Entrelacos

17 DE OUTUBRO DE 2017
CARLOS GERBASE

A GRANDE ILUSÃO DOS SENHORES DA MORAL

Quando leio os relatos sobre os esforços dos grandes senhores da moral para afastar das crianças e dos adolescentes conteúdos que julgam impróprios, minha primeira reação é de raiva. Afinal, eles estão interpretando de forma equivocada e maliciosa a legislação que protege os menores de idade contra agressões reais - infelizmente, tão comuns - para tentar censurar qualquer manifestação cultural que contraria sua visão de mundo, geralmente tacanha, reacionária e falsamente moralista.

Depois da raiva, contudo, considerando que estes senhores quase sempre agem levados por boas intenções e estão condicionados por processos às vezes inconscientes (sabe-se lá o que passaram em sua infância) só sinto uma coisa: pena. Uma imensa pena. Esses senhores acham que são capazes de controlar o que as crianças e adolescentes veem, ouvem e experimentam. Eles acham que são deuses, que têm onipresença, ou que são super- heróis, com visão de raio-X e audição miraculosa.

Eles acham que têm controle absoluto sobre as tecnologias de comunicação de suas casas, sobre a caixinha da TV por assinatura, sobre os celulares dos seus filhos e dos amigos dos seus filhos, sobre o que dizem os professores e sobre o que mostram os livros da biblioteca da escola - sim, há coisas terríveis na biblioteca! Eles acham que estão na Idade Média, que Gutenberg ainda não inventou os tipos móveis e que o mundo não vive uma orgia irrefreável de comunicação que atravessa nossos corpos e nossos espíritos.

Tenho uma má notícia para esses senhores: o seu controle é uma grande ilusão. As crianças e os adolescentes veem e ouvem tudo. Tudo mesmo. Porque tudo circula nas redes. Os menores de idade têm uma competência enorme para achar o que lhes interessa. E adivinha o que mais interessa a uma criança que se aproxima da adolescência? Sim, é aquela coisa terrível: sexo! Os senhores da moral gostariam de revogar esse interesse, mas não podem. Só há uma coisa eficiente para que crianças e adolescentes compreendam o que veem e ouvem e sejam capazes de discernir o que é bom e o que é ruim. É uma palavra antiga, mas ainda poderosa: educação. Mas os senhores da moral fogem dela como o diabo da cruz.

CARLOS GERBASE