sexta-feira, 9 de setembro de 2016


09 de setembro de 2016 | N° 18630 
NÍLSON SOUZA

A SANTA DAS SARJETAS


Acompanhei com atenção o noticiário sobre a canonização de Madre Teresa de Calcutá, elevada à condição de santa pelo papa Francisco, no último domingo. A freira albanesa, que nasceu na Macedônia, é uma das personagens mais impressionantes da história do próprio catolicismo, tanto pela vida dedicada aos pobres e doentes quanto por ter expressado, com sinceridade e mais de uma vez, suas dúvidas sobre a própria fé em Deus. “Se não houver Deus – não pode haver alma – se não houver alma, então, Jesus – Você também não é real” – escreveu durante o período que seus biógrafos classificam de crise espiritual.

A Santa das Sarjetas, como ficou conhecida por sua dedicação aos miseráveis da Índia, teve hesitações e nem sempre foi movida pela fé inquebrantável das almas determinadas. Ainda assim, edificou um templo verdadeiramente universal – a Congregação Missionárias da Caridade, que conta atualmente com 758 centros de atendimento em 139 países, dando atenção, acolhida e cuidados às populações carentes, crianças abandonadas, idosos doentes e mulheres maltratadas. Mesmo quando duvidava de Deus, Madre Teresa continuava acreditando no ser humano e no seu poder de melhorar a vida de seus semelhantes.

– Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz – pregava.

Apesar de ter sido reconhecida em vida pelo Prêmio Nobel da Paz, em 1979, não deixou de ser alvo de controvérsias. Suas posições sobre controle da natalidade e aborto suscitaram pesadas críticas e desconfianças sobre os reais objetivos de sua organização, que se resumiriam, de acordo com os críticos, em converter pessoas à beira da morte para o catolicismo. O jornalista inglês Christopher Hitchens chegou a escrever um artigo qualificando-a de “Demônio de Calcutá”.

Mas ninguém ousaria questionar sua dedicação pessoal aos enfermos e moribundos. Ela passou a vida trabalhando pelos necessitados, sem esperar compensações ou agradecimentos. Tinha o que o papa Francisco definiu, com inteligência, de fé operativa – uma vontade férrea de ajudar, de fazer, de transformar, de deixar o próximo melhor e mais feliz.

Mais do que santa, humana.

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