23 de setembro de 2016 | N° 18642
REPORTAGEM ESPECIAL
PRENDE E SOLTA EM NOVA POLÊMICA DA LAVA-JATO
EX-MINISTRO GUIDO MANTEGA foi detido em hospital no qual acompanhava a mulher em tratamento de câncer e libertado horas mais tarde. Ele é acusado por Eike Batista de ter pedido R$ 5 milhões para pagar dívida do PT com marqueteiros
O que seria mais uma retumbante fase da Operação Lava-Jato, com a prisão de um ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma, ganhou ingredientes polêmicos extras ao prender Guido Mantega enquanto acompanhava a mulher em uma cirurgia e, horas mais tarde, determinar sua soltura. Batizada de Arquivo X, a etapa investiga, entre outros pontos, a atuação do petista na transferência ao Exterior de recursos que se destinavam a custear despesas do PT.
A suspeita tem origem em depoimento do empresário Eike Batista, que chegou a ser incluído entre os mais ricos do mundo por conta de seus empreendimentos principalmente na exploração de petróleo. Ao Ministério Público Federal (MPF), ele relatou que, em 1º de novembro de 2012, recebeu pedido de Mantega, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras, para que fizesse pagamento de R$ 5 milhões em favor do PT.
Para operacionalizar o repasse da quantia, o executivo foi procurado e teria falsificado contrato com empresa ligada ao marqueteiro do PT João Santanna e a sua mulher, Monica Moura, denunciados pela Lava-Jato por lavagem de dinheiro e liberados da prisão após aceitarem pagar fiança de R$ 31,26 milhões.
Após uma primeira tentativa frustrada de repasse em dezembro de 2012, em 19 de abril de 2013 foi realizada transferência de US$ 2,35 milhões, no Exterior, entre contas de Eike e do casal – o destino foi a offshore panamenha Shellbill Finance, onde também foram depositados R$ 7,5 milhões da Odebrecht e do operador de propinas Zwi Skornicki. A informação sobre essa transação consta de um dos anexos da delação premiada de Monica, ainda não homologada pela Justiça, mas que vazou na imprensa. Ao saber disso, Eike teria buscado os procuradores para esclarecer a operação.
ETAPA UTILIZOU INFORMAÇÕES COLETADAS EM FASES ANTERIORES
O repasse seria uma compensação pelo fato de ter ganho o contrato, em julho de 2012, de construção das plataformas P-67 e P-70 – unidades flutuantes de produção, armazenamento e transferência de petróleo voltadas à exploração dos campos de pré-sal. O grupo OSX, de Eike, participou do consórcio que construiu as plataformas, o Integra Ofsshore, formado também pela empresa Mendes Júnior. O serviço foi orçado em US$ 922 milhões.
É por envolver as empresas X – marca de Eike – que a etapa desencadeada ontem chama-se Arquivo X. São alvos dessa fase, além de Mantega, executivos das empresas Mendes Júnior e OSX Construção Naval, assim como representantes de empresas por elas utilizadas para o repasse de propina. Segundo o MPF, as consorciadas sequer tinham tradição no mercado específico de construção e integração de plataformas, mas, mesmo assim, ganharam o contrato porque repassaram propina a partidos e políticos. A operação está embasada em depoimentos de testemunhas e colaboradores, na apreensão de documentos, na quebra de sigilos bancário, fiscal e telemático, assim como na análise da base de dados coletada ao longo das 33 fases anteriores.
JOSÉ DIRCEU TERIA SOLICITADO REPASSE DE R$ 6 MILHÕES
O MPF afirma ter colhido indícios de que cerca de R$ 7 milhões foram transferidos, entre fevereiro e dezembro de 2013, pela Mendes Júnior para um operador financeiro já condenado no âmbito da Lava-Jato. Os repasses foram viabilizados mediante a interposição de empresa de fachada, que não tinha uma estrutura minimamente compatível com tais recebimentos.
Foi identificado também, segundo a investigação, repasse de outros R$ 6 milhões pelo Integra Ofsshore com base em contrato falso firmado em 2013 com a Tecna/Isolux. O valor teria sido transferido a pedido do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que atualmente cumpre pena no âmbito da Lava- Jato, e de pessoas relacionadas a ele.
Por fim, empresas do grupo Tecna/Isolux repassaram cerca de R$ 10 milhões à Credencial Construtora, já utilizada por Dirceu para o recebimento de vantagens indevidas. Também foram identificados, entre março de 2013 e junho de 2014, repasses de mais de R$ 6 milhões da Mendes Júnior a empresas ligadas a um executivo do grupo Tecna/Isolux.
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