Três histórias sobre o pecado
O jovem disse ao abade do mosteiro: “Bem que eu gostaria de ser um monge, mas nada aprendi de importante na vida. Tudo que meu pai me ensinou foi jogar xadrez, que não serve para iluminação. Além do mais, aprendi que qualquer jogo é um pecado”.
“Pode ser um pecado mas também pode ser uma diversão, e quem sabe este mosteiro não está precisando um pouco de ambos”, foi a resposta.
O abade pediu um tabuleiro de xadrez, chamou um monge, e mandou-o jogar com o rapaz. Mas antes da partida começar, acrescentou: “Embora precisemos de diversão, não podemos permitir que todo mundo fique jogando xadrez. Então, teremos apenas o melhor dos jogadores aqui; se nosso monge perder, ele sairá do mosteiro, e abrirá uma vaga para você”.
O abade falava sério. O rapaz sentiu que jogava por sua vida, e suou frio; o tabuleiro tornou-se o centro do mundo. O monge começou a perder. O rapaz atacou, mas então viu o olhar de santidade do outro. A partir deste momento, começou a jogar errado de propósito. Afinal de contas preferia perder, porque o monge podia ser mais útil ao mundo.
De repente, o abade jogou o tabuleiro no chão. “Você aprendeu muito mais do que lhe ensinaram”, disse. “Concentrou-se o suficiente para vencer, foi capaz de lutar pelo que desejava. Em seguida, teve compaixão e disposição para sacrificar-se em nome de uma nobre causa. Seja bem-vindo ao mosteiro, porque sabe equilibrar disciplina com misericórdia.”
O lugar dos pecadores
O rabino Wolf entrou por acaso em um bar. Algumas pessoas bebiam, outras jogavam cartas, e o ambiente parecia carregado. O rabino saiu sem comentar nada; um jovem veio atrás dele.
“Sei que não gostou do que viu”, disse o rapaz. “Ali só vivem os pecadores.”
“Gostei do que vi”, disse Wolf. “São homens que estão aprendendo a perder tudo. Quando tiverem mais nada de material neste mundo, só lhes sobrará voltar-se para Deus. E, a partir deste momento, que servos excelentes serão!”
Amigo do escritor francês Marcel Proust, o abade Arthur Mugnier foi responsável pela conversão ao catolicismo de muitos famosos artistas do seu tempo. Mesmo vivendo numa época moralista, Mugnier procurava lembrar a todos que a ideia central de Cristo é a alegria da redenção, e não as torturas da culpa.
Certa vez, o abade foi abordado por uma de suas paroquianas, que – embora já tivesse 75 anos – estava preocupadíssima com os pecados da carne. “Caro abade”, disse ela, “de vez em quando me surpreendo olhando meu corpo nu no espelho. Isso é um pecado?” E a resposta do abade veio rápida: “Não, madame: isso é um equívoco”.
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