequências.
Como se vê, unindo com muita habilidade sua intensa prática jornalística e seus caminhos pelo mundo e teorias e legados de grandes autores como Ésquilo, Eurípides e Sófocles, Kaplan nos estimula a enxergar o mundo como ele é, entender as tragédias de nosso tempo e buscar novas visões políticas para enfrentar as duras questões que nos afligem cotidianamente. 

Lançamentos

O Guarda-Chuva Azul (Editora Melhoramentos, 32 páginas, R$ 39,90) da britânica Emily Ann Davison, com ilustrações de Momoko Abe, fala sobre empatia, diversidade e respeito com crianças e mostra como viver bem, com amor e solidariedade, em sociedade.

Sob efeito de plantas (Editora Intrínseca, 320 páginas, R$ 59,90) do célebre jornalista, professor e escritor Michael Pollan, autor do best-seller do N.Y. Times Como Mudar sua Mente, fala sobre drogas, plantas e seres humanos , desafiando nossas idéias sobre os temas até o momento e convidando-nos a novas visões.
A Nova Roma (Artêra-Appris, 215 páginas, R$ 26,90), livro-reportagem do talentoso e experiente jornalista e escritor Paulo Cannabrava Filho, mostra com dados consistentes como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa de países da América.

Porto Alegre, muitas

Porto Alegre, tipo o livro Cidades Invisíveis do genial Italo Calvino, tem muitas cidades dentro de si, visíveis e invisíveis. Nossa açoarianazinha que é agora quase nada tímida, só tem 250 anos e é uma guria perto de Salvador, São Paulo ou Rio. Imagina só como vai ser quando completar 400 ou 500 anos. Portinho é boa de nascer, crescer junto, ficar amigo, namorar, noivar e casar. Portinho também pode ser um crush, ficante, ficante fixa e outros efes fixos...

Porto Alegre, especialmente em abril e outubro, os meses de melhores céus, humores e temperaturas, é ótima para ficar e segue um excelente lugar para voltar. No inverno é melhor fugir do frio, dos ventos, das chuvas e das rinites e sinusites e se mandar para algum lugar ensolarado. O Rio de Janeiro permanece como nosso pampa-mor de areia e, ultimamente, alguns friorentos estão criando uma colônia lá para os lados de Miami. Me disseram até que como tem muito gaúcho em Miami, resolveram criar atividades culturais por lá, onde sempre a coisa foi mais para banco, praia e shopping.

Grande coisa quem não pode e não quer sair de POA no inverno. Cobertores de orelha, lareiras, bebidas e comidas quentes nunca faltaram. Pinhão com quentão quebram o galho, junto com romanções de seiscentas páginas e overdoses de maratonas de séries na TV. Pensando bem, sempre foi legal viajar por aqui mesmo.

No velho Centro Histórico, na Cidade Baixa e nas ilhas dá para sentir cores e sabores dos Açores. Tomara que mais gente vá morar no centro e que ele ganhe a vida que tinha. Floresta, Moinhos, Bela Vista e Quarto Distrito são nossas Alemanha, Áustria, Polônia e Bélgica e segue o chope com sanduíche-aberto, nosso prato principal ao lado do churrasco e da feijoada.

Quem não está conseguindo ir para N. York pode aproveitar o Central Parcão, que está sendo revitalizado. A passarela entre as duas partes dele lembra o aterro do Flamengo e as casas geminadas da Félix da Cunha são Londres.

Para quem é mais chegado na Itália e na Toscana, é só chegar na Vila Nova ou Belém Velho e aí colinas verdejantes, pêssegos, uvas e outras frutas vão te lembrar da “bota” linda, ensolarada e colorida que tem uma primeira-ministra que já está durando um tempão, mais de três meses no cargo.

Japão é meio longe, mas vai na Praça Shiga, na Cristóvão, perto da antiga casa da Elis Regina ou no restaurante Sakae's ou nas outras dezenas de japas e aí tudo bem. Restaurantes chineses ainda temos muitos. Restaurantes árabes e hebraicos Porto Alegre tem. Se és chegado em arquitetura e jardins de características francesas, vai ali nos Jardins do Dmae e curte a pintura nova do Torreão e dos prédios que lembram Versailles. De repente leva uma baguete, queijinho, frutas e um tinto esperto e aí o picnic europeu, sem passaporte e euros, está garantido.

Porto Alegre é ainda cinemeira, teatreira, jazzista, cervejeira e território democrático de samba, hip-hop, funk, bossa nova, MPB e funk da melhor qualidade, se não quiseres viajar para ouvir jazz em New Orleans e adjacências.
A propósito
Então é isso. Porto Alegre é rica e diversa em muita coisa. Especialmente rica pelas mulheres mais inteligentes e bonitas do planeta. Em abril elas ainda estão bronzeadas. Viajar é bom, é ótimo, vá em frente. Viaje pelo mundo ou por Porto Alegre, que tem muitos mundos. Lá do morro Santa Tereza Portinho e suas colinas parecem São Francisco da Califórnia e o skyline do Centro lembra Manhattan. Tenha olhos de criança e de turista e viaje muito, inclusive na maionese da churrascaria Princesa Isabel. Portos Alegres são demais.

 Clube da Chave: a casa noturna mais intelectual de Porto Alegre

Com alta frequência de artistas e intelectuais, casa noturna fundada por Ovídio Chaves foi ícone charmoso de um período entre os dancing-cabarés dos anos 1940 e as modernas boates das décadas seguintes
Com alta frequência de artistas e intelectuais, casa noturna fundada por Ovídio Chaves foi ícone charmoso de um período entre os dancing-cabarés dos anos 1940 e as modernas boates das décadas seguintes
ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Marcello Campos
Esta reportagem abre a segunda temporada da série Porto Noite Alegre, publicada sempre na última sexta-feira do mês no caderno Viver. Confira aqui as edições anteriores da série. 
Reza a cartilha boêmia que seus adeptos não devem passar para o outro lado do balcão, sob risco de encontrarem sarna para se coçar. Mas há exceções honrosas, e a história de Porto Alegre mostra que a pulga ter o próprio cachorro pode dar certo, ao menos por algum tempo. Que o diga certo sobrado do bairro Rio Branco onde o jornalista, poeta, compositor e violonista Ovídio Moojen Chaves (1910-1978) converteu sua residência em uma das mais célebres casas noturnas do Sul do País entre novembro de 1953 e abril de 1956, antes que o caminhão de mudanças a levasse para o Menino Deus e o Centro até o final daquela década.
Sem luxos, mas esbanjando charme, o número 618 (hoje 624) da rua Castro Alves, esquina com Mariante, catalisou as atenções de uma Capital dividida entre mentalidade conservadora e pretensões cosmopolitas. Logo virou ponto de convergência de uma elite cultural refinada, gente de imprensa e outras figuras de destaque social. Homens e mulheres. Todos fisgados por uma programação de música, artes plásticas, teatro e literatura em um espaço com bar, palco mignon, piano e galeria de exposições na "sobreloja". Para dançar, dava-se um jeito nos poucos espaços sem mesas ou grupos de conversa.
Não se tratava de mero trocadilho com o sobrenome de seu dono. Finésse adotada por uma boate homônima no Rio de Janeiro em 1953-1955, o "clubinho" da Capital oferecia chaves para que sócios (pagando mensalidade) guardassem a bebida de sua preferência em escaninhos de um armário próximo à copa. "Ovídio era meu herói e deixava que eu ficasse horas ancorado no balcão, com uma cuba-libre que durava a noite inteira", relembraria o jornalista e escritor santoangelense Fausto Wolff (1940-2008) em crônica de 2006 para o Jornal do Brasil. "Eventualmente, alguma mulher se apiedava de mim e me levava para a casa dela."
Mostras, peças cênicas, coquetéis, palestras, recepções, shows, recitais e até serenatas radiofônicas ao vivo se intercalavam com altos bate-papos madrugada adentro, em um espaço para pouco mais de 50 pessoas. Palavras umedecidas por uísque e revigoradas por sopa de cebolas ou picadinho com milho-verde. Na trilha sonora, acordeonistas como Victor Canella e pianistas do naipe de Aristides Villas-Boas, sem contar atrações sul e centro-americanas. O dono sentado com seu exclusivo violão de 13 cordas ("confeccionado com madeira de um guarda-roupas", dizia-se) ou circulando sorridente por uma concentração de gênios por metro-quadrado raramente vista nessa parte do globo.
Erico Verissimo. Mario Quintana. Iberê Camargo. Danúbio Gonçalves. Carlos Scliar. Edgar Koetz. Vitório Gheno. Gilda Marinho. Forasteiros afamados como Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Nicette Bruno, Renata Fronzi, Ivon Cury, Agostinho dos Santos e até um João Gilberto pré-bossa nova, nos oito meses em que fez de Porto Alegre um de seus refúgios antes de conquistar ouvidos mundo afora. Não por acaso, a agremiação acabou assumindo status de ponto turístico informal, conforme indicado em seus poucos anúncios - dispensáveis para um endereço onipresente em notas, colunas, reportagens e comentários boca-a-boca.
Espaço vanguardista de diversão e cultura
Sobrado no bairro Rio Branco conquistou a boemia refinada com um cardápio repleto de música e outros atrativos
Sobrado no bairro Rio Branco conquistou a boemia refinada com um cardápio repleto de música e outros atrativos
ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
O Clube da Chave protagonizou um movimento típico de seu tempo: as casas noturnas de dimensões relativamente pequenas, perfil mais intimista e onde a clientela feminina era muito bem-vinda. Riviera, Vogue, Cotillon, Radim, Michel, Je Reviens, Gay-Time, Vila Sueca, Cote D'Azur, Maxim's, Scotch, Black Horse. Fincados sobretudo em um perímetro abrangido pelo Centro e bairros próximos, esses recantos elegantes sintetizam uma fase de transição entre os dancing-cabarés dos anos 1940 (American, Marabá, Castelo Rosado) e as modernas casas noturnas (Baiúca, Crazy Rabbit, Encouraçado Butikin) que se firmariam nas décadas seguintes.
Ao fazer da boemia um negócio (nem sempre lucrativo), Ovídio Chaves já ostentava um produção consistente em poesia e incursões como letrista de música popular. Tinha 44 anos - um coroa para os padrões da época - e se desvinculara das atividades em rádio e jornal para assumir emprego de gabinete na Secretaria Estadual da Educação. Mas era um novato no ramo de boates, e nem seu espírito bonachão ou as boas relações nos mais variados círculos se mostraram suficientes contra dores de cabeça na fase inicial do empreendimento. Se dinheiro não o tirava o sono, por outro lado havia uma série de desconfianças e mal-entendidos a contornar.
O movimento constante e com alta frequência de mulheres bonitas naquela esquina do pacato bairro Rio Branco causou estranhamento à vizinhança e, de imediato, encrespou os bigodes da Delegacia de Costumes, desconfiada do funcionamento de um rendez-vous ou algo do gênero. 'Até alguns amigos pensaram se tratar de outra coisa", desabafou a um repórter do jornal Última Hora em dezembro de 1954, mais de um ano após a inauguração. "Inúmeras foram as dificuldades que enfrentei para montar um ambiente decente, onde os intelectuais pudessem reunir-se à vontade, sem os limites da vida provinciana mas dentro da mais estrita moralidade."
Baixada a poeira, o sobrado rapidamente se firmou como opção vanguardista de diversão e cultura nas noites de Porto Alegre. Ainda é possível encontrar testemunhas como o artista gráfico, pintor e professor aposentado Joaquim da Fonseca, 88 anos. Ele conheceu esse cenário quando aluno do Instituto de Belas Artes e diagramador da Revista do Globo, por volta de 1955: "Os sócios podiam levar convidados, e foi assim que entrei algumas vezes com minha turma, levado por um amigo desembargador. A configuração simples e elegante dava ares de uma casa familiar charmosa e acolhedora, com sofás e bancos altos junto a um balcão de madeira no bar". 

Cartão de visita restaurado, produzido pelo artista Vitório Gheno
Cartão de visita restaurado, produzido pelo artista Vitório Gheno
ACERVO VITORIO GHENO/REPRODUÇÃO/JC
A reminiscência é endossada pela servidora estadual inativa Neusa Barcellos Lima, 83 anos, viúva do violonista Raul Lima (1924-2015), cofundador do Conjunto Melódico de Norberto Baldauf e, a exemplo de Ovídio, um discípulo do mestre das cordas Octavio Dutra (1884-1937). "Eu me recordo muito bem dessa boate ma-ra-vi-lho-sa, que deixou tantas saudades!", emociona-se. "Era um ambiente super gostoso para conversar e ouvir músicas sempre agradáveis. E a todo momento havia pessoas conhecidas da cidade, em momentos de diversão ou mostrando coisas interessantes, sempre em um clima do maior respeito."

O artista plástico e então decorador de interiores Vitório Gheno, responsável pelo lay-out interno do clube, contribui com a memória fantástica de seus quase 100 anos a se completarem em outubro. "Quando surgiu a proposta de se realizar uma exposição do pintor e meu amigo João Fahrion (1878-1970), ele resistiu de início, mas acabou concordando em ceder alguns quadros", relembra. "Foi um tremendo sucesso, com fila do lado de fora, só que alguém furtou um dos trabalhos. Deixamos passar alguns dias, publicamos uma nota em jornal e nada. O Fahrion ficou possesso, quase brigamos, apesar de eu não ter culpa alguma. Nunca recuperamos a tela."

"Organização Ovídio Chaves"

Anúncio da "Organização Ovídio Chaves", que se tornou famosa na Porto Alegre de meados do século passado
Anúncio da "Organização Ovídio Chaves", que se tornou famosa na Porto Alegre de meados do século passado
ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Avesso à ideia de que seu negócio envolvesse fins lucrativos, Ovídio fazia questão de brindar a classe artística local com descontos de até 50% e outras cortesia, além de praticar um desprendimento bastante comum e nada recomendável para empresas frequentadas por amigos do dono: a tolerância aos penduras. As finanças seguidamente no vermelho eram colocadas nos eixos com dinheiro do próprio bolso e eventuais "mordidas" a conhecidos ou passadas de chapéu entre simpatizantes da nobre causa. "É bem verdade que às vezes o esquema compensa", amenizava o poeta, auxiliado na recepção e gerenciamento do lugar pelo casal Augusto e Nora Arrioli.
Ele também não se contentava em apoiar somente os talentos emergentes da música, teatro, literatura ou artes plásticas. Havia toda uma mobilização em prol da velha guarda da classe, por meio de ações solidárias como a destinação integral do lucro de diversos espetáculos para a Casa do Artista Riograndense, fundada no final dos anos 1940 pelo músico e radialista Antônio 'Piratíni' Amábile (1906-1953) e que tinha no sobrado da rua Castro Alves um prolongamento imaginário - vínculo explicitado inclusive em estilosos cartões-de-visita ilustrados para o clube pelo colaborador permanente Vitório Gheno, dono de um estilo inconfundível.
O saldo geral das aventuras - com ou sem prejuízos financeiros - se mostrou positivo a ponto de motivar Ovídio a duas novas investidas no primeiro semestre de 1955, com a abertura praticamente simultânea de mais dois bares-boates: o Ivanhoé, com som mecânico e pista de luz-negra no famoso castelinho de pedras do Alto da Bronze (Centro), e o Piano-Drink, com música ao vivo em um trapiche de madeira sobre palafitas na orla do Guaíba próximo ao atual ginásio Gigantinho (Praia de Belas), em tempos pré-aterro. Surgia a "Organização Ovídio Chaves", espécie de selo de qualidade atribuído ao primeiro conglomerado noturno da cidade.
 

Ovídio Chaves, acompanhado do seu folclórico violão de treze cordas
Ovídio Chaves, acompanhado do seu folclórico violão de treze cordas
ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Motivos hoje desconhecidos decretaram a transferência do Clube da Chave para o casarão de número 1.343 na avenida Getúlio Vargas, próximo à rua Barbedo (Menino Deus), em abril de 1956. Na calçada oposta à do terreno onde se realizava a feira agropecuária futuramente conhecida como Expointer, a intensa programação do endereço original não apenas se manteve como ganhou "a melhor pista para se dançar" - no ano seguinte, recebeu com simpatia um tal de rock'n'roll. O sucesso das três casas estimulou Ovídio a diversificar sua veia empreendedora, com a montagem de uma churrascaria anexa, a Galpão Gaúcho, de "comida regional e doméstica".

"Cumpre assim a 'organização' a tarefa de oferecer à cidade e seus forasteiros uma vida social à altura de seu desenvolvimeno, com atividades artístico-culturais e sociais para os elementos da boemia aristocrática que gosta de se divertir em boa paz", registrou a Folha da Tarde. Entre o pessoal da noite, um consenso: não visitar ao menos um dos quatro locais impossibilitava qualquer sujeito de dizer que conhecia Porto Alegre para valer. Pois o clube ia às mil maravilhas quando o dono do imóvel na Getúlio Vargas pediu sua desocupação para que ali fosse instalada uma clínica geriátrica, que alguns anos depois daria lugar ao Hospital Doutor Frederico Kierfer.

Restou ao mais famoso empreendimento de Ovídio um terceiro e último endereço, entre agosto de 1958 e o final do ano seguinte: o número 404 da rua Doutor Flores, quase esquina com a avenida Salgado Filho, no Centro. Sem repetir o sucesso dos dois pontos anteriores, o negócio acabaria murchando junto com o Ivanhoé e o Piano Drink - na conta pesaram fatores pessoais, financeiros e outras desmotivações. Qualquer chance de retomada da trajetória de rei da noite seria sepultada de vez em 1961, com um convite do então recém-empossado presidente João Goulart para trabalhar como diretor de redação na Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

Da penumbra à escuridão, mas sempre aberto à poesia

Antiga sede do Clube da Chave, sobrado na Castro Alves hoje abriga uma clínica
Antiga sede do Clube da Chave, sobrado na Castro Alves hoje abriga uma clínica
MARCELLO CAMPOS/ESPECIAL/JC
As mesmas ligações com o PTB que proporcionaram o retorno à imprensa, bem como a presença de simpatizantes do comunismo na emissora, culminaram no trecho mais sombrio do percurso de Ovídio. Incluído na caça às bruxas da ditadura que sequestrou o Brasil em 1964, foi demitido e conheceu a covardia da tortura nos porões do Exército. “Meu pai chegou a ficar desaparecido por dois meses”, testemunha o marchand Luciano Moojen Chaves, 67 anos, residente em Cabo Frio (RJ) e caçula da escadinha de três filhos do poeta com a advogada, professora e antropóloga Hermínia Berthier Machado Chaves (1931-1994). Foi salvo graças à interferência do marechal gaúcho Cordeiro de Farias, ex-interventor do Rio Grande do Sul.
“Quando finalmente o soltaram, estava uns 20 quilos mais magro”, emenda o primogênito Luiz Antônio Chaves, 70 anos e radicado em Passo Fundo (RS) como aposentado da extinta telefônica CRT. Irmã do meio e moradora de Copacabana, a psicóloga Maria Lívia, 69, adiciona: “Ele não costumava comentar conosco essa experiência triste, nem seu passado boêmio no Sul, creio que por seremos ainda bem jovenzinhos na época. Das melhores memórias de meu pai, guardo os almoços animadíssimos ao lado dos amigos e do violão, com muita música, poesia e arroz-de-carreteiro. E do papel e caneta sempre no bolso para os momentos de inspiração.”
 
O eterno poeta passou a viver em autoexílio quase clandestino (apesar da casa sempre com visitas) na ilha fluminense de Paquetá, produzindo textos não assinados para a revista Manchete e outros veículos, além de trabalhos para a Biblioteca Nacional e editoras – gentileza de velhos amigos. Retomou a escrita e, autodidata em quase tudo o que fazia, mostrou talento como artesão de bolsas e cintos de couro, vendidos na feira que ajudou a fundar com jovens hippies na praça General Osório, em Ipanema. Até que o seu coração escrevesse a última estrofe, durante cirurgia coronariana em 3 de agosto de 1978, cinco dias após completar 68 anos de um enredo digno de filme.
 
Na Porto Alegre que deflagrou a aventura empresarial de Ovídio Chaves (e à qual jamais retornou), seu nome consta em placa de rua do bairro Santa Rosa de Lima, na Zona Norte. Uma homenagem modesta e longínqua dos dois únicos pontos ainda de pé nesse itinerário boêmio: o sobrado da Castro Alves e a pequena fortaleza medieval no Alto da Bronze. O primeiro hospedou loja de surf e, desde 1980, abriga uma clínica médica. Já o outro serviu para que um político escondesse a amante dos olhares da cidade, antes de virar centro cultural e residência particular. Caso raro de preservação em uma capital sem a menor cerimônia em varrer do mapa a história não contada nos livros.

Personagem multifacetado

Detalhe da capa de 'Capricornius', um dos livros (e único romance) publicados por Ovídio Chaves
Detalhe da capa de 'Capricornius', um dos livros (e único romance) publicados por Ovídio Chaves
MARCELLO CAMPOS/ESPECIAL/JC
"Ovídio era primogênito de sete filhos [incluindo cinco mulheres] e o único intelectual", depõe o sobrinho Ricardo "Kadão" Chaves, 71 anos, fotógrafo e editor da coluna Almanaque Gaúcho no jornal Zero Hora. Filho do jornalista, compositor e político Hamilton Chaves (1925-1985), ele define como "meio obscuros" os motivos que levaram a família a trocar Lagoa Vermelha (Região Nordeste do Estado) por Porto Alegre, no final da década de 1920. "É provável que ele tenha se estabelecido antes na Capital, estimulando assim o pai, de personalidade forte e dado a aventuras, na decisão de tomar o mesmo caminho com o restante da turma."
Lacunas biográficas à parte, a trajetória iniciada como músico de acompanhamento em filmes do cinema mudo na cidade interiorana encontrou na metrópole um ambiente propício a seus múltiplos talentos. Foi diretor artístico da Rádio Gaúcha nos anos 1930, cronista da Folha da Tarde (sob o pseudônimo "Sheriff"), violonista, poeta e compositor, antes de fundar o Clube da Chave. Seu xote Fiz a Cama na Varanda, lançado em disco de 1944 pela amiga Dilú Melo, repercutiu nacionalmente com dezenas de versões - até Nara Leão o gravou. São de sua autoria, ainda, AlecrimSonho de AmorMenino dos Olhos TristesToada do Jangadeiro e Meia Canha, dentre outras. 

Composição de Ovídio Chaves, 'Fiz a Cama na Varanda' foi interpretada por vários artistas
Composição de Ovídio Chaves, 'Fiz a Cama na Varanda' foi interpretada por vários artistas
ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Seus versos obtiveram reconhecimento ainda maior, sob elogios de colegas do primeiro time. Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mario Lago. O mesmo afago recebeu de conterrâneos como Erico Verissimo, Lila Ripoll e Mario Quintana - que carinhosamente o chamava de "Ave Noturna". Compartilhada com leitores de jornais e revistas, a produção poética também gerou nove livros do gênero - Cancioneiro (1933), Anel de Vidro (1935), Uma Janela Aberta (1938), ABC de Paquetá - Guia Poético da Ilha (1967), o póstumo Chão de Infância (1980) e os inéditos Diário MorrerMini-Sonetos e Vício Literário. E com espaço para um romance, Capricórnius (1945).
A consagração literária veio aos 57 anos. "Sem aviso, em 1967 minha mãe inscreveu os originais do ABC de Paquetá no Concurso Nacional de Poesia Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras", conta o filho Luciano. "Ao saber pela imprensa que havia sido laureado com o primeiro lugar e por unanimidade do júri, teve medo de ser preso novamente e então buscou esconderijo na casa de uns camaradas no bairro da Urca. Mas no dia da entrega do prêmio mudou de ideia e decidiu comparecer à cerimônia na ABL (com sessão de autógrafos), junto com dona Hermínia, eu e meus irmãos Luiz Antônio e Lívia, todos adolescentes. Nenhum agente da repressão apareceu".
 
* Marcello Campos é formado em Jornalismo, Publicidade & Propaganda (ambas pela PUCRS) e Artes Plásticas (UFRGS). Tem seis livros publicados, incluindo as biografias de Lupicínio Rodrigues, do Conjunto Melódico Norberto Baldauf e do garçom-advogado Dinarte Valentini (Bar do Beto). Há mais de uma década, dedica-se ao resgate de fatos, lugares e personagens porto-alegrenses.

Atenção no Seguro, por Gerson Anzzulin: O seguro que garante a manutenção dos estudos

Ana Flavia Ribeiro Ferraz é presidente da Comissão de Riscos Temporários da FenaPrevi

Ana Flavia Ribeiro Ferraz é presidente da Comissão de Riscos Temporários da FenaPrevi


FENAPREVI/DIVULGAÇÃO/JC
O Seguro Educacional é uma forma de garantir que os estudos não sejam pausados, caso qualquer acontecimento prejudique o pagamento das mensalidades. O produto funciona como uma garantia para alunos de instituições particulares, do maternal ao ensino superior.
Conforme a presidente da Comissão de Riscos Temporários da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida, Ana Flavia Ribeiro Ferraz, o seguro educacional está atrelado ao custeio de despesas escolares, cobrindo o pagamento de um número de mensalidades escolares definida no contrato, em caso de ocorrência do evento coberto.
Ana Flavia disse que o seguro educacional permite a continuidade do custeio das mensalidades caso ocorra um imprevisto, como desemprego ou morte do responsável financeiro e a família não tenha a possibilidade de bancar o custeio da educação. “O objetivo é dar continuidade, uma espécie de ferramenta que a família pode contar para garantir o estudo dos filhos”, destacou.
A dirigente da FenaPrevi lembrou que o seguro educacional dispõe também de outras coberturas, além da perda de renda em virtude de doença, acidente ou desemprego. “O seguro educacional recompõe o valor (parcial ou total) durante o período contratado. Pode ser o ciclo completo (semestral ou anual) para educação dos níveis básico, fundamental, médio e superior”, afirmou.
Levantamento da FenaPrevi indica que maior parte das contratações ocorre para o semestre. Geralmente o seguro educacional é oferecido pelas instituições de ensino. Na avaliação de Ana Flavia Ribeiro Ferraz, o seguro educacional tem espaço para crescer, pois está inserido entre os 10 maiores seguros do país.
Ressaltou ainda que é preciso destacar que o segmento de ensino particular foi afetado com a pandemia. Pesquisa realizada pelas instituições apontou que 27% das matrículas não foram renovadas entre os anos de 2021 e 2022. Por outro lado, o segmento seguro educacional teve um crescimento de 6,7% entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023.
Outro ponto realçado pela presidente da presidente da Comissão de Riscos Temporários da FenaPrevi é o aspecto social do seguro educacional. “O produto garante o custeio das mensalidades num momento de dificuldades da família. Ressalte-se também que uma mudança de escola pode afetar psicologicamente o aluno e a própria família”, concluiu.

31 DE MARÇO DE 2023
DANIEL SCOLA

Quem deve regular as redes

Ao longo da história, houve uma série de transformações que sobressaltaram as pessoas e demoraram para se acomodar no dia a dia da sociedade. A tipografia, que permitiu a impressão de livros; a revolução industrial, que teve, no início, uma resistência enorme e depois se mostrou fundamental para o desenvolvimento, e tantas outras.

Poucas destas revoluções conseguiram provocar tamanho alvoroço como a internet. Com ela, surgiram as redes sociais, que não são, em absoluto, um evento passageiro. Sobre redes tem-se falado bastante, principalmente contra, e não é sem motivo. Entre tantos problemas, as pessoas ali são de uma aspereza chocante.

Ocorre que, por mais problemas, críticas e detratores que possam surgir, se a história seguir o seu curso e o seu padrão, em breve vamos estar acostumados com todo este burburinho que as redes provocam. No meio do caminho, reputações são machucadas, campanhas são manipuladas e informações falsas são propagadas em escala industrial. O antídoto mais imediato para isso (porque o fenômeno tende a se agravar com as deepfakes, mentiras tão bem construídas com a ajuda de computadores) é a imprensa profissional.

Agora que o material mentiroso feriu muita gente, o governo Lula quer "regular" as redes. Mas não é o presidente que deve ter a obrigação de se preocupar com isso. Aliás, um presidente costuma ter coisa de sobra com que se preocupar. E se a fake news for a favor do político no poder, qual será a postura do governo de plantão? E se for contra? Terá um governante isenção suficiente para tomar a frente deste debate?

Nesta nova onda regulatória, houve até o lançamento de uma plataforma digital para rastrear fake news, já que mentiras são um grande mal nas redes. Grande e já se pode dizer que antigo. Há mais de cinco anos, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral ministro Luiz Fux manifestava preocupação com informações falsas nas redes que poderiam transtornar a eleição de 2018. De lá para cá, o fenômeno cresceu, mas, ainda assim, não se pode deixar com o Estado a autonomia para intervenções nas redes. São as plataformas e os usuários que devem fazer uso mais adequado do instrumento e, com isso, encaminhar as soluções.

DANIEL SCOLA

quinta-feira, 30 de março de 2023

“Saiba mais” é uma minhoca na ponta do anzol se enrabichando para um bagre

Temos sido seduzidos pela facilitação de realizar nossos desejos, sem perceber que, na maioria das vezes, são desejos provocados pelo imediatismo da oferta. Temos sido seduzidos pela facilitação de realizar nossos desejos

Que as redes sociais nos sequestraram, novidade nenhuma. É a primeira coisa que se faz pela manhã, com o olho semiaberto: ver que horas são no aparelho celular. Daí em diante, entramos em cativeiro digital. Somos abduzidos pelo telefone que não é mais telefone, e sim fonte de informação, fofoca, entretenimento e egotrip.

Da simples bisbilhotagem passamos para a hipnose consentida. Para minimizar o estrago, sigo uma turma de reconhecida credibilidade e inteligência. São jornalistas, filósofos, psicanalistas, médicos, escritores, fotógrafos, músicos, atores, humoristas e alguns canais de notícia. 

Em troca, recebo dicas de leitura, vídeos turísticos e de arte, poemas, muito ativismo, entrevistas e trechos de programas que perdi – uma cachaça cultural que entusiasma e estimula. O problema é que os algoritmos não sossegam enquanto não nos capturam, e então surgem os milagreiros comerciais no meio da “programação”. Quer emagrecer 30 quilos em 10 dias? Quer acabar com a insônia de forma definitiva? Quer ter um rosto sem marcas de expressão? Clique aqui e saiba mais.

“Saiba mais” é uma minhoca na ponta do anzol se enrabichando para um bagre. Você não é um bagre, mas, quando vê, está estendido na margem do rio, fisgado. “Saiba mais” conduzirá para um vídeo de 25 minutos onde um estranho vestindo um jaleco se anunciará como especialista em algo que vai mudar sua vida em seis prestações. 

“Saiba mais” apresentará roupas que ficam perfeitas em mulheres que pesam 40 quilos. “Saiba mais” é um teste sobre o quanto você sabe sobre você: pouco ou nada? Nas poucas vezes em que cliquei no “saiba mais”, perdi um tempo precioso em que poderia estar lendo um livro e realmente sabendo mais. Eu, de novo, insistindo em leitura, mas se alguém te convida a saber mais, você busca o quê? Um catálogo de vendas?

Investir em conhecimento é o antídoto para o impulso de comprar por comprar. Temos sido seduzidos pela facilitação de realizar nossos desejos, sem perceber que, na maioria das vezes, são desejos provocados pelo imediatismo da oferta. A gente coloca nossa carência no carrinho, confirma a aquisição e parabéns, você acaba de ficar um pouco mais falido.

Abro a gaveta do banheiro e penso: três batons não seriam suficientes? Encontro um creme que perdeu o prazo de validade antes que eu o abrisse. E a ciranda das ilusões segue girando. Inglês fluente em um mês. Sapatos que nunca apertarão. O fim da queda dos cabelos. 

Enquanto isso, ninguém procura formas consistentes de combater o próprio vazio, poucos discutem essa sociedade que se alimenta da frustração e já não há controle para os elevados índices de ansiedade. Contrariando os apelos tecnológicos, o benefício de saber mais é, entre outros, não precisar consumir tanto.


AS TRÊS TROUXAs

Michelle Yeoh, 60 anos: alguns dirão que uma idosa ganhou o Oscar

Você deve ter visto. Três panacas, calouras de Biomedicina de uma universidade de Bauru, no interior de São Paulo, viralizaram com um vídeo em que debochavam de uma colega mais velha.

Panaca 1: Gente, quiz do dia: como desmatricula uma colega de sala?

Panaca 2: Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada.

Panaca 3: Realmente.

Panaca 1: Gente, 40 anos não pode mais (sic) fazer faculdade. Eu tenho essa opinião.

Depois as três ainda falavam, achando engraçadíssimo, que a colega não deveria nem saber o que é Google. Encerravam o vídeo aos risos, divertidas com a esperteza do post.

Só que não – óbvio. Assim que o vídeo das três patetas ganhou o mundo, os alunos se solidarizaram com a colega humilhada que, depois de muito trabalhar na vida, enfim estava realizando o sonho de cursar uma faculdade.

Patrícia Linares, de 44 anos, contou ao g1 que assistiu ao vídeo dentro da sala de aula, enquanto se preparava para apresentar um trabalho. E chorou muito. Engraçado que a sensação dela foi a de ficar com vergonha, quando vergonha deveriam ter as três pamonhas. Só que essas, à moda de todo burro orgulhoso, filmaram sua ignorância e seus preconceitos como se estivessem abafando.

Não demorou para uma das três vir a público se mostrando arrependida. “Nunca foi intenção dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”.

De onde se conclui que foi a proporção – que elas não imaginavam – que motivou o arrependimento. Isso acontece muito: criatura faz cacaca e depois chora na frente da câmera não pelo que causou ao outro, mas pelo que pode acontecer com ela mesma. É um clássico.A universidade prometeu tomar medidas administrativas a respeito do caso, o que parece ter se resumido a uma advertência de caráter educativo, seja lá o que isso signifique. Não deve ser ajoelhar no milho. Talvez um boleto extra para pagar, o que vai penalizar os pais das três bananas.

Agora: que elas não estão sozinhas nessa praga modernamente chamada de etarismo, não estão mesmo. Nem é de hoje que qualquer mulher mais velha é ridicularizada se aparece com uma roupa mais curta, ou um cabelo colorido, ou uma tatuagem. Lembra da Beth Faria quase linchada há alguns anos por ir à praia de biquíni?

Os jornais também não aliviam. Há pouco uma matéria informava sobre um homem de 60 anos que foi atropelado enquanto corria, e que só sobreviveu devido ao seu histórico de atleta (entendedores entenderão a referência). Pois bem. O homem foi impiedosamente chamado de idoso pelo jovem repórter de, sei lá, 20 e poucos anos. O idoso foi arrastado pelo carro. O idoso teve fraturas múltiplas. O idoso permanece na UTI. Na ilustração, o idoso era visto de calção e camiseta coladinha, disputando uma maratona alguns dias antes da desdita.

Nos comentários da notícia, alguns leitores repararam: não basta o sujeito passar por tudo isso e ainda o chamam de idoso do início ao fim da matéria. Se esse aí é idoso, vão chamar meu bisavô de múmia. E etc etc etc.

Não que seja errado chamar uma pessoa de 60 anos de idosa, cujos sinônimos são velha, antiga, anciã, vetusta. Só não faz muito sentido, considerando tudo o que alguém de 60 anos tem para produzir e viver. Já nas ocasiões em que deveria haver vantagem nesse conceito, passe livre no ônibus, por exemplo, a idade foi aumentada para 65 anos. Agora tem que ser pós-idoso.

Tomara que a moça de 44 anos continue sua graduação, independentemente do preconceito de quem seja. E que se forme com aproveitamento superior ao das três trouxas, que periga mudarem de ideia e de curso muitas vezes ainda, como é comum entre os mais novos.

Correndo o risco de ser acusada de etarismo reverso, se é que isso existe, encerro com Nelson Rodrigues: o jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um, o da inexperiência.

E ainda: jovens, envelheçam.



30/03/2023 - 10h02min
Atualizada em 30/03/2023 - 10h46min

A língua peculiar que se fala no South Summit

Não é fácil acompanhar o "arsenal linguístico" de quem está mergulhado no universo da inovação. Por onde quer que se ande, o South Summit possui um vocabulário próprio. Circular pelos armazéns do Cais Mauá durante o South Summit Brasil, em Porto Alegre, é, também, um exercício de linguística. 

Não me refiro apenas às apresentações em inglês (que, aliás, têm tradução simultânea) ou aos diálogos em idioma estrangeiro ouvidos aqui e ali em meio ao burburinho do evento, mas a um vocabulário muito peculiar - um arsenal de expressões usado com a maior naturalidade por quem está mergulhado no universo da inovação.

É “spin off” para cá, “venture capital” para lá, "pitch", "marketplace", "B2B", "B2C". Volta e meia você ouve alguém falar em “pivotar” ou em “escalabilidade”. E os unicórnios? Ô, esses são sempre muito bem-vindos. Se você tem boa “valuation” e “know-how”, então, pode esperar o “seed capital”.

Entendeu? Eu confesso que ainda me sinto meio deslocada nesse novo e instigante mundo, tipo “a mulher que sabia javanês”. No início do século 20, Lima Barreto publicou o famoso conto narrando a história do personagem Castelo, o homem que enganou uma cidade inteira fingindo falar a tal língua exótica.

Não é que eu engane alguém, mas, a cada entrevista, quando ouço um desses termos, anoto mentalmente a palavra para pesquisar mais tarde - e não pagar mico. Afinal, a gente está sempre aprendendo.

Nessas ocasiões, lembro dos recados que às vezes recebo de leitores reclamando dos meus estrangeirismos: “Por que não escreves em bom português?”, questionam alguns. Bem, depois deste texto, já vou me preparando para a enxurrada de e-mails. Ops, de mensagens!



30/03/2023 
Nílson Souza

Nem todas as mentirinhas de Páscoa são inocentes

Chocolate superfaturado pode ser mais difícil de engolir do que semente de bergamota. Tem adulto que acredita em tudo, mas as crianças da era digital, com acesso fácil às mais variadas informações, já não se deixam convencer facilmente por narrativas fantasiosas. Outro dia uma conhecida minha, questionada pelo filho de quatro anos sobre o sempre delicado tema da maternidade, nem pensou em apelar para a velha e hipócrita história da cegonha. Resolveu dizer a verdade, ainda que com o clássico eufemismo:

— O papai botou uma sementinha na barriga da mãe, a barriga cresceu e você saiu dessa sementinha.

O menino ficou quieto por alguns segundos enquanto fazia uma associação de ideias, possivelmente lembrando de alguma advertência que ouviu antes de comer bergamota. E lascou: Entre a verdade e a mentira, sempre deve haver algum espaço para a fantasia no trato com os habitantes da primeira infância. 

Veja-se, por exemplo, o que ocorre numa antevéspera de Páscoa como a atual. Ainda que possa soar quase ofensivo para os coelhos dizer às crianças que animais mamíferos botam ovos de chocolate, eles certamente aprovariam, se fossem questionados e tivessem discernimento para responder, o ritual de seguir as pegadinhas até o ninho semiescondido. 

É divertido, os pequenos adoram e funciona como um exercício de integração familiar. Quando a inocência se esvai e as crianças descobrem que o coelhinho da quimera não existe, basta explicar a elas que a lenda foi criada para encantá-las, como as histórias de fadas e os desenhos animados. Ficção não é mentira, explica o romancista pernambucano Raimundo Carrero. 

É apenas outra realidade.

Porém, muitas vezes, a realidade revela-se mais fantástica do que a ficção. Agora mesmo, noticia-se que alguns cidadãos, todos adultos, estão caindo no golpe do chocolate de Páscoa. As pessoas recebem mensagens de celular dizendo que foram contempladas com cestas enviadas por marcas famosas. Para receber o presente, basta ao premiado pagar pelo frete ao entregador, que invariavelmente leva uma maquininha preparada para clonar cartões ou apenas lança um valor muito maior do que o custo do produto sem que a vítima perceba.

Nem todas as mentirinhas de Páscoa são inocentes. E chocolate superfaturado pode ser mais difícil de engolir do que semente de bergamota.

 Indústria de laticínios gaúcha inaugura planta com investimento de R$ 30 milhões

Unidade em Aratiba vai gerar 60 vagas de emprego e terá foco em produtos mais elaborados
Unidade em Aratiba vai gerar 60 vagas de emprego e terá foco em produtos mais elaborados
DIVULGAÇÃO/DEALE/JC
Deale, indústria de laticínios com sede em Almirante Tamandaré do Sul, no Norte do Rio Grande do Sul, inaugura no próximo sábado (1/04) mais uma planta. A data marca o dia da fundação da empresa, em 2011. A nova unidade fica na cidade de Aratiba, na divisa com Santa Catarina, e recebeu investimento de R$ 30 milhões.
Com a nova planta, explica Alexandre dos Santos, diretor e um dos fundadores da indústria, será feita uma segmentação da produção. Na fábrica de Aratiba, serão produzidos apenas queijos finos, uma linha de laticínios mais elaborada, com destaque para as variedades de queijo colonial, minas, parmesão e coalho. “Isso pode ser uma grande mudança porque passamos de uma fábrica de queijo de consumo mais diário para produtos mais elaborados, com valor agregado melhor e um nicho de consumidor diferenciado”, ressalta Santos.
O mix de produtos da Deale inclui, além dos queijos, natas, requeijão, manteiga e leite. A expectativa é elevar a capacidade de produção diária em 40%, passando de 600 mil litros de leite por dia para 850 mil litros de leite por dia. Também se espera atingir a marca de mais de 1 milhão de quilos de queijo produzidos neste ano, com um faturamento de R$ 500 milhões.
Segundo Santos, entre 25% e 30% dos recursos para construção da nova unidade foram financiados via BRDE. Além disso, a Deale também contou com incentivo fiscal via Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul (Fundopem). “O Fundopem é um incentivo muito importante, faz a diferença. Contamos com ele desde nosso primeiro projeto”, afirma do diretor.
A fábrica fica em uma área construída de 4 mil metros quadrados e em um terreno de 30 mil metros quadrados. A unidade de Aratiba vai gerar 60 empregos, a maioria gerada por trabalhadores da cidade e região. Com os novos postos de trabalho criados, a Deale passa a contar com 375 funcionários. A indústria conta com mais de 1,5 mil produtores cadastrados em mais de 95 cidades gaúchas. “Temos uma grande parceria com os produtores, são eles o início do elo da cadeia”, destaca Santos.
A Deale abastece, atualmente, grandes redes de varejo das regiões Sul e Centro-Oeste, chegando a cidades do Nordeste e até mesmo em Manaus. Grupo Big, Assaí, Atacadão, Stock Center e Comercial Zaffari estão entre os clientes do varejo. Além das fábricas, a Deale dispõe de dois postos próprios de captação de leite, um na cidade de Catuípe e outro em São Martinho. A marca ainda reúne três centros de distribuição: dois em São Paulo (Embu das Artes e Ribeiro Preto) e um em Brasília.

Investimento é para startup crescer, não comprar sede em Miami, diz Kepler

Capitalistas de risco falaram com empreendedores em painel lotado
Capitalistas de risco falaram com empreendedores em painel lotado
PATRICIA KNEBEL/DIVULGAÇÃO/JC - Patricia Knebel

O investimento de risco deve ser usado para ajudar as empresas a crescerem, passarem para o próximo estágio, e não para salvar a startup, pagar cheque especial ou para empreendedores comprarem o carro do ano ou um escritório em Miami. Foi assim, direto e reto, que o CEO da Bossa Nova Investimentos, João Kepler Braga, mandou o seu recado ontem para a plateia que lotou a Growth Stage para o painel VC Check: from idea to IPO.
O tema do investimento de risco é sempre um dos pontos altos do South Summit, tanto na sua edição espanhola, que acontece em Madrid, como na brasileira, que iniciou ontem no Cais Mauá, em Porto Alegre.
E o cenário global turbulento, claro, foi tema constante das rodas de conversas e dos painéis. Com a alta dos juros, os investidores de risco, que jorraram dinheiro nas startups nos últimos anos, começaram a puxar o freio. Outro fator importante para essa postura foi a alta dos valuations destas empresas, que saíram muito valorizadas da pandemia.
“Nestes estágios de cheques de cerca de R$ 5 milhões, por exemplo, o momento realmente é de pé no freio. Mas, isso não está acontecendo com o investimento anjo, o que envolve os estágios mais iniciais de crescimento das empresas.
“Para os aportes de pré-seed e seed, não há motivo para alarde. Para esse perfil de startup, nada mudou. Isso porque, essas empresas já se preocupam com o caixa, estão mais organizadas e com o racional adequado de fazer o dever de casa”, explica. São operações que precisam dos aportes, mas que sobrevivem com o dinheiro dos clientes, e não dos investidores.
Ainda assim, dentro do cenário desafiador, Kepler recomendou aos empreendedores atenção: é validando cada passo da empresa que se aprende. “Não adianta captar recursos sem ter o básico do negócio organizado e testado. É isso que os investidores querem ver hoje”, alertou.
Ele é um dos maiores investidores anjo (estágio inicial) do Brasil. Criou a Bossa Nova, que já aportou recursos em 1.790 startups. Os cheques são de até R$ 1,5 milhão. Em 2022, foram 180 empresas investidas. “Toda vez que diversificamos, ajudamos mais o ecossistema. E Vamos seguir fazendo isso, porque os empreendedores precisam de mais apoio”, destacou. 

O painel contou ainda com a presença do CEO e fundador da FCJ Venture Builder, Paulo Justino, o MD Partner do BTG Pactual, Claudio Berquo e do gestor da Treecorp, Filipe Lomonaco, que também avaliou que o momento é de uma busca por maior equilíbrio por parte dos investidores de riscos que realizam aportes em empresas em estágios mais avançados.
“É preciso analisar muito bem as variáveis do mercado, que são muitas hoje em dia. Claro que a meta da startup deve ser crescer, mas antes é preciso olhar bem os números e prestar atenção às bases de sustentação da operação”, disse. A Treecorp é um player de private equity, modalidade de aportes em startups em estágio mais avançado. Ele, inclusive, disse que os altos valuations das empresas acabam prejudicando no momento da saída do investimento. “No hype, as empresas estavam precificando muito alto, e depois que faziam o IPO acabavam perdendo até 80% ou 90% do seu valor”, cita.