28 de setembro de 2016 | N° 18646
DAVID COIMBRA
Será Humberto, Roberto ou Florisberto?
O Roys gostava de botar apelido nos outros. Foi ele quem apelidou o Jorge de Barnabé, por causa de um detetive de seriado chamado Barnaby Jones.
O Luiz Carlos era baixinho e gordinho. Virou Barril.
Já o Henrique tornou-se para sempre Diana, porque tinha uma cachorrinha com esse nome.
O Zoreia acho que também foi o Roys quem apelidou, porque ele vivia usando uma camisa estampada com o desenho do Topo Gigio, aquele ratinho italiano de orelhas enormes.
Mas, como o Roys era bem magrinho, algum gaiato começou a chamá-lo de Languiça, e ele ficou furioso. Bastava a gente gritar “e aí, Languiça!” e o Roys pedia briga. Um erro. Como inventor de apelidos, o Roys devia saber que o apelido pega, mesmo, quando o cara se importa.
Já contei do Meia Longa, não é? Meia Longa era personagem de propaganda de caderneta de poupança. Aparecia um coelho e tocava a música:
“Eeeeu sou o Meia Longa, coelho muito sabido, amigo das crianças, o multiplicadooor...”.
Bem. Por algum motivo, apelidamos um baita negão, nosso vizinho, de Meia Longa. Nunca vi ninguém ficar tão brabo por causa de um apelido. Ele morava no térreo, a janela da sala dando para a rua. Nós íamos ali para a frente e cantávamos, em coro: “Eeeeeeeu sou o Meia Longa, coelho muito sabido...”. Em um segundo, ele abria a porta e saía correndo atrás de nós. Gritava que ia nos matar e acho que mataria mesmo, se nos alcançasse. Era muito engraçado.
O Plisnou, você deve saber, é um aportuguesamento de please no, “por favor, não”. A origem do apelido é uma piada horrível que o Jorge Barnabé contava. O Jorge Barnabé não sabe contar piada. Ele conta a Pior Piada do Mundo. Meu Deus, que piada medonha. A Pior Piada do Mundo é tão ruim, que estraga festas e espalha bolinhos. O Barnabé adora contá-la, mesmo que acabe com a noite. Ele disfarça, diz que é outra história e, quando estamos desprevenidos, ataca com a Pior Piada do Mundo. É muito desagradável.
A do Plisnou também é terrível, mas não tanto.
Hoje em dia, os brasileiros pouco colam apelidos uns nos outros. Estamos mais sérios. No futebol, por exemplo, os jogadores agora são chamados por nome e sobrenome. É uma das causas da decadência do futebol brasileiro. Perdemos a manha, entende? Atacante bom é atacante com apelido: Pelé, Garrincha, Didi, Vavá, Zico, Tostão, Zizinho, Palhinha, Fumanchu, Lula, Babá são muito melhores do que esses sujeitos com nome de contador: Alan Cardoso, Rodrigo Souza...
Mesmo zagueiros são melhores com apelido. No Próspera, de Criciúma, o becão Nivaldo era chamado de Churrasco devido ao que fazia com os atacantes.
Mas os dirigentes não gostam de apelidos. Uma vez, o Criciúma contratou o centroavante Cláudio Batata, do Inter. Antes de o jogador chegar, o vice de futebol do clube nos chamou, aos repórteres, e pediu:
– Não chamem o cara de Batata. Chamem de Cláudio. Por favor...
Tudo bem, decidimos acatar. Aí, olhei para o pátio do estádio e vi aquele tipo chegando. Era um alemãozinho retaco, o nariz redondo. Parecia uma batata caminhando. Só podia ser ele. Aproximei-me e perguntei:
– Tu és o Cláudio? E ele: – Não. Eu sou o Batata.
Rapaz de personalidade.
Agora, neste tempo de escassos apelidos, fiquei encantado com a criatividade do pessoal do departamento de propinas da Odebrecht. Eles botavam codinomes nos políticos financiados pela empresa. Palocci era o Italiano. Meio óbvio, talvez. Mas os políticos gaúchos não tinham pseudônimos tão óbvios assim.
Verdade que, nas mensagens interceptadas pela polícia, há um Betão, que provavelmente é Roberto, Humberto ou Florisberto. Mas também há o Legislador, que é imponente demais, deve ser ironia. E consta o Animal, que pode ser elogio ou xingamento. E ainda os misteriosos Três e Zambão.
Quem serão eles? Faça o seu palpite.
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