sexta-feira, 16 de outubro de 2015



16 de outubro de 2015 | N° 18326
CAPITAL NO LIMITE

ATÉ QUANDO A CIDADE SUPORTA?

PORTO ALEGRE está há mais de uma semana submetida a intempéries, e os temporais dos últimos dias expuseram problemas de infraestrutura
O mau tempo das últimas semanas no Estado, que culminou em um temporal de ventos superiores a 100 km/h e chuva torrencial entre a noite de quarta e a madrugada de ontem, vem expondo os limites da infraestrutura de Porto Alegre.

A expectativa de chuvaradas na próxima semana reforça a preocupação com a resistência dos sistemas de água, luz, transporte e drenagem da Capital – que entraram em pane em meio à tempestade e estão sujeitos a mais problemas em caso de novos fenômenos climáticos intensos ou duradouros.

Segundo a meteorologia, pode haver temporais entre a próxima terça e quarta-feira no Estado. A previsão indica possibilidade de 40 a 60 milímetros de chuva para Porto Alegre – volume semelhante aos 44 milímetros registrados pela estação convencional do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) entre quarta-feira e ontem. E, na semana seguinte, há risco de mais chuvaradas.

– O potencial para alagamentos segue elevado – avisa a meteorologista da Climatempo Bianca Lobo.

Para milhares de moradores, a pergunta a ser feita a especialistas e autoridades poderia ser por quanto tempo a cidade consegue resistir sem entrar em colapso? Na verdade, a duração das chuvas é apenas parte do problema. Uma precipitação constante, mas suave, sem ventania, não sobrecarrega a drenagem urbana ou as redes de abastecimento. Os problemas começam com pancadas mais intensas e se agravam quando se prolongam por vários dias.

Se a duração do tempo severo se aproxima de uma semana, por exemplo, deixa perto do limite a capacidade dos equipamentos localizados em 19 pontos da cidade de funcionar ininterruptamente para recolher água e lançá-la ao Guaíba. Das 83 bombas existentes na Capital, cerca de uma dezena queimou nos últimos dias, e outras estão sendo desligadas preventivamente, em períodos intercalados, para não pifarem também.

Mas pode bastar uma chuva como a verificada por volta das 23h desta quarta para colocar em xeque os serviços básicos em Porto Alegre. Em apenas uma hora, conforme a estação automática do Inmet, choveu 23 milímetros – o equivalente a 20% do esperado para todo o mês.

– Em razão do fenômeno El Niño, temos verificado justamente uma combinação entre pancadas fortes e chuva prolongada, o que sobrecarrega o nosso sistema – admite o diretor-geral do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Tarso Boelter.

ABASTECIMENTO DE LUZ E ÁGUA EM RISCO

Os problemas se agravam sob condição de temporal. Como a fiação elétrica fica exposta em ruas arborizadas, o vento também é um elemento fundamental na equação que determina a resistência da cidade às intempéries.

Velocidades acima de 70 km/h começam a derrubar galhos maiores e árvores inteiras sobre fios e postes, o que interrompe o fornecimento de energia elétrica por várias horas. Sem eletricidade, bombas localizadas em estações de captação de água param de funcionar, e o abastecimento também entra em pane. A previsão para a próxima semana indica rajadas entre 60 km/h e 80 km/h.

– Os sistemas são projetados para resistir ao vento, mas o nosso problema é a vegetação que cai sobre a rede – afirma o diretor de distribuição do Grupo CEEE, Júlio Elói Hofer.

O polêmico muro da Mauá, que isola o centro de Porto Alegre do Guaíba, também depende da quantidade de chuva, do tempo de precipitação e das condições de vento para ser colocado à prova – o que ainda não ocorreu desde sua construção nos anos 1970. Quando o vento sopra do quadrante sul, por exemplo, contribui para represar o Guaíba e fazer com que se aproxime da cota de três metros a partir da qual a água invadiria o cais.

marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

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