19 DE OUTUBRO DE 2017
ARTIGOS
LUTERO E O ATRASO DE NOSSA EDUCAÇÃO
Em seus escritos, Lutero destacou o papel dos pais em demandar educação para suas crianças, bem como ressaltou a responsabilidade dos governos na oferta de escolas. Para o reformador, os pais que mantinham "seus filhos totalmente afastados do estudo" provocavam "um grande prejuízo assassino no mundo inteiro".
Quanto às autoridades, afirmou que elas tinham "o dever de obrigar os súditos a mandar seus filhos para a escola". Afinal, "o progresso da cidade não depende apenas do ajuntamento de grandes tesouros [...]. O melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando ela tem muitas pessoas bem instruídas". Lutero tratou até mesmo da alocação de recursos para a área: "Se alguém der um ducado para a guerra [...], seria justo doar cem ducados para a educação".
Educação de qualidade é fundamental para formar pessoas que participem ativamente da vida em sociedade. Além disso, a educação cumpre papel importante na redução das desigualdades. Há evidências acerca da importância do desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais na primeira infância.
Entretanto, há tempos temos visto a deterioração relativa da educação gaúcha nos testes padronizados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A política pública voltada à primeira infância tem amadurecido, mas ainda é incipiente. Nossa sociedade parece ignorar tanto o reformador do século 16 quanto as evidências recentes acerca dos benefícios da educação.
Para Lutero, "nenhum pecado exterior pesa tanto sobre o mundo [...] quanto justamente aquele que cometemos contra as crianças quando não as educamos". Longe de sugerir qualquer proselitismo religioso, precisamos escutar o reformador quanto ao valor da educação. Tratemos de ouvi-lo, ainda que com 500 anos de atraso.
Pesquisador em Economia da FEE e professor da ESPM-Sul tkang@espm.br
THOMAS H. KANG
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