10 de setembro de 2016 | N° 18631
LYA LUFT
A filha pródiga
Em maio de 2004, mais de um ano depois de começar a coluna que mantive aqui na Zero Hora – acho que na mesma página 3 –, escrevi uma despedida. Ia sair para o grande mundo, coração pesado porque queria ir mas queria ficar, ou levar comigo tudo: o jornal, os colegas, os leitores. Porém, a vida nem sempre nos permite essas escolhas totais, e o convite era, como disse com muita elegância Jayme Sirotsky, irrecusável. Ele aliás acrescentou, com aquele humor de quem fala de um amigo, “eu sabia que o Civita ia te roubar da gente”.
Por 12 anos, escrevi na Veja. Porém, toda relação acaba, pela morte ou pela separação. Foi um divórcio amigável. Mas sempre é ruim. Entre outras coisas, senti falta disso que fiz desde muito jovem, com idas e vindas: escrever uma coluna em revista ou jornal. Foi então que chegou um e-mail da Cláudia Laitano, com recados de Marta Gleich. No começo, como em geral faço, não acreditei muito. Mas, sim, reafirmou a Cláudia, me queriam, me convocavam, coluna semanal na Zero. Só acreditei mesmo quando, uma semana depois, a própria Marta me ligou, “vamos combinar tua vinda para acertar pessoalmente”.
Até ali, só o marido sabia, esse que sempre me estimula. Então, comuniquei à família. Filhos aplaudiram: “Nota 10, mãe”, “Que legal, mãe, eu sabia” e “Mãe, estás voltando para casa”. A turma adolescente se animou, o rapaz me abraçou, e as meninas me olharam como se vissem a Beyoncé: “Que irado, vó!! Como tu conseguiste isso?”. Baixei uns olhos modestos: “Quando a gente envelhece, vai conseguindo umas coisas...”.
De modo que voltei para esta casa, onde estou em grandes companhias, como o querido Verissimo, Martha, Cláudia, David, Rosane e outros, e ao lado do Tulio Milman – que já me chama de “vizinha”. Sentir que se pertence a um grupo onde reinam respeito e amizade é ótimo, sobretudo para um bicho da sua toca, como esta que aqui escreve. Ah, e não vou ter de escrever sobre política!!!!!! Maravilha, pois, do jeito que as coisas estão, até eu ando sem palavras – o que é raro. Vamos falar desta complicada e fascinante criatura a que chamamos “gente”. Compromisso mesmo é não decepcionar.
Espero que gostem de mim, que me elogiem, me critiquem, me xinguem, façam sugestões – como se faz nas boas famílias. Para mim, escrever é falar ao pé do ouvido do leitor, amigo imaginário da minha vida adulta. Em criança, tive uma família inteira deles, diminutos, sentados no peitoril da janela do meu quarto, onde tínhamos grandes e animadas conversas. Talvez fossem duendes, sempre de roupa e gorrinho verde pontudo. Não lembro do que falávamos, mas eram ótimos, aqueles meus amigos inventados.
Termino esta primeira coluna citando mais ou menos o que escrevi naquela despedida 12 anos atrás, que a Marta Gleich (a quem agora chamo “the boss”) já em parte revelou: o “nunca diga nunca” é muito real. Talvez eu volte. Nunca se sabe o que pode acontecer. Pois aconteceu. Um novo ciclo se inicia, como tantas vezes em tantas coisas da vida. E tranquilizem-se, meus novos amigos, imaginários ou não: vocês não vão precisar usar gorrinho verde.
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