sexta-feira, 20 de outubro de 2017


Assaltada por políticos, Caixa pede socorro aos contribuintes

Samuel Costa/Folhapress
Lucro da Caixa cresce com inadimplência menor e redução da provisão para calote de clientes
Agência da Caixa
Em conversas reservadas com esta colunista, mais de um empresário relatou como funcionava a quadrilha que se instalou na Caixa Econômica Federal. Bastava entrar com um pedido de financiamento no banco que Lúcio Funaro batia na sede da companhia, trazido casualmente por um conhecido em comum. Ele oferecia seus contatos para garantir a liberação do empréstimo. O dinheiro só saía depois de paga a comissão do doleiro pelos "serviços" prestados.

Se o empresário não cedia, o banco colocava todo o tipo de empecilho. O contato de Funaro era Geddel Vieira Lima, que ocupava uma das vice-presidências da Caixa por indicação de Michel Temer, seu amigo de longa data e hoje presidente da República após o impeachment de Dilma Rousseff. Com o esquema revelado pelas investigações do Ministério Público e da Polícia Federal, Geddel e Funaro estão na cadeia. A governança do banco, no entanto, continua sofrível.

Segundo reportagem desta Folha, oito vice-presidências da Caixa são ocupadas por aliados políticos do mesmo Michel Temer. Para que esses partidos querem um posto de comando na Caixa? Além da corrupção pura e simples, os políticos se serviram à vontade dos cofres do banco para manter políticas econômicas equivocadas que rendessem dividendos eleitorais.

O exemplo mais gritante é o Minha Casa Melhor, que oferecia financiamento subsidiado para a compra de eletrodomésticos. O programa ajudou a reeleger Dilma e deixou para trás uma inadimplência de mais de 30%. Como não existe almoço grátis em economia, aconteceu o que era previsível e vinha sendo especulado há bastante tempo: depois de ser assaltada pelos políticos, a Caixa pede socorro aos contribuintes.

Gilberto Occhi, presidente do banco, bateu na porta do Ministério da Fazenda dizendo que precisa de dinheiro. O banco já vem atrasando a liberação de financiamentos porque não tem recursos para atender a demanda por crédito gerada pela recuperação ainda incipiente da economia e, ao mesmo tempo, cumprir as regras de seguranças exigidas pelo Banco Central.

A equipe econômica resiste, e a capitalização pode até vir disfarçada de uma troca de ativos com o BNDES, mas não deixará de ser uma injeção de recursos públicos, que poderiam ser mais bem utilizados em outros fins do que para cobrir um rombo que ninguém tem clareza de quanto é. 

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