domingo, 22 de outubro de 2017


Livro 'Viva a Vagina' desmistifica em detalhe a genitália feminina

Divulgação
Livro 'Viva a Vagina', das autoras Nina Brochmann e Elle Stokken Dah
Livro 'Viva a Vagina', das autoras Nina Brochmann e Elle Stokken Dah


VIVA A VAGINA (muito bom) 

AUTORAS Nina Brochmann e Elle Stokken Dahl
TRADUÇÃO Kristin Garrubo
EDITORA Paralela
QUANTO R$ 49,90 (312 págs.)

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Nina e Ellen, amigas e estudantes de medicina em Oslo, resolveram falar abertamente (ops!) sobre o nosso maravilhoso aparelho genital. A famosa luz no fim do túnel quando nascemos e também quando já estamos quase desistindo de tanta angustia na adolescência e...tcharam! Descobrimos o desejo, o clitóris, o outro, o sexo e, talvez, o amor.

Tem horas que o livro parece um beabá professoral para jovenzinhas curiosas e inseguras... aos quase 40 anos, uma boa quilometragem de farra e um desejo imenso de ser mãe, ficou puxado aturar páginas e mais páginas sobre gravidez indesejável, dores e descobertas da primeira vez e "como não sujar a calcinha com sua menstruação".

Mas insista!

Sim, "Viva a Vagina!" também conversa, e muito, com as vaginas mais rodadas e cínicas! Trata-se de uma completa e minuciosa bíblia, com a única religião que na verdade importa: a de ser mais informada e feliz com o próprio corpo.

Minha lista de aprendizados superou minhas expectativas. Eu não sabia, por exemplo, que "espasmos corpopedais" é o nome do que acontece com nossos músculos quando nos excitamos e que o chumacinho do amor (para as que não depilam) também conhecido como "a área rica em gordura que cobre parte do osso ilíaco") se chama monte de vênus.

Descobri também que a vulva é a amiga externa que vemos com mais facilidade quando nos observamos no espelho. A vagina fica mais pra dentro, protegida pelos grandes e pequenos lábios. E que o clitóris, sutil como uma uva passa, na verdade é a ponta de um profundo iceberg, você sabia? Nosso botãozinho da malemolência continua por um bom tempo agindo nas profundezas do orgasmo bastante certeiro.

Sempre achei a obsessão pelo hímen coisa de pai religioso e desinformado e/ou futuro marido (merecidamente) corno e desajeitado. Pois é exatamente isso: nem toda mulher vai sangrar na primeira relação sexual, nem todo hímen vai se romper, não dá pra saber se uma mulher é virgem ou não fazendo um exame de hímen –e pra que alguém ainda quer saber isso?

O mito da mulher deflorada e da donzela com um selo de castidade (e de qualidade) é não apenas extremamente machista e antiquado como ridículo. Fato absurdo relatado no livro: na internet você pode comprar membranas falsas com sangue teatral por até US$ 30! 

Atenção mulherada que...

1. Se depila totalmente (e aqui eu poderia fazer alguma piadota sem graça com a Barbie ou a neurose infantil, mas eu mesma, certa feita, já cometi um desmatamento, então deixa quieto): os folículos pilosos são a área da pele onde temos o maior número de terminações nervosas...ou seja, lisinha você perde parte da experiência sensorial.

2. Vive enojada com a própria secreção e se limpa e lava e usa produtos com perfuminhos: APENAS PARE! Xoxotas mancham a calcinha e isso é saudável! Abrace seu acido láctico, seu azedinho natural! Seu namorado reclama? Talvez ele não esteja preparado pra amar uma vagina real. Nossa xana é autolimpante e contem bactérias boas, os lactobacilos (nesse livro você vai aprender também que uma mulher com candidíase usou seu fungo para fazer um pão, segundo ela, "bem gostoso". E o que você faz com essa informação? Eu sofri um pouquinho, mas já superei).

3. Acha que faz menos e/ou pior sexo que as amigas: segundo as pesquisas das estudiosas norueguesas, a maioria das pessoas muito sexuais e muito gozadeiras e muito taradas... MENTE.

É importante levar em consideração que muitas mulheres não sentem desejo espontâneo (tipo você está no cartório reconhecendo firma e pensa "mano, preciso dar AGORA") e, sim, se excitam quando acariciadas (desejo responsivo!) e provocadas e instigadas até mesmo mentalmente (o Viagra feminino nunca funcionou muito bem porque nosso lance é todo mais cerebral, somos muito mais chiques).

Enfim, é o famoso "não tava a fim, mas ele falou isso, mexeu ali, fez aquilo...e depois que começa vai que vai". Lembrando que a sua falta de prazer não é necessária e exclusivamente responsabilidade do outro, tampouco sua anorgasmia é culpa sua.

4. Busca incessantemente o tal "orgasmo vaginal" e o considera mais maduro do que o infantil "orgasmo clitoriano"–Freud estava errado e essa divisão não existe. O orgasmo é um só até porque o brincante clitóris está ligado para todo o sempre na vagina. Continue dando doces petelecadas no seu cajuzinho e esqueça o papo de orgasmo exclusivamente vaginal!

5. Se sente culpada por ter sofrido um aborto espontâneo –não foi porque você espalhou a boa nova antes da hora ou porque bebeu uma tacinha de vinho naquela festa.

Nesse capítulo o livro narra um momento "bom samaritano" de Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, ao tornar pública sua saga, ao lado da esposa, para ter um filho depois de três abortos espontâneos. Não se sinta só ou envergonhada, sua triste perda pode ser tão comum que milhões de pessoas irão provavelmente se conectar a ela.

PRAZER DIDÁTICO

Infelizmente, as páginas que ensinam a ter mais prazer (a melhor dica é a "posição do gato" na qual o pênis em vez de entrar e sair fica tempo o suficiente apenas pressionando e esfregando a região com mais terminações nervosas –para mais explicações e desenhos didáticos, compre o livro) desejo e orgasmo, são infinitamente menores do que as que falam de cuidados, doenças, dores, cheiros e perrengues.

Por ser um livro com a palavra vagina na capa, senti falta de mais humor e alguma ironia, mas aprendi levando muita porrada nas redes sociais e dos leitores desse jornal: tem horas que o assunto é sério! Muitas mulheres ainda são mutiladas, sofrem abuso, são tratadas como frígidas e, para agradar parceiros, fazem cirurgias desnecessárias e dolorosas (e causadoras de anorgasmia) para ter, por exemplo, "pequenos lábios de fato pequenos".

Um detalhe interessante (ou meio deprê, ainda não resolvi): ao dar um Google em "viva a vagina", uma das primeiras coisas a aparecer é a história de uma vlogueira que foi presa depois de se filmar introduzindo uma enguia viva na xoxota. Ou seja: precisamos (muito e urgentemente) falar e escrever sobre o assunto. Ainda mais quando pensamos em adolescentes inundados de besteiras e pornografias e tão carentes de boa conversa e maior conhecimento do corpo.

Ao longo de mais de 300 páginas tão necessárias, vez ou outra, as autoras até arriscam uma ou outra piadinha tipo "cuidado para não esquecer os brinquedinhos estimulantes de ânus nos cafundós do intestino". Nem tudo está perdido. 

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