03 de setembro de 2016 | N° 18625
DAVID COIMBRA
A Lei do Zagueiro
Há um supermercado de opiniões a sua disposição. Há opiniões grandes e pequenas, coloridas e cinzentas, opiniões doces e amargas. Pode escolher. E o melhor: em geral, as opiniões são gratuitas. As pessoas, mais do que querer, ficam ansiosas por distribuí-las.
É assim que é: um quilo de fatos para uma tonelada de palavras. Algumas verdades, no entanto, são irrecorríveis. A realidade não se comove com o que achamos justo. Isso me faz lembrar de um velho filósofo da bola, dom Elias Figueroa. Depois de um daqueles Gre-Nais dos anos 1970, em que o Grêmio jogou muito melhor, mas o Inter venceu, Figueroa ensinou:
– Vitórias não se merecem; se conquistam.
A realidade é adepta a essa sabedoria dos grandes zagueiros centrais. As coisas simplesmente são, e pronto. Não adianta tecer considerações.
No caso do Brasil de hoje, a realidade quebra o nariz do centroavante a cotovelaço. A realidade é matemática: o PIB brasileiro teve a maior queda entre todos os países do mundo, 12 milhões de trabalhadores estão desempregados e a renda per capita caiu 22% durante o governo Dilma.
São fatos. Não adianta deblaterar contra eles. É preciso trabalhar para que mudem. E, para mudar, é indispensável a estabilidade. Não há nada de que o Brasil necessite mais, hoje, do que estabilidade.
O problema é que estabilidade é coisa de adulto. Nós não somos adultos. Somos birrentos, mimados e cheios de vontades. Estamos sempre achando que o mundo nos deve, que merecemos algo melhor. Sempre nos esquecemos da Lei do Zagueiro: não adianta merecer, é preciso trabalhar para conquistar.
O que nos ensinam os estromatólitos
O que é realmente importante?
É óbvio. Qualquer um sabe. São os estromatólitos groenlandeses.
Só posso lamentar, se você não sabe o que são os estromatólitos groenlandeses, porque, se não fosse por eles, você não estaria lendo este texto, neste momento. Você nem existiria, se não fossem os estromatólitos groenlandeses. E, o mais grave, nem eu.
Os estromatólitos, sejam eles groenlandeses ou de qualquer outra nacionalidade, são rochas vivas. Na verdade, foram as primeiras coisas vivas da Terra.
O que aconteceu foi o seguinte: há bilhões de anos, uma sopa química escaldante cobria toda a superfície do planeta. Então, por algum motivo, certas mínimas bactérias começaram a se alimentar de hidrogênio, que existe em abundância na água. Os, digamos, excrementos que essas bactérias liberavam eram compostos de oxigênio. Durante 2 bilhões de anos, elas ficaram fazendo isso e, por fazerem isso, encheram o ar de oxigênio, e assim nós podemos sair por aí, respirando, que é algo que nós fazemos muito bem.
Essas bactérias gostavam da companhia umas das outras, eram bactérias sociáveis. Mas, em vez de se encontrarem em bares para tomar chopes cremosos, elas se reuniram em estruturas parecidas com pedras, que são os estromatólitos. Os cientistas, estudando os estromatólitos, conseguem calcular a idade da vida na Terra.
É aí que chegamos à notícia que nos interessa: os cientistas achavam que os estromatólitos tinham 3,5 bilhões de anos. Agora, na Groenlândia, eles descobriram estromatólitos cerca de 220 milhões de anos mais velhos, de um tempo tão inóspito, tão hostil, que é chamado de Hadeano, que deriva de Hades, o deus dos mortos.
Hades era horrível. Mais conhecido como Plutão, tratava-se de um deus taciturno e quase nunca invocado, porque os homens o temiam. Um cão de três cabeças chamado Cérbero vigiava o seu mundo subterrâneo, de onde ele pouco saía, mas para onde todos acabavam indo.
Imagine um mundo dominado por Hades. Era o que era a Terra dos estromatólitos groenlandeses.
E o que você tem a ver com isso? Tudo.
Porque, se os estromatólitos existiam naquele ambiente, significa que a vida não é tão difícil como se pensava. É possível, talvez provável, que haja vida em outros lugares do universo. Os estromatólitos provam que isso de vida não é nada complicado.
Não somos tão especiais, é o que os cientistas descobriram. Portanto, não seja tão exibido, não seja tão chato, não perca tanto tempo brigando no Facebook se indispondo com os amigos. Viva a sua quota bem e feliz. Porque é muito fácil fazer outros como você.
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