sábado, 17 de outubro de 2015



17 de outubro de 2015 | N° 18327 
NÍLSON SOUZA

BATATA ESPACIAL


Estive em Marte nesta semana e o que mais me impressionou do filme de Ridley Scott foi a plantação de batatas feita pelo astronauta Mark Watney para garantir a sua sobrevivência como náufrago espacial. Sempre ouvi dizer que as batatas já salvaram a humanidade da fome em certa época da História, acho que lá pela Idade Média, mas cultivar o tubérculo num planeta de solo arenoso exigiu muita engenhosidade do personagem e do autor do livro que deu origem ao filme. Ainda assim, ficou bem mais crível do que outras cenas espetaculosas destinadas a arrancar emoções da plateia.

São fascinantes as aventuras humanas por mundos novos, sejam eles os continentes desconhecidos que atraíram nossos antepassados europeus ou o sistema solar que começamos a invadir na década de 60 do século passado. 

Os navegadores marítimos da época dos descobrimentos e os astronautas da era espacial têm muitos pontos em comum, mas um deles fica evidente: como se alimentar durante a viagem. Como cada vez vamos mais longe e permanecemos mais tempo nas terras conquistadas – às vezes para sempre –, não basta estocar comida para a travessia. É preciso produzi-la.

A tecnologia abriu as portas dessa aventura imparável de buscar “o infinito e além”, como diz um personagem de história infantil. Do astrolábio ao reator nuclear, equipamentos inventados pelo homem permitiram e facilitaram a ousadia da partida, aumentando a precisão e a segurança das viagens. Em consequência, percorrem-se distâncias maiores em tempos menores – mas pílulas e enlatados continuam sendo insuficientes para saciar a necessidade alimentar dos viajantes.

Pelo menos é o que se deduz dos apuros passados pelo personagem interpretado por Matt Damon para não passar fome. Um dos momentos mais encantadores do filme Perdido em Marte é a alegria colegial do cientista ao perceber que uma das batatas plantadas na sua horta improvisada estava brotando.

Mesmo em tempos de avanços científicos assombrosos, um broto de planta é sempre um milagre da natureza.

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