quarta-feira, 28 de outubro de 2015



28 de outubro de 2015 | N° 18338 
MOISÉS MENDES

Machistas e fascistas


Por que, além de Bolsonaro e Feliciano, ainda há tantos homens com medo das mulheres? Que incômodo os mobiliza contra uma frase com mais de 60 anos? A frase, de Simone de Beauvoir, que apareceu no Enem é esta: ninguém nasce mulher, torna-se mulher.

Temem a frase e temem o tema da redação do Enem sobre a violência contra as mulheres. Que insegurança os atormenta?

Devem ser os mesmos que repetem de vez em quando, mesmo que nem sempre em voz alta: eu tenho o direito de ser machista. Vi essa frase várias vezes em alguns textos do livro que estou lendo: Como Conversar com um Fascista – Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro, de Marcia Tiburi (Record, 194 páginas).

Quem se surpreendeu com as reações à frase de Simone e ao tema da redação pode encontrar reflexão corajosa no livro da professora de filosofia que não faz volteios para abordar todo tipo de preconceito, linchamento, violência e ódio.

O livro faz uma lista de fascistas. E lá está o machista, o declarado ou o dissimulado. O violento, do tapa, do estupro, dos tiros e das facadas – quantas vezes em nome da “honra”?

O metido a espirituoso, debochado, insistentemente sarcástico, mesmo que tudo isso seja redundante. O machista aparentemente sábio, que tenta desqualificar a frase de Simone com certa empáfia.

Não, não estamos falando da brincadeira eventual que fica no limite da grosseria, mas dos atos do machista doentio definido por Marcia como um narciso infantilizado e emburrecido pela sequela de alguma rejeição.

O machista idiotizado mobiliza redes sociais, arregimenta aliados, como os que seguem Bolsonaro e Feliciano, e – escreve ela – grita no Facebook como um histérico, porque as mulheres são o seu tormento.

O machista é um sádico em alguns casos protegido por falsas sutilezas. Como a tentativa de depreciação, sob argumentos falsamente sofisticados, de qualquer ponto de vista que possa ser definido por ele como feminista.

O machista pensador junta argumentos em almanaques para desqualificar qualquer gesto, como os dos formuladores do exame do Enem, que amplifique o medo que sente das mulheres. O antifeminismo precário é apenas o pretexto. O que ele teme mesmo são as mulheres.

Dos outros ódios de linchadores, racistas e fascistas presentes no livro não vou falar. A lista é grande. E é claro que ninguém nasce fascista.

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