sexta-feira, 27 de outubro de 2017



Jubilados 

É feia a palavra "aposentado". 

Parece dizer: vai para teus aposentos! Aposentado lembra INSS, reforma da Previdência, remédios e dificuldades que fazem milhões de aposentados continuarem a trabalhar como mouros até o fim. Palavras-sinônimos de aposentados são mais feias: reservista, reformado, membro inativo, inativo, inválido e por aí vai. Há salvação para os aposentados, além de continuar a trabalhar até onde der e esperar por dias, homens públicos e aposentadorias melhores. 

A salvação é a palavra jubilado. Aplicável mais a professores e servidores, o termo, de origem latina, fica bem em espanhol e tem a ver com nossos queridos hermanos uruguayos, especialmente os jubilados em Punta Del Este. Jubilado em Punta é bom, mesmo no inverno e com orçamento apertado. Jubilado lembra honra, ócio com dignidade, festa, alegria. Apesar de tudo, os aposentados mudaram, acho que para melhor. Lá por 1974, as pessoas viviam uns 50 e poucos anos no Brasil. 

Os aposentados, especialmente os homens, antigamente, na aposentadoria, colocavam pijamas listrados parecidos com os colchões de antigamente e os usavam 24 horas por dia. General de pijama era uma das simpáticas expressões de décadas atrás. Aposentados liam o Correio do Povo em formato standard, se embalavam nas cadeiras de balanço, escreviam cartas para o Correio do Leitor do jornal, queixando-se do peso a menor do cacetinho da padaria e iam, quando possível, para as ruas e praças. 

Em casa, ficavam ouvindo rádio, assistindo à televisão ou lendo livrões, romanções de 500 páginas ou enciclopédias. Aposentados não ficavam muito tempo aposentados. 

Depois de alguns anos na "inatividade", iam para o andar de cima, especialmente os homens. Hoje, os aposentados não devem ficar nos aposentos, especialmente os homens. Nada de ficar só assistindo à TV, lendo jornal, grudado no WhatsApp, coçando, bebendo ou reclamando. A média de idade dos brasileiros hoje é de 70 e poucos. Os jubilados precisam se ocupar para não se preocupar, e necessitam administrar bem as décadas entre a aposentadoria e a passagem para o além. 

Mesmo os "bem aposentados", os que não são aposentados pelo INSS, que praticamente são obrigados a trabalhar para se manter, devem tentar envelhecer com saúde, produtividade e procurar manter o corpo e o espírito espertos. Não é fácil, mas pode ser até divertido. "Envelhecer com dignidade" e saúde é melhor e mais barato para todos. 

A jubilação pode servir para o jubilado se "reinventar", fazer coisas que não tinha feito, realizar sonhos de infância ou juventude. Não deve ficar só contemplando, paradão, o entardecer da vida. O entardecer pode até ser dourado, mas fica melhor com bom relacionamento com a família, amigos, ex-colegas de trabalho e hábitos saudáveis. A vida só acaba depois do último minuto do jogo ou da prorrogação. Até lá, que haja esperança. 

a propósito... 

A mudança de média de idade no Brasil e no mundo pede providências, cuidados e mudanças culturais. Não precisamos só da reforma da Previdência. É preciso planejamento para lidar com uma população que envelheceu. O Brasil era jovem, hoje é um vovô. Tomara que o vovô siga ativo, bem-humorado, com saúde e cheio de vida. 

Tomara que os vovôs jubilados ainda tenham tempo de ver um País passado a limpo, com pessoas e poderes livres da corrupção, vícios administrativos e outros bichos que infernizam nossos dias. 

Tomara que os aposentados sejam jubilados, que depois da jubilação tenham muitas e outras vidas. - 

Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/10/colunas/livros/592680-trajetoria-secular-de-uma-dinastia.html)

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