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sexta-feira, 9 de outubro de 2015
09 de outubro de 2015 | N° 18319
MOISÉS MENDES
Silêncio técnico
Cinco funcionários do Ipea deram no ano passado um exemplo que servidores do TCU poderiam seguir. O Ipea é o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, mantido pelo governo. Os servidores enfrentaram as chefias ao se queixarem de que a instituição para a qual trabalham havia sido desrespeitada.
Em março de 2014, o Ipea fez um congresso internacional no Rio. Alguém teve a ideia de levar sambistas negras de fio-dental, que rebolavam em meio aos estrangeiros. Os visitantes se envergonharam.
Os servidores emitiram uma nota. Por que levar as mulheres quase nuas a um evento que debatia economia e não turismo ou Carnaval? Que imagem do Brasil o Ipea tentava reforçar? Os funcionários concluíram que um instituto do governo alinhava-se aos que tratam mulheres negras como corpos disponíveis a estrangeiros que vêm aqui tentar entender o país.
Pode ter sido um exagero dos indignados, mas a carta teve a adesão de dezenas de servidores. O que incomodava era a insensibilidade do Ipea ao reafirmar caricaturas e tentar estabelecer estranhos vínculos entre sensualidade e debate econômico.
Alguns podem achar que houve gritaria demais. Outros podem achar que agora, no caso das manobras da Câmara com pareceres do Tribunal de Contas da União, houve gritaria de menos.
O TCU submeteu seu trabalho a uma farsa. Pareceres de duas décadas atrás foram aprovados em agosto em poucos minutos, para que só assim as contas de Dilma pudessem ser votadas. Eram contabilidades de Itamar, FH, Lula. E ainda faltam 12 processos.
Os técnicos do TCU se dedicaram durante anos a analisar pedaladas (que antes eram “leves”) para orientar os ministros. E viram a Câmara fingir que votava todos os pareceres ao mesmo tempo, porque era preciso desobstruir a pauta para a articulação do golpe contra Dilma.
Enquanto se abria a porteira para o projeto golpista, esperei que os técnicos do TCU se rebelassem contra a farsa e saíssem em defesa do próprio trabalho e da instituição que os paga pela vigilância das contas públicas. Nada. Só a obediência silenciosa. Dos ministros, nem falo, porque na quarta-feira eles nem abriram a boca.
Será que, ao contrário dos servidores do Ipea, os servidores do TCU temem hierarquias e represálias? Ou estaremos todos resignados com a subserviência do trabalho dito técnico ao que há de pior na política?
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