terça-feira, 13 de setembro de 2016


13 de setembro de 2016 | N° 18633 
CARPINEJAR

Selfie da voz


Bem sabemos que a mulher é vaidosa da imagem. Não aceita postar uma fotografia sem ampliar o rosto e verificar minuciosamente os detalhes da pele. Não se reduz à epiderme, ultrapassa a derme e avalia o estado de sua hipoderme na foto. Mulher transforma o celular em microscópio.

Sempre tem um lado mais fotogênico, sempre reclama do cabelo, sempre protesta por um problema imaginário. Ou está cansada ou não conseguiu se maquiar ou a luz não favoreceu ou o vento atrapalhou.

Uma foto não autorizada é motivo de longas discussões de relacionamento. Não tente surpreender o seu amor com um ângulo inesperado. Não busque publicar algo que não recebeu o ok. Foto para o público feminino não é amigo secreto, mas inimigo secreto.

Mesmo depois de aprovadas, as postagens experimentam uma quarentena, podendo ser deletadas a qualquer momento. Não tenho certeza se as fotos excluídas das redes na separação são fruto de um ódio do ex ou de um perfeccionismo permanente.

Nenhuma amiga em sã consciência realizará pose acordando, ainda na cama, com a cara amassada do travesseiro. O habitual é começar as selfies depois de escovar os dentes. Depois do banho. Depois de almoçar.

O que eu não tinha reparado antes é que a mulher é absolutamente vaidosa da voz. Estranhei quando a minha esposa despachou um áudio no WhatsApp e reprisou em seguida. Ela escutava a sua própria voz. Como se o recado que enviou para outra pessoa fosse para ela mesma. Ela conversava com as suas amigas e também exercia um monólogo.

Na hora em que mando um áudio, eu esqueço. Áudio é quando estou apressado. Escuto somente as respostas e vou seguindo em frente. Não tenho nenhuma curiosidade com a minha performance. Não é um teste de locutor. Não me preocupo com a rouquidão e a gripe. Até porque depois que remeto um áudio não há como recuperar e apagar. Relaxo se gaguejei, se tropecei, se falei com a língua presa, se pronunciei uma expressão estrangeira errada, se cometi uma gafe, se errei um nome. O que foi, foi – não sofro com os rascunhos do timbre.

Já para a mulher, áudio é também selfie. Olha para o espelho da fala. Vê se ficou bonita. Vê se está afinada. Ajeita o vestido das palavras. Ela faz selfie da voz.

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