sexta-feira, 9 de setembro de 2016



09 de setembro de 2016 | N° 18630
EDUCAÇÃO

RS amarga o pior resultado no Ensino Médio

Índice de Avaliação da Educação Básica (Ideb) apontou queda alarmante no desempenho nesta etapa escolar no Estado

Ruim já estava, mas há mais de uma década, desde a primeira edição do Índice de Avaliação da Educação Básica (Ideb), em 2005, o Rio Grande do Sul não apresentava um desempenho tão alarmante no Ensino Médio (EM) quanto nesta edição da avaliação, divulgada ontem. Além de não alcançar a meta de 4,6 estabelecida para o Estado nessa etapa escolar, os gaúchos viram seu resultado cair dos já parcos 3,9, em 2013, para 3,6, em 2015, no Sul ficando atrás de Santa Catarina e Paraná e também abaixo da média nacional do indicador, de 3,7.

Se for observado somente a rede estadual, caímos de 3,7 para 3,3, longe da meta de 4,4. Uma bomba na Secretaria Estadual de Educação (Seduc)? Nem tanto. O desempenho baixo do Estado no Enem de 2014 havia dado indícios de que progredir nos anos finais da Educação Básica tem sido um desafio cada vez mais tortuoso para gestores e governos, e o RS não navega sozinho neste mar de desempenho indesejável. Apesar de uma leve melhoria nos índices gerais do EM, apenas dois Estados alcançaram a meta na rede estadual: Amazonas e Pernambuco.

Secretário defende mudança no currículo

O secretário estadual de Educação, Luís Antônio Alcoba de Freitas, tem feito apostas locais para tentar reverter o quadro. No ano passado, a Seduc ampliou a carga horária do EM de 800 horas/aula para 1 mil horas/aula ao ano e celebrou o recuo da taxa de abandono nessa etapa escolar de 10,1%, em 2013, para 8,1%, em 2015, assim como o aumento do índice de aprovação de 70,04% para 73% no mesmo período, pontos considerados no cálculo do Ideb. 

Tudo isso levou o secretário a concluir que o problema não está nas questões de evasão e aprovação, mas em fazer os estudantes do EM aprenderem os conteúdos cobrados no Saeb e na Prova Brasil, avaliações que servem de base ao índice e que envolvem testes de português e matemática a amostras de alunos das redes pública e privada do país.

– Eles foram mal na prova e isso mostra que é preciso fazer uma mudança geral no currículo do Ensino Médio. É uma idade difícil, em que o estudante já pensa na sua formação profissional, ele quer um ensino com utilidade prática – diz Alcoba, que deve se reunir hoje às 10h com as equipes da Seduc para avaliar os dados.

Em 2012, no governo Tarso Genro (PT), a Seduc implantou um projeto batizado de Ensino Médio Politécnico, em que se pretendia usar o mundo do trabalho como eixo para o ensino das disciplinas tradicionais. Os estudantes dedicariam parte do período na escola a pesquisas em eixos temáticos. Com a mudança na administração, a proposta foi mantida, assim como as controvérsias da época em que foi lançada. Tudo porque, segundo informações da Seduc, da forma como foi implantada, a proposta acarretou prejuízos, principalmente de tempo, ao ensino de matérias cobradas no Enem.

Coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara enfatiza as matizes regionais das deficiências do EM que precisam ser enfrentadas mas ressalta que, do Oiapoque ao Chuí, o sistema de ensino não têm conseguido se tornar atrativo aos jovens porque precisa melhorar o trabalho pedagógico na escola. Para isso, aponta algumas premissas, entre elas, ouvir os alunos e valorizar os professores:

– A gestão da Educação no RS não é prioridade real, não se tem um bom projeto. Uma boa política de educação só é bem-sucedida quando os educadores estão à frente da tomada de decisões.

*Colaborou Mariana Fritsch

Escolas privadas reclamam transparência

O recado de Daniel Cara pode dar a impressão de que o desempenho abaixo das metas é um desconforto apenas para a escola pública. No entanto, o Ideb também revelou que as instituições privadas de ensino, mesmo com infraestrutura mais adequada e com alunos de melhor repertório cultural, não alcançaram os objetivos definidos pelo indicador. No Rio Grande do Sul, essas escolas registraram em 2015 o mesmo índice de 2013, 5,7, diante de meta de 6,5 para o Ensino Médio. Assim como as públicas, obtiveram um desempenho melhor no Ensino Fundamental, batendo a meta nos anos iniciais (4º e 5º anos).

O presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS), Bruno Eizerik, pondera que o Ideb avalia uma amostra de estudantes e não todos os matriculados e que não há clareza na forma como é formulado o objetivo a ser alcançado.

– Realmente, ainda não avaliamos os dados a fundo. Queremos saber quais escolas foram avaliadas, se são as mesmas de 2013. Estamos abaixo de uma meta que não criamos e em uma amostra que não conhecemos, então, fica difícil avaliar – critica Eizerik.

Olavo Nogueira Filho, gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação (TPE), entende que os resultados das particulares no Ideb nada mais são do que uma prova de que é ilusória a superioridade do ensino privado em relação ao público. Além de uma reestruturação curricular no Ensino Médio, algo já em discussão no Congresso Nacional, o problema envolve uma questão que bate à porta de todas as escolas, independentemente da rede: formação de professores.

– A estrutura (de formação e aperfeiçoamento) oferecida aos nossos professores deixa muito a desejar. E não é achismo. Em uma pesquisa nacional, 75% dos professores informaram que não se sentem preparados para formar seus alunos.

Metas não batidas no Ensino Fundamental

No cenário gaúcho, Nogueira ressalta que os índices do Ensino Médio merecem, sim, extrema atenção, mas reforçou que no Ensino Fundamental também há muito a ser feito, especialmente nos anos finais (8º e 9º), em que as metas não são batidas e os resultados respingam diretamente no Ensino Médio. Considerando a condição socioeconômica do Estado, que não figura entre os mais pobres do país, Nogueira resume como esses índices devem ser encarados:

– São mesmo para levantar um grande alarme.

Além de crise na segurança, vivemos crise na educação

Quando o Ministério da Educação criou o Ideb, em 2007, foram traçadas metas para que o país chegasse em 2022, ano do bicentenário da Independência, com mesma qualidade educacional dos países ricos. Mas os dados da principal avaliação da educação básica mostram que o Rio Grande do Sul está longe de avançar.

O grande problema está no Ensino Médio. Os alunos saem do 3º ano sem saber noções básicas de matemática e português. Isso quando chegam a concluir essa etapa. Dados do Censo Escolar mostram que são mais de 170 mil crianças fora da escola no Estado.

Que condições têm de entrar no mercado de trabalho jovens que sequer sabem fazer contas simples? Ou que não conseguem escrever algumas linhas concatenadas durante uma seleção de emprego?

Os desafios são imensos, principalmente na rede estadual. O Ensino Médio Politécnico, implementado a partir de 2012 para promover uma mudança estrutural na forma de ensinar para os jovens, ainda não trouxe os resultados esperados. Mas a resposta para o desastre não está apenas no modelo pedagógico. São vários os fatores, a começar pelos salários baixos dos educadores.

Recentemente, foi montado um plano para reverter a crise na segurança pública. Policiais foram nomeados, concursos foram autorizados, a Força Nacional começou a atuar. Já passou da hora de montar um gabinete de crise pela educação também. Planejar um Ensino Médio com carga horária maior, com professores qualificados para cada disciplina, com escolas equipadas de laboratórios e espaços para atividade física.

A violência que vivenciamos na rua tem relação direta com a educação, ou falta dela, no nosso caso. Um levantamento do Diário Gaúcho mostrou na semana passada que cada vez mais adolescentes estão envolvidos em latrocínios em Porto Alegre. São jovens que estão fora da escola. Vamos trazê-los de volta?

BRUNA PORCIÚNCULA

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