sábado, 10 de outubro de 2015



10 de outubro de 2015 | N° 18320 
DAVID COIMBRA

Não faça isso em casa nem no governo


Às vezes, Isaac Newton acordava pela manhã, abria os olhos e, em meio ao movimento empreendido para sair da posição de deitado e sentar-se no colchão, ocorria-lhe uma ideia. Aquilo, seja o que fosse, parecia-lhe tão interessante, que ele permanecia sentado na cama por horas, cismando, esquecendo-se de escovar os dentes, de tomar o café, de lavar o rosto, de ler a edição do dia da Zero, esquecendo-se da vida, enfim.

Newton era um homem estranho. Vou contar uma experiência que ele fez, certa feita, mas com uma condição: ninguém vai sequer cogitar fazer algo remotamente semelhante em casa. Por favor! Só de pensar em contar isso, já me dá certo mal-estar...

É o seguinte: um dia, Newton concluiu que havia um espaço na órbita ocular entre o olho e o osso e, para provar que estava certo... enfiou uma agulha ali! Ele fez isso, cara! Por pura sorte, não aconteceu nada, mas, se você for imbecil ao ponto de tentar fazer o mesmo, vai furar o seu olho.

Bom. O que ele demonstrou, com essa experiência?

Que gênios podem ser estúpidos.

E, sim, Newton era um gênio. Suas leis da física são leis do mundo. São leis da vida. A Lei da Inércia, por exemplo, diz tudo sobre nós. Porque nós temos a tendência de permanecer como estamos. Se estamos parados, nossa tendência é continuar parados. Se estamos em determinado movimento, permaneceremos nesse movimento, em linha reta, constantemente, até que uma força nos impeça de seguir ou nos impulsione para frente ou para os lados. 

E essa mudança, qualquer mudança, na verdade, será uma violência. É por isso que nos inquietamos com mudanças, mesmo que sejam para melhor. A mudança nos assusta, porque nos tira do nosso natural e confortável estado de inércia.

Há aquela famosa anedota da maçã, que teria caído na cabeça de Newton enquanto ele dormia debaixo de uma árvore, fazendo com que, a partir daí, desenvolvesse a Lei da Gravidade. É uma história em parte verdadeira. Newton não dormia sob a macieira; passeava perto dela, viu a maçã cair e pensou: se as coisas têm a tendência de permanecer como estão, que força fez com que a maçã se desprendesse do galho e se jogasse ao solo? Foi então que Newton percebeu que algo na terra atraía a maçã. E é assim que é. Os corpos se atraem.

Lindo.

Há muitas outras provas da genialidade de Newton, e outras tantas da sua eventual tolice. Por exemplo: ele era alquimista. Passou boa parte da vida tentando transformar metais vis em ouro.

Foi nisso que pensei, na alquimia e em Newton, quando li, dias atrás, uma nota do PC do B saudando os 70 anos do PTC, o Partido do Trabalho da Coreia do Norte. Os comunistas brasileiros unidos aos comunistas norte-coreanos.

Como se explica alguém apoiar a Coreia do Norte e ser comunista em 2015? Explica-se com Newton, que não era burro, mas era alquimista. E a alquimia é igual ao comunismo: uma ótima ideia, que não funciona.

Isso me comove. Saber que existem pessoas tão sonhadoras, tão idealistas, a ponto de acreditar nessas fantasias. Assim como os comunistas brasileiros saudaram os coreanos, saúdo a beleza dessa ingenuidade. Antes um comunista autêntico, mas inofensivo, do que um populista com discurso socialista e prática arrivista, como os que se refocilam no governo brasileiro há quase década e meia. Esses, quando chegam ao poder, a população é que acaba de olho furado.

Nenhum comentário: