22 de outubro de 2015 | N° 18332
CARLOS GERBASE
NAS UNIVERSIDADES
Os estudantes tomaram a biblioteca e exigem mais verbas para a educação. Afirmam que não saem enquanto não forem atendidos. Na reitoria, um gabinete de crise analisa a situação e debate se deve ou não chamar a polícia para retirar os manifestantes à força. O radicalismo de alguns alunos pode levar a um conflito com as forças da ordem. Numa passeata, cheia de palavras de ordem contra o governo, até o velho coro “o povo, unido, jamais será vencido” ecoou pelas faculdades. A tensão toma conta do campus. Carros de polícia circulam nas ruas próximas. A invasão é iminente.
Você pensa que tudo isso está acontecendo no Brasil, resultado das dificuldades do governo em manter os programas da Pátria Educadora? Você imagina que esse negócio de invadir biblioteca é típico do nosso movimento estudantil, sempre a reboque de interesses político-partidários? Nada disso.
A cena é do documentário At Berkeley, de Frederick Wiseman, que tem sua segunda e última sessão no próximo sábado, 14h30min, no Cine Santander Cultural. São quatro horas de imersão no cotidiano da melhor universidade pública do mundo, fundada em 1868 e que, de lá pra cá, acumula 72 prêmios Nobel obtidos por seus ex-alunos, pesquisadores e professores. Setenta e dois Nobel! E os caras invadiram a biblioteca pedindo melhores condições de ensino!
Wiseman tem regras para fazer seus filmes: nada de entrevistas, nada de narração, nada de opiniões. Ele registra imagens e sons durante um longo tempo e depois edita, procurando dar um sentido aos fatos. Parece simples, mas não é. Professores e alunos de duas universidades gaúchas resolverem seguir as normas de Wiseman e foram à luta.
O resultado poderá ser conferido também no próximo sábado. Os curtas Na UFRGS e Na PUCRS dialogam com a estética de At Berkeley e permitem uma reflexão sobre o que todas as universidades têm em comum: as aulas, as relações humanas, a pesquisa científica, a criação artística e, é claro, os conflitos por melhores condições de ensino. A literatura, o cinema e o teatro estão longe de esgotar todas as possibilidades dramáticas da vida universitária. É preciso prestar atenção ao que acontece nas salas de aula. Nosso futuro está nascendo ali.
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