23 de setembro de 2016 | N° 18642
DAVID COIMBRA
Por que depor um governo tão bom?
Um governo que faz dobrar o número de empregos na indústria merece ser deposto?
Um governo que faz a taxa de mortalidade infantil cair em mais de 50% merece ser deposto?
Um governo que faz triplicar o número de venda de livros merece ser deposto? Um governo que propicia aumento de renda per capita em mais de 50% merece ser deposto?
Um governo que reduz o índice de analfabetismo em 30% merece ser deposto?
Um governo que faz com que o volume de exportações aumente mais de 20 vezes merece ser deposto? Um governo que aumenta a rede de estradas asfaltadas no país em mais de 15 vezes merece ser deposto?
Um governo que faz o país crescer mais do que qualquer outro país do mundo merece ser deposto?
Merece. Esse governo, o governo dos índices que apresentei acima, foi o governo militar.
Para você ver como os números são escorregadios. Você toma uma estatística e joga com ela como bem entender, sobretudo em um país do tamanho do Brasil.
Você pode também usar exemplos particulares, para tornar a coisa mais humana. Depoimentos pessoais geram convenientes reações emotivas. Eu, por exemplo: neto de um sapateiro que teve de aprender a fazer contas sozinho, filho de uma professora primária que tinha de sustentar três filhos, sem contar com pensão, eu, oh, que vida dura, só estudei em escola pública e fiz faculdade graças a um programa do governo federal. E a minha mãe, a tal professora primária, só conseguiu comprar nosso apartamento no IAPI graças a um programa do mesmo governo federal.
Que governo benfazejo foi esse?
O governo militar. Então, o governo militar não foi maravilhoso?
Não. Foi péssimo.
Porque o governo militar, ao funcionar como uma ditadura, corroeu o país por dentro. A ditadura por princípio é ruim, e não apenas por ser totalitária, mas por tirar do cidadão a responsabilidade pela formação do Estado. Quem manda é o ditador; logo, a responsabilidade é dele. O cidadão olha para cima, para onde ele acha que se assenta o Estado, e lava as mãos. O cidadão apenas se queixa.
Um governo não pode pretender ser a salvação de um país. Basta o governo acreditar que tem essa missão para corromper a sociedade. É a sociedade que se salva, com todas as suas instâncias, com seus instrumentos, com o “sistema”, jamais com o governo. O governo é apenas parte do Estado, é o executivo, que vai gerir o serviço público de acordo com parâmetros já definidos pela sociedade.
Um governo populista, como foi o do PT, faz o mesmo tipo de trabalho corrosivo que fez a ditadura, ainda que legitimado pelo voto. O pai Lula. A mãe Dilma. O partido de homens iluminados que defendem o pobre negro da elite branca malvada. Não existe diferença entre essas crenças e a crença no que se chamava de “governo forte”. É esse primitivismo que amassa o Brasil.
O Brasil não tem que esperar por um bom governo. O Brasil não necessita de um bom governo. O Brasil precisa desconfiar de todos os governos.
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