19 DE OUTUBRO DE 2017
CAPA
Três é bom
demais
Gilberto Gil tem se materializado no Rio Grande do Sul com constância e sob diferentes formatos musicais. Veio recentemente se apresentar com a Orquestra Sinfônica da Bahia, retornou para mostrar seu tributo a João Gilberto, passou para comemorar com Caetano Veloso os 50 anos em que estão atentos e fortes na linha de frente da MPB e também apareceu para cantar em um concerto natalino. Agora, Gil vem acompanhado de Gal Costa e Nando Reis, com quem formou o projeto Trinca de Ases. O show que farão hoje em Porto Alegre, no Auditório Araújo Vianna, nasceu meio que de improviso, no ano passado, em Brasília, em um encontro para celebrar os cem anos de nascimento de Ulysses Guimarães.
A reunião deu liga, e Gil, Gal e Nando decidiram compartilhá-la com o público. Além de faixas representativas das carreiras de cada um, três composições inéditas. Trinca de Ases vai dar origem ainda a DVD e CD com o registro ao vivo da trupe.
"A moça, o rapaz maduro calejado pela idade e o menino impetuoso e viril". É fácil identificar quem é em Trinca de Ases, música inédita de Gil, 75 anos, que apresenta o espetáculo. Os "três mosqueteiros, três patetas, três poetas da canção" cantam no palco, em trio, duo e solo, clássicos como Baby, Esotérico, Palco, Nada Mais (versão de Ronaldo Bastos para Lately, de Stevie Wonder, gravada por Gal), além de, entre outras, All Star, que Nando fez para Cassia Eller, e Relicário, canção sua que consagrou ao lado da cantora.
O encontro do paulista Nando com seus ídolos baianos o inspirou na criação da inédita Dupla de Ás - e ele divide com Gil a autoria de outra novidade, Tocarte.
Trinca de Ases chega à Capital depois de passar nos últimos dias por Recife, João Pessoa e Salvador, cidade onde Gil conversou por telefone com Zero Hora. No bate-papo, realizado durante o trajeto do hotel ao aeroporto, o cantor e compositor falou sobre esse e outros projetos - Gil segue se apresentando ao banquinho e violão, como mostrará sábado em Pelotas, no Theatro Guarany. Veja a seguir um resumo da conversa:
Como nasceu o projeto Trinca de Ases e como vocês decidiram a três a escolha do repertório?
Esse encontro nasceu de uma provocação do falecido jornalista Jorge Bastos Moreno. Nos juntamos os três e fizemos uma apresentação em Brasília, que, de certa forma, estimulou nas pessoas no nosso entorno que fizéssemos um trabalho um pouco mais ampliado. Acabamos fazendo três canções novas para o espetáculo. Sobre o repertório, mais recebi sugestões de Gal e Nando do que escolhi eu. A única canção que pedi para colocar no show foi Ela, do meu disco Refazenda (1975). As outras todas foram surgindo em consenso com Gal e Nando.
Variar temas e parcerias é o que mais tem lhe agradado em novos projetos?
Depois de muitos anos cuidando de uma carreira, de um perfil de compositor lançando discos quase que anualmente, e já foram 50 e tantos discos, fica essa liberdade maior de abordar situações variadas, de cantar com colegas de diferentes perfis. Acho que é e isso, descansando um pouco do afã natural que a carreira estabeleceu durante muitos anos. Fiz homenagens a Luiz Gonzaga (As Canções de Eu, Tu, Eles, 2000), a Bob Marley (Kaya N?Gan Daya, 2002), a João Gilberto (Gilbertos Samba, 2014) e agora tem esse trabalho com Gal e Nando. É uma coisa meio despojada da carreira.
E tem também o espetáculo Refazenda, com o qual você voltará a Porto Alegre em dezembro (dia 10, no Teatro do Bourbon Country), que você apresenta com seu filho Bem Gil.
Bem tem muito apreço por esse disco. Ele já vinha se relacionando com um grupo de músicos como o Moreno Veloso (filho de Caetano) e o pessoal da Orquestra Imperial, que, de uma certa forma, cultivam essas manifestações de origem africana, intersecções entre as músicas africana e brasileira. Refavela é um disco desse campo. Bem resolveu juntar essa turma para fazer esse trabalho de recuperação. O disco inteiro é apresentado a partir dos arranjos originais, com um ou outro elemento adicionando traços próprios desses meninos.
Por coincidência, Caetano Veloso também está agora em um projeto com seus filhos. É uma forma natural de seguir adiante o legado musical criado por vocês?
São ambientes familiares onde a música sempre esteve presente, com meus filhos, os filhos de Caetano, de Djavan, da Baby e do Pepeu. São famílias onde os ambientes musicais estabeleceram essa relação mais próxima, mais privilegiada, dos filhos com a música popular. Chega a hora em que eles crescem e sentem a necessidade do protagonismo, e a gente, os pais, acaba entrando nessa história.
marcelo.perrone@zerohora.com.br
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