quinta-feira, 22 de setembro de 2016


21 de setembro de 2016 | N° 18640 
DAVID COIMBRA

O melhor prefeito para Porto Alegre


Um bom prefeito para Porto Alegre seria um homem chamado Tito Flávio Sabino Vespasiano. Pena que ele morreu há 20 séculos. Já naquele tempo, porém, Vespasiano identificou um problema que aflige a capital de todos os gaúchos.

Vespasiano ocupava um cargo ligeiramente mais importante do que o de prefeito: era imperador de Roma, senhor do mundo, dono da vida e da morte de milhões de seres humanos e bichos. Mas sua administração estava enfrentando uma crise financeira e ele precisava de dinheiro. Então, o imperador fez como os presidentes do Brasil fariam milênios depois: começou a inventar impostos absurdos. Um deles, sobre os banheiros públicos.

A respeito dos banheiros públicos da Roma Antiga, é preciso entender que eles não funcionavam como os de hoje. Frequentar o banheiro era uma atividade social. Os assentos sanitários eram postos lado a lado. O sujeito convidava um amigo para fazer suas necessidades fisiológicas, eles se acomodavam e ficavam conversando. Conversando e obrando, conversando e obrando. Havia mais de 140 locais desse tipo na cidade.

Vespasiano pretendia cobrar uma taxa pelo uso dos banheiros. O filho dele, Tito, escandalizou-se com a ideia. – Cobrar por isso? – reclamou. Vespasiano pegou uma moeda e meteu-a debaixo do nariz do rapaz.

– Que odor você está sentindo? – perguntou. Tito, surpreso, respondeu:

– Nenhum... Ao que Vespasiano cunhou uma frase milenar, que, como já disse, serviria para Porto Alegre:

– O dinheiro não tem cheiro.

Digo que serviria para Porto Alegre porque, não raro, alguns porto-alegrenses parecem sentir nojo do dinheiro. O dinheiro é como a internet: é uma ferramenta. Em sua essência, não faz bem nem mal. A força da grana pode destruir coisas belas, sim. Mas também pode erguê-las. Depende de quem usa.

O capitalismo é responsável por grande destruição na história do planeta, decerto que é. Mas nenhum outro sistema preservou mais o planeta do que o capitalismo. Não são os índios, nem os anarquistas, nem os socialistas, nem os povos negros da África, nem os orientais, nem os hindus, não são esses os responsáveis pelas mais importantes iniciativas de preservação da história. São as democracias capitalistas ocidentais. A vastíssima maioria dos programas de proteção a animais e à natureza e quase todo o desenvolvimento da ciência em favor da conservação de recursos naturais é obra da civilização ocidental.

Logo, o dinheiro pode proporcionar coisas boas ou más.

Em Porto Alegre, tudo o que vem do dinheiro ou que pode gerar dinheiro é visto com desconfiança por lideranças intelectuais da cidade. Existe a ideia pobre de que pobre gosta de lugar pobre.

Pense no rico ostentação. No rico perdulário e exibicionista. O rico nojento de tão rico. Talvez você o considere insuportável e não queira beber um chope cremoso com ele, mas, se você for dono de um boteco, certamente vai querer vê-lo todos os dias lá, sorvendo o champanha da viúva por mil dólares a garrafa. Você vai querer, o garçom que ganha uma nota de cem de gorjeta vai querer, o funcionário que guardou a Ferrari do rico ostentação e levou cinquentinha por isso vai querer. Vai ser bom para todo mundo. O dinheiro do rico ostentação fará a roda do mercado girar mais rápido.

Porto Alegre precisa chamar o dinheiro. Para isso, precisa ter lugares em que o dinheiro mereça ser gasto. Os donos do dinheiro têm que querer gastá-lo em Porto Alegre, não em outro lugar. Porque, seja em Porto Alegre, seja em Nova York, seja em Paris, seja na Roma de qualquer tempo, o dinheiro não tem cheiro.

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